sexta-feira, 7 de novembro de 2014

HIPERESPLENISMO

Esplenomegalia, Hiperesplenismo e Esplenectomia

INTRODUÇÃO

   A esplenomegalia, também denominada megalosplenia, consiste no aumento do volume do baço (que em grego chama-se splenikós, em latim splenicu), que normalmente pesa 150 g e tem até 11 cm de comprimento em seu maior eixo. A esplenomegalia pode ser causada por diversos motivos.


 


Principais causas de esplenomegalia
Hipertrofia do baço por estímulo a resposta imune devido à infecção, como na endocardite bacteriana subaguda ou na mononucleose
Hipertrofia por aumento na destruição de eritrócitos como na esferocitose hereditária ou talassemia maior
Doença mieloproliferativa
Doença infiltrativa, como a sarcoidose e alguns tipos de câncer
Cânceres como linfoma e leucemia linfocítica crônica
Aumento na pressão venosa, como na cirrose, na esquistossomose, no câncer de pâncreas (que pode levar a trombose da veia esplênica) e na insuficiência cardíaca congestiva
Doenças de depósito, como a doença de Gaucher e a amiloidose
  
 A esplenomegalia normalmente é diagnosticada no exame físico, através de palpação ou percussão, ou através de ultra-sonografia (ecografia). Deve-se diferenciar a esplenomegalia da presença de baço acessório, uma variação anatômica que ocorre em 10 a 30% da população normal e não tem qualquer significado patológico.
   Nesse texto, abordaremos apenas o hiperesplenismo relacionado à doenças do fígado, especificamente o causado pela hipertensão portal.


HIPERESPLENISMO

   O baço é um órgão "esponjoso", repleto de vasos sanguíneos, pois é responsável pela produção, armazenamento, controle ("de qualidade") e destruição de células do sangue. Com o aumento da resistência à passagem do sangue através do fígado (pela cirrose, esquistossomose e outras condições), aumenta a pressão sangüínea dentro do sistema porta hepático (hipertensão portal).


   
Devido à sua característica esponjosa, o aumento na pressão da veia esplênica faz com que o baço "inche". Com isso, o baço "sequestra" e acaba destruindo em um ritmo acelerado todos os tipos de células sangüíneas, levando à condição denominada "hiperesplenismo".

Secção transversa do baço, mostrando a distribuição da artéria esplênica e seus ramos.
   No hiperesplenismo, a anemia (redução das células vermelhas - eritrócitos), a leucopenia (redução nos glóbulos brancos - leucócitos) e a plaquetopenia (redução nas plaquetas) podem estar todas presentes, ou não. Geralmente observa-se uma redução mais acentuada nas plaquetas do que nas demais, mas em parte a plaquetopenia também ocorre por outras condições associadas a hipertensão portal (coagulação intravascular disseminada), destruição por mecanismo imunológico (observada na hepatite C, por exemplo) e por deficiência de ácido fólico.


TRATAMENTO

   Geralmente, não é necessário qualquer tratamento específico na esplenomegalia devido a hipertensão portal. A esplenomegalia dificilmente é dolorosa, a não ser em casos agudos, ou severa como em outras condições como a Doença de Gaucher. O hiperesplenismo geralmente não é tão intenso a ponto de causar sintomas, mas pode ser preocupante em algumas situações, como na plaquetopenia e leucopenia severas causadas pela associação de hiperesplenismo e interferon para o tratamento da hepatite C, por exemplo. Mesmo nessas situações, é mais recomendado reduzir a medicação do que tratar a esplenomegalia.
   Na hipertensão porta causada pela esquistossomose mansônica ou em casos (muito selecionados) de cirrose hepática (com predomínio de hipertensão portal, boa função hepática, sem previsão de necessidade de transplante nos próximos 3 anos e com hemorragias digestivas por varizes esofágicas de difícil controle), uma opção de tratamento é a realização de um shunt ("desvio") da veia porta para a veia cava, sendo que uma das técnicas cirúrgicas mais utilizadas é a cirurgia de Warren (derivação espleno-renal distal com esplenectomia).



   Em situações onde for recomendada a retirada do baço, o mesmo pode ser retirado cirurgicamente com baixo risco (exceto em portadores de doenças graves) por laparotomia (onde é feito uma incisão única maior) ou por laparoscopia (onde são realizados pequenos orifícios e a cirurgia é feita com o auxílio de câmera).
 
CUIDADOS PÓS ESPLENECTOMIA

   Após a retirada do baço, no entanto, alguns cuidados devem ser tomados. A capacidade de defesa do organismo para alguns tipos de microorganismos estará reduzida, com risco de infecções sérias (principalmente por pneumococos, meningococos e H influenzae) até que o organismo consiga recuperar adequadamente o sistema imunológico. Assim, recomenda-se a aplicação (entre 2 semanas antes e 2 semanas após a cirurgia) de vacina polivalente contra pneumococos e vacina conjugada para H influenzae tipo B e meningococo tipo C. A vacina para pneumococos deve ser repetida a cada 5 anos (ou em intervalos menores em portadores de anemia falciforme ou doenças linfoproliferativas).


A infecção grave por pneumococos (acima, em microscopia eletrônica) é uma das principais preocupações após a esplenectomia.
   Para reduzir o risco de infecções, também recomenda-se o uso contínuo de antibióticos em baixas doses (por toda a vida). Como a aderência ao tratamento geralmente é baixa, uma opção, apesar de não ideal, utilizada na prática é a aplicação de penicilina benzatina a cada 3 semanas.

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