terça-feira, 29 de abril de 2014

OMA

Otite media aguda Presentation Transcript

  • 1. Octite Média Aguda ELABORADO POR: CRIZALDO ARMINDA J. BAPTISTA AGOSTO DE 2012
  • 2. Aparelho auricular - Anatomia
  • 3. Aparelho auricular - AnatomiaO aparelho auricular é constituido 3 partes: 1. Ouvido externo 2. Ouvido medio 3. Ouvido interno1. Ouvido externo:  Tem como função auditiva de receber ondas sonorasa) O pavilhão auricular:  Ajuda na captação das ondas sonoras  É constituída essencialmente por placa de cartilagem elástica coberta por uma fina camada de pele.b) O canal auditvo externo : 1. Vai desde a parte mais profunda da concha até a face externa do tímpano. 2. 1/3 externo é cartilagem elástica . 3. 2/3 internos é parte do osso temporal. 4. O canal é revestido por pele rica em pelos e glândulas sebáceas e ceruminosas produtoras de cerúmen.
  • 4. Aparelho auricular - Anatomiac) Membrana timpânica :  É de forma oval  Externamente é coberta por uma delgada camada de pele  Internamente por um epitélio simples.  É a estrutura que transmite as ondas sonoras para os ossículos do ouvido médios.  Inervação timpânica:  Face externa - nervo aurículo temporal ( ramo do NC V3) e  Face interna - nervo glossofaringeo – N. Jacobson.
  • 5. Ouvido médio2. O. médio ou caixa timpânica:  Localiza-se na espessura do osso temporal como uma cavidade que separa o tímpano da superfície óssea do ouvido interno.  Inclui a cavidade timpânica e o recesso epitimpânico (espaço superior ao tímpano).  Em sua porcao anterior se comunica com a laringe pela tuba de Eustaquio ou Auditiva.  NB: A TA encontra-se geralmente fechada mas se abre durante o acto de deglutição, permitindo assim equilibrar a pressão externa com a do ouvido médio.
  • 6. Ouvido medio – Cont.O ouvido médio é limitada por 6 paredes:  Lateral/membranácea: face interna do tímpano e latero- superiormente pela parede óssea lateral do recesso epitimpânico.  Medial/labirintica: separa o ouvido médio do interno e apresenta o Promontório da parte inicial da cóclea ( janelas Oval e Redondas).  Anterior/carótica: separa a cavidade timpânica do canal carótico, superiormente tem abertura da Tuba de Eustáquio e o canal para o músculo tensor do tímpano  Posterior/mastoidea: tem uma abertura que conecta a cavidade timpânica com as células mastóide (atrium mastoideo).  Superior/tegmental: formado pelo tegmen timpânico (lâmina fina de osso que separa a cavidade timpânica da dura-máter).  Inferior/jugular: formada por uma lâmina de osso que separa a cavidade timpânica do bulbo superior da Veia jugular interna (golfo da jugular).
  • 7. Ouvido medio – Cont.A união entre a membrana timpânica e a cóclea faz-se através de uma cadeia de três ossículos articulados formada por Martelo, Bigorna e Estribo que transmitem as vibrações mecânicas geradas no tímpano. O martelo:  Insere-se na membrana timpânica  Tem inserção no seu manúbrio (cabo) o m. Tensor do Timpano  É suprido pelo N. mandibular  Tracciona o manúbrio do martelo medialmente (para dentro) Estribo: – Insere-se na janela oval do vestíbulo – Tem inserção no seu colo o m. Tensor do estribo ou Estapédio  É suprido por um ramo do N. facial  Tracciona o colo do estribo posteriormente ( puxa o estribo para fora)
  • 8. 1. Martello 2. Legamento superiore3.Incudine 4.Legamento posteriore 5.Muscolo Stapedio 6. Staffa 7. Membranatimpanica 8. Tuba di Eustachio 9. MuscoloTensore del Timpano
  • 9. Ouvido Interno3. Ouvido interno/labirinto: Estrutura complexa formada por sacos membranosos cheios de liquido e que se encontram alojados dentro de cavidades na porção pétrea do osso temporal. 2 tipos de labirinto: 1. Labirinto ósseo:  Conjunto de cavidades e canais limitados por tecido ósseo. 2. Labirinto membranoso:  Estruturas membranosas que ocupam parcialmente as cavidades ósseas seguindo geralmente a sua forma. Encontram-se dentro dos labirintos ósseos. O espaço entre os dois labirintos é ocupado por um fluido a perilinfa. O interior dos labirintos membranosos 10é cheio de um liquido a endolinfa.
  • 10. Otite média agudaConceito:: Processo inflamatório do mucoperiósteo que reveste o ouvido médioinflamação da orelha média, independente de etiologia ou patogêneseespecíficas.Classificação:•Otite média aguda: infecção aguda no ouvido médio com início rápido dossinais e sintomas nasais;•Otite média recorrente: três episódios de otite média aguda em seis mesesou quatro episódios em 12 meses;•Otite média secretora: inflamação da orelha média em que há uma colecçãolíquida no seu espaço. Este líquido pode apresentar-se com aspecto seroso,mucoso ou purulento. A membrana timpânica está intacta.•Secreção ou efusão em orelha média: é o líquido resultante da otite médiaou de uma otite média secretora
  • 11. Epidemiologia Mais frequente em crianças  É comum em população de 6 meses a 6 anos: urbana??  Pico de incidência - 6 a  ↑↑ incidência no inverno 11 meses de idade;  No verão quase sempre  Segundo pico – 4 a 6 associado a IVAS. anos  Cerca de 60% das  Até os 2 anos de crianças escolares idade- Bilateral com IVAS evoluem  > 2 anos - com OMA Unilateral Sexo masculino +++
  • 12. Factores de Risco 2.Factores sócio-1. Factores do hospedeiro: ambientais SEXO: masculino  Creches e Berçários RAÇA: brancos, nativos  Fumador passivo americanos e aborígenes  Estação do ano - Inverno australianos  Tempo e posição da amamentação IMATURIDADE e  Chupetas DEFICIÊNCIA  Baixo nivel sócio-económico IMUNOLÓGICA: Deficiências seletivas de IgA ,IgG (em especial IgG2) levam a OMR.
  • 13. Fact. Risco – Cont. Factores Anatômicos:Hipertrofia e infecções de Adenóides Disfunção da tuba Tuba da criança ~ 13 mm Tuba do adulto ~35 mm Fendas palatina e/ou submucosaALERGIA: a relação com OMA é controversaRefluxo Gastro-esofagico
  • 14. Etiologia
  • 15. Etiologia Infecciosa Streptococcus Pneumoniae 20-40% Hem.Influenza 15-30% Moraxella catarralis 10-20%(Vírus 20%)B-lactamase 20% 50% 100%
  • 16. FisiopatogeniaVários factores estão envolvidos na fisiopatogênese das Otites Médias:1) Disfunção da Tuba Auditiva As disfunções tubáricas mais implicadas são a obstrutiva:  A obstrução da TA pode ser a) Funcional e/ou b) Mecânica
  • 17. Fisiopatologia – Cont.a) Funcional: Funcional Resulta de colapso persistente da TA como resultado do aumento da complacência da tuba e/ou mecanismo de abertura anormal da TA. Comum em crianças (suporte cartilaginoso menos desenvolvido que nos adultos). Pode resultar em alta pressão (-) culminando com aspiração da secreção nasofaríngea para o ouvido médio.
  • 18. Fisiopatologia – Cont.• A obstrução funcional persistente pode resultar em otite média com efusão estéril. Ocorre devido a:  Pressão (-),  Hipóxia ou hipercâpnia do ouvido médio, provocando transudato dos capilares da mucosa da OM.
  • 19. Fisiopatologia – Cont.b) Obstrucao Mecânica:  Intrínseca - resultado de geometria anormal ou factores murais e intraluminais que comprometam o lúmen da TA, sendo o mais comum a inflamação de etiologia infecciosa ou alérgica.  Extrínseca - resultado de aumento da pressão extra-mural, como compressão peritubárica secundária a tumor ou adenóide por exemplo.
  • 20. Fisiopat. – Cont.2. Factores imunológicos A mucosa da orelha média = sistema imune secretor da mucosa do restante do trato respiratório . Contem:  Complemento,  Imunoglobulinas (IgA, IgG, IgM, IgD),  Imunocomplexos e mediadores químicos da resposta inflamatória. Tais mediadores químicos, dependendo de predisposição individual e da magnitude da resposta podem causar danos aos tecidos, levando a um aumento da infiltração de leucócitos na mucosa do ouvido médio e prolongando a inflamação.
  • 21. Fisiopat. – Cont.3. AlergiaO papel é controverso. A resposta alérgica no mínimo predispõe o paciente à efusão do ouvido médio, já que causa congestão e obstrução da tuba auditiva.  NB: Muitos pacientes com OMA apresentam concomitante doença respiratória alérgica, como asma ou rinite alérgica.
  • 22. Fisiopat. – Cont.4. Alterações NasossinusaisA principal condição patológica associada a OM em qualquer idade é IVAS.  Na infância.  Hipertrofia adenoideana, Adenoidite e Sinusite podem ser causas mecânicas de bloqueio e de contaminação da tuba auditiva  Em adultos  Um dos factores mecânico mais importante que interfere no funcionamento da tuba são os Tumores da rinofaringe.
  • 23. Fisiopat. – Cont.5. Fatores Externos Intubação nasotraqueal ou sondagem nasogástrica prolongadas podem causar edema da rinofaringe e tuba auditiva, resultando em otite média e sinusite.
  • 24. Manifestação Clínica A OMA ‘e na maioria das vezes auto limitada que, mesmo sem tratamento, tende à cura com a restituição tissular normal do órgão.• Estágios de evoluçãoFase I - Hiperemia: A primeira alteração a ocorrer é a hiperemia da mucosa da tuba, caixa do tímpano e células mastóideas.  A luz da tuba auditiva se oclui, levando a uma alteração pressórica no ouvido médio.  Quando o processo se instala lentamente, o ar da orelha média é absorvido, gerando uma pressão negativa.  Por outro lado, a instalação rápida desta fase submete este ar a um aumento de pressão. NB: Em ambos os casos o paciente refere plenitude auricular e hipoacusia (de condução).
  • 25. Cont. A MT encontra-se hiperemiada, especialmente na periferia, na parte flácida e ao longo do cabo do martelo mas não está espessadanesta fase Pode ocorrer retração e, em certas ocasiões, diminuição do brilho. Pode haver febre e otalgia, nunca intensa nesta fase. Na criança, predomina irritabilidade,  Inapetência,  Rejeição à mamadeira e  Choro continuado.  Uma das manifestações freqüentes é o balançar da cabeça e o levar constante das mãos às orelhas, como que querendo arrancá-las.
  • 26. Fisiopat. – Cont.Fase II - Exsudação:  O aumento da permeabilidade capilar da mucosa leva à formação de um exsudato que, junto com o muco produzido por células globosas da caixa e células caliciformes, formam uma secreção sob pressão.  A MT espessa-se e torna-se abaulada e amarelada, tornando mais marcante a hipoacusia condutiva.  A reabsorção dos produtos inflamatórios pela mucosa da orelha média leva a um quadro toxêmico, com febre geralmente alta, que podem apresentar também vômitos, diarréia.
  • 27. Fisiopat. – Cont.Fase III - Supuração:• Ocorre perfuração da MT, espontaneamente ou por miringotomia, com drenagem copiosa de líquido hemorrágico ou serossanguinolento, que logo torna-se mucopurulento.• A otalgia e febre do estágio de exsudação regridem. NB: A perfuração da MT é sempre na parte tensa, sempre pequena, do tamanho suficiente para permitir a saída da secreção. Geralmente a perfuração timpânica apresenta resolução espontânea.
  • 28. Fisiopat. – Cont.Fase IV - Coalescência:  Entre 1 e 5% dos pacientes não tratados atingem este estágio.  O progressivo espessamento do mucoperiósteo leva a uma obstrução da drenagem da secreção, e o pus sob pressão inicia osteólise adjacente, levando à coalescência das células aéreas da mastóide e formação de cavidades - gênese da mastoidite , que se traduz clinicamente por abaulamento retroauricular.  Nesta fase ocorre febre e otalgia, menos intensa que no estágio de exsudação, geralmente 7 a 10 dias após o início da OMA.
  • 29. Resumindo: História de otalgia súbita Outros sinais: após estado gripal.  Pulsações auriculares A otalgia piora com a sincrônicas com os batimentos deglutição ou o assoar do cardíacos (Sinal de Scheibe)  Equivale a um empiema da caixa nariz. do tímpano. Pode ou nao ocorrer  Por vezes, microperfuração hipoacúsia de condução. pulsátil e a dor diminui à medida Sensação de plenitude que diminui-se a pressão na orelha média após perfuração da auricular. membrana timpânica.
  • 30. DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICOANAMNESE OTOSCOPIA
  • 31. Diagnóstico de OMA Na otoscopia normal, a MT está em posição neutra, é transparente, de cor pérola-acinzentada, podendo ficar hiperemiada com o choro da criança.
  • 32. Diagnóstico – Cont.Na otite média aguda, a MT está:  Hiperemiada,  Opaca,  Abaulada (é o mais importante)  Com aumento da vascularização ;  Diminuição da mobilidade da membrana timpânica.  A perfuração da membrana timpânica, quando presente, é pequena e de difícil visualização devido ao edema e presença de secreção (normalmente purulenta), que ocorre na otite média aguda supurada.
  • 33. Otite média aguda• Diagnóstico – Otoscopia •
  • 34. Diagnóstico – Cont. Na otite média secretora, a membrana timpânica (MT) está:  Retraída  Opaca ++  Com protrusão do cabo do martelo.  Quando transparente, pode-se perceber um nível líquido, nível hidroaéreo ou bolhas de ar.
  • 35. Tratamento da OMA 81% dos episódios de otite média agudacuram espontaneamente. Em alguns paises ( ex. Holanda), existe a tendência de não iniciar antibióticoterapia no momento do diagnóstico, sendo iniciada após um período de observação de 48 a 72 horas.  Objectivo: Objectivo Diminuir uso de antibióticos levando a diminuição na resistência bacteriana. Para evitar a resistência bacteriana é importante o uso judicioso de antimicrobianos.
  • 36. Idade Diagnóstico OMA correto Diagnóstico OMA duvidoso__________________________________________________________________< 6meses Antibióticos Antibióticos6 m a 2Orientações para anos Antibióticos o uso judicioso doença Antibióticos se de antibióticos no tratamento da OMA severa Observar, se não severa>2 anos Antibióticos se doença severa Observar Observar se doença não severa__________________________________________________________________ Rosenfeld RM – Evidence-based antibiotic therapy for acute otitis media. In: Recent Advances in Otitis Media. Japan 2001. American Academy of Pediatrics – Clinical Practice Guideline. Diagnosis and Management of Acute Otitis Media. March 2004
  • 37. A observação não está recomendada nos seguintes casos : Recorrência de OMA ( nos últimos 30 dias). Orientações para o uso judicioso de OMA associada a rinossinusite ou faringite estreptocócica. antibióticos no tratamento da OMA OMA em crianças sindrômicas, imunodeficientes ou com anormalidades craniofaciais. Rosenfeld RM – Evidence-based antibiotic therapy for acute otitis media. In: Recent Advances in Otitis Media. Japan 2001.
  • 38. TRATAMENTOANTIBIOTICOTERAPIA NA OMA SUPURATIVA POR 10 DIAS CRIANÇA PRIMEIRA Amoxicilina 50 mg/kg/dia 2X ESCOLHA Amoxicilina* 90mg/kg/dia 2X Sulfa-trimetropim 40mg/kg/dia 2X SEGUNDA Amoxicilina+ác. 40mg/kg/dia 3X ESCOLHA Clavulânico ou subactan 30mg/kg/dia 2X Acetil cefurixima 20-40mg/kg/dia 3X Cefaclor 8mg/kg/dia 1X Cifixima 15mg/kg/dia 2X Claritromicina TERCEIRA Clindamicina 10-30mg/kg/dia 3-4X ESCOLHA Ceftriaxone IM 50-75mg/kg/dia 1X Pacientes de risco: creche, menores de 2 anos e
  • 39. Tratamentos coadjuvantes: Vasoconstritores nasais Anti-inflamatórios (corticóide) Fluidificantes de muco Limpeza das secreções Calor local
  • 40. Tto de OMATimpanocenteseRealiza-se, sempre no quadrante ântero-inferior (QAI) da MT, para evitar lesão da cadeia ossicular no quadrante póstero-superior (QPS) e da janela redonda no quadrante pósteroinferior (QPI).  Sempre que possível, enviar a amostra da efusão para exame bacterioscópico e cultura.Indicações de timpanocentese:  Otalgia severa,  Toxemia severa,  Resposta insatisfatória ao tratamento antimicrobiano,  Presença de complicações de OMA.
  • 41. Tto de OMAMiringotomia É a incisão da MT e suas indicações são semelhantes às da timpanocentese.  Esses dois procedimentos são úteis no diagnóstico do agente etiológico e no alívio dos sintomas. Contudo, o efeito terapêutico é temporário e insuficiente, pois a perfuração tende a cicatrizar em 2 a 3 dias desde que a drenagem cesse.
  • 42. Tratamento cirúrgicoMastoidectomia simples e outros tipos de mastoidectomia são reservados para os casos em que houver complicações de OMA.
  • 43. Otite média aguda• Prevenção – Amamentação – Não alimentar deitado – Tratamento alergia respiratória – Vacina Hib
  • 44. BIBLIOGRAFIANetter, Anatomia Humana, 5a EdicaoNeves, Branco e Neves, Vitoria, Manual de Octorrinolaringologia, 1a Edicao, C.i.C, MaputoWww.wikipedia.comwww.cefac.br/library/pdfwww.emedicne.com/otites
  • 45. OBRIGADO PELAVOSSA ATENÇÃO

sexta-feira, 25 de abril de 2014

OTITE MÉDIA CRÔNICA
1-Introdução
O Simpósio Internacional sobre Otite Média de 1987 definiu Otite Média
Crônica (OMC) como um processo inflamatório da mucosa da orelha média
acometendo desde a membrana timpânica (MT) até cavidades anexas à tuba auditiva
que dura mais de 3 meses e é acompanhada de secreção por trás de uma MT intacta
ou otorréia associada com perfuração de MT.
Na clínica Otorrinolaringológica do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-
FMUSP), considera-se OMC uma perfuração da MT que pode estar associada, mas
não obrigatoriamente, a uma afecção de ouvido médio ou mastóide com ou sem
otorréia.
Ao contrário da Otite média aguda (OMA), em que o processo inflamatório se
desenvolve subitamente e a resolução sobrevém de uma forma rápida e completa, a
OMC geralmente está associada a quadros mais insidiosos, persistentes e destrutivos.
Essas características conferem a OMC uma agressividade maior, que se traduz
clinicamente por uma série de complicações e seqüelas anatômicas e funcionais.
2-Etiopatogenia
Apesar da etiologia das OMC ser geralmente decorrente de uma otite média
aguda prévia (principalmente oriundas de OMA supurada não tratada ou necrotizante)
ou de outras causas menos freqüentes como a disfunção tubária, trauma, otite média
serosa, tumores, doenças sistêmicas, entre outros, existe uma série de fatores que
determinam a evolução da OMC. A seguir, citamos os principais fatores implicados na
patogenia da OMC:
A- Fatores embriológicos e anatômicos:

grau de pneumatização das cavidades aticais e mastóideas (depende da
absorção do mesênquima).

quantidade de tecido conjuntivo no folheto intermediário da MT (a qual confere
à MT capacidade vibratória e resistência às forças de retração) e outras
malformações.

formação do anel timpânico, que se for irregular propicia a formação de bolsas
de retração da MT.

drenagem e ventilação da orelha média:
a) segmento ântero-inferior (região túbarea): é aberta e bem ventilada, sendo
um local pouco propício para OMC;
b) segmento póstero-superior (ático-antral): é aberto, mas pouco ventilado,
sendo um local de retenção de secreção.
B- Fatores Histológicos
A orelha média apresenta morfologia celular variada em cada porção. As
células epiteliais das cavidades mastóideas são diferentes daquelas observadas em
região justa-tubária. No orifício tubário, o epitélio é pseudo-estratificado ciliado e
contém tecido linfóide, já nas partes posteriores da cavidade mastóidea o epitélio é
simples (plano). As células ciliadas e mucosas estão presentes principalmente na
metade anterior da orelha média (tuba auditiva e cavidade timpânica). Na mastóide, o
epitélio é plano e aciliado promovendo um clearance ineficaz das secreções desta
região.
A inflamação crônica, como na otite média secretora (OMS), induz a uma
metaplasia mucosa, ocorrendo hiperplasia mucosa e o desenvolvimento de
vegetações submucosas. O clearance mucociliar diminui tanto em processos agudos
como crônicos da orelha, diminuindo assim a propulsão de muco para a tuba. Isto é
conseqüência principalmente da alteração da constituição do muco, que se torna
menos fluido por aumento de proteínas.
A lâmina própria sob o revestimento epitelial, constituída basicamente de fibras
colágenas e de elastina, desenvolve no decorrer do processo inflamatório um aspecto
esclerótico devido ao acúmulo de substância hialina, que por sua vez acarreta
alterações mecânicas de MT.
C- Fatores Bioquímicos:
A vasodilatação inicial do processo inflamatório agudo acarreta aumento da
permeabilidade capilar, maior aporte de células e mediadores da inflamação elevando
a produção de muco na orelha média, a qual geralmente é mínima em condições
fisiológicas. Trabalhos recentes demonstram que a substância predominante na
secreção mucosa na inflamação da orelha média é um leucotrieno (LBT4), o que pode
explicar porque alguns pacientes não respondem ao uso de AINH (que bloqueiam
somente as prostaglandinas). Além dos leucotrienos e prostaglandinas, endotoxinas
liberados por bactérias Gram negativas também aumentam a produção de muco.
A liberação de citocinas por vários tipos celulares no processo inflamatório
conduz a uma metaplasia secretora, por estimularem mitoses, geralmente após
episódios infecciosos. Isso conduz uma transformação de epitélio ciliar em epitélio
mucoso. Tais citocinas podem também induzir uma metaplasia epidermóide e
estimular a multiplicação de fibroblastos e síntese de colágeno favorecendo a
evolução para otite adesiva especialmente.
D- Fatores Bacterianos:
Nos quadros de OMC, com ou sem colesteatoma, os agentes são de flora
microbiana mista (aeróbios e anaeróbios), sendo os mais comuns:
Aeróbios: Pseudomonas aeruginosa, Staphylococus aureus, Proteus mirabilis,
E. coli, Corynebacterium e Klebsiella pneumoniae
Anaeróbios: Bacteróides spp, Peptococcus spp, Peptostreptococcus spp,
Prevotella spp, Porphyromonas spp, Fusobacterium spp e Propionibacterium acnes,
principalmente em pacientes com colesteatoma.
E: Fatores Sistêmicos:
A mucosa da OM produz imunoglobulinas (IgA, IgA secretora e IgG), que
impedem a aderência de microorganismos, protegendo a orelha média. Assim, em
crianças, por imaturidade fisiológica do sistema imune e também pela horizontalização
da tuba, e em indivíduos com deficiência imunológica, as afecções da orelha média
são mais freqüentes.
Vale lembrar que as condições socioeconômicas também influenciam na gênese da
otite média (OM), em que a carência alimentar, más condições de higiene e
habitações precárias, estão associadas a maior incidência de OM, pois tais condições
são observadas em comunidades domésticas numerosas, facilitando a propagação de
infecções.
Diabetes Mellitus, hipotireoidismo, doenças consuptivas, auto-imunes e
granulomatoses também são determinantes na gravidade e evolução da OMC.
F: Fisiologia da Tuba:
O fator tubário é, sem dúvida, um dos mais importantes na manutenção do
quadro de OMC.
A ventilação, drenagem de secreção e proteção da orelha média são as
principais funções da tuba auditiva. A ventilação processa-se quando, ao deglutir,
ocorre abertura intermitente da luz tubária, provocando uma equalização das pressões
atmosférica e intratimpânica. Em relação à drenagem, dois mecanismos estão
envolvidos: o mucociliar e o muscular.
As contrações repetidas do músculo tensor do véu palatino produzem uma
ação semelhante ao bombeamento, drenando os fluidos no ouvido médio,
especialmente fluidos de baixa viscosidade. A abertura da tuba após contração do m.
tensor do véu palatino faz com que a secreção seja “aspirada” para a luz tubária e é
expelida para a nasofaringe com o fechamento da tuba. Quando a viscosidade
aumenta, o papel ciliar aumenta de importância, havendo, portanto necessidade da
combinação desses mecanismos para uma drenagem global eficaz.
Na disfunção tubária (tuba fechada), a pressão na orelha média torna-se
negativa (com tímpano íntegro), havendo acúmulo de secreção na caixa, alteração da
pressão parcial dos gases no ouvido médio (O2, CO2 e N2) e pH. A pO2 do ar contido
na orelha média é inferior ao ar ambiente. Não havendo a abertura da tuba para
equalização desta pressão, o ar contido na caixa permanece com pO2 diminuída e
pCO2 aumentado e, apesar da mucosa normal equilibrar rapidamente o pO2, este
aumento de pCO2 na caixa pode levar a alterações da mucosa (hiperplasia secretora,
metaplasia, eliminação enzimática e tóxica, paralisia ciliar etc.). Isto explica a presença
de anaeróbios principalmente em pacientes com colesteatoma.
A pressão negativa na orelha média pode também provocar alterações da MT,
como retração (atelectasia ou otite adesiva) ou perfuração.
G: Trauma
Perfuração traumática de MT, independente da causa (variação de pressão
atmosférica, explosão, corpo estranho etc.) pode evoluir para OMC. Normalmente
ocorre cicatrização da MT, mas, quando há perda importante de substância, esta pode
persistir, tornando-se porta de entrada à contaminação vinda pelo CAE, principalmente
pela penetração de água.
3- Classificação das Otites Médias Crônicas( segundo Bluestone e Kenna,1988)
A - Otite Média Crônica com Membrana Timpânica Perfurada
OMC Simples
OMC Supurativa (Purulenta)
OMC Colesteatomatosa -congênito
-adquirido 1 - primário
2 - secundário
OMC Tuberculosa
B- Otite média crônica silenciosa
OMC Atelectasica/Adesiva
C – Timpanoesclerose
4 - Quadro Clínico
A origem da otite média crônica é multifatorial. Geralmente a OMC evolui como
um processo contínuo, de início na infância após OMA supurada ou quadro de OMS,
diferenciando-se nas diversas formas clínicas.
Os sintomas que predominam são otorréia e hipoacusia, variando segundo o
tipo de OMC.
Por vezes, torna-se difícil diagnosticar clinicamente a fase evolutiva da doença
ou mesmo em que forma se apresenta, devendo-se solicitar exames subsidiários. A
tomografia computadorizada (TC) fornece informações detalhadas sobre a natureza e
extensão da doença, que pode não ser clinicamente evidente, além de informações
anatômicas para programação cirúrgica.
A audiometria tonal e vocal é básica para avaliar o grau de perda auditiva e
confirmar a surdez condutiva. Eventualmente, pode aparecer surdez mista, em casos
de acometimento de orelha interna.
Já a ressonância magnética (RNM), não é tão importante em casos de OMC,
pois não tem uma definição óssea muito precisa, essencial em otites agressivas, além
de mais onerosa.
OTITE MÉDIA CRÔNICA COM PERFURAÇÃO
OMC simples
a) Características gerais
Esta é a forma mais comum de OMC: perfuração da MT associada a episódios
intermitentes de otorréia, em que as alterações da mucosa da orelha média e
mastóide não são permanentes. Em geral, os sintomas são leves e com longos
períodos de acalmia (ausência de otorréia por um período superior a dois meses).
Não há evidencias de infecção ativa. As lesões podem ser desde um simples
edema de mucosa até formação de granulomas. Em estado avançado pode ocorrer
comprometimento de cadeia ossicular e osteíte, afetando o conduto ósseo.
b) Quadro clínico:
A queixa principal é a otorréia intermitente, de aspecto fluído ou mucóide, sem
odor característico. Os episódios de otorréia podem estar associados à infecção de
vias aéreas superiores ou à história de contaminação extrínseca com água (banhos de
piscina ou mar) e são facilmente controlados com tratamento antimicrobiano tópico.
A hipoacusia é de grau variável, mais proeminente nos casos de patologia
bilateral. Raramente haverá otalgia e esporadicamente pode ocorrer zumbido ou
tontura.
c) Semiologia
Otoscopia:
O CAE pode estar normal, com secreção, edemaciado, hiperemiado ou com
granulações.
A MT pode apresentar os seguintes tipos de perfuração (figura 1):
-central: envolve a “pars tensa” da MT, em sua porção central. Raramente leva a
complicações.
-marginal: estende-se da “pars tensa” da MT para o anel timpânico que está
destruído. Pode evoluir para uma otite média crônica colesteatomatosa.
-ântero-superior (atical): na “pars flácida”, mais freqüentemente associada à OMC
colesteatomatosa. Na figura abaixo vê-se acentuada retração em região atical, um
dos princípios fisiopatológico para posterior perfuração e formação de colesteatoma.
Pode-se observar, muitas vezes, o cabo do martelo e a articulação
incudoestapediana.
A mucosa da caixa tem aparência normal ou discretamente edematosa, rósea
e brilhante. É diferente da OMC supurativa, em que a mucosa freqüentemente se
apresenta polipóide com abundante secreção. Os ossículos geralmente estão normais,
podendo ocorrer fixação por inflamação crônica ou erosão óssea com disjunção de
cadeia, dependendo da duração e intensidade da infecção e do processo inflamatório.
A presença de perfuração marginal ou atical apresenta mau prognóstico em relação a
evolução para OMC supurativa ou colesteatomatosa.
Figura 1: perfuração central, atical
e marginal. Fonte: Manual Merck.
d) Testes Audiométricos:
Na audiometria tonal verifica-se uma hipoacusia de condução que varia entre 30 e
50dB. Nas perfurações com menos de 20% da MT ocorrem perdas leves de até 15dB,
já quando há perfurações maiores e/ou lesão ossicular, o déficit condutivo é grande.
Pequenas perfurações anteriores, sem lesão da cadeia ossicular, normalmente
são irrelevantes à função auditiva, enquanto que grandes perfurações posteriores
causam perdas bem mais acentuadas. Neste último caso, ocorre perda da proteção
acústica da janela redonda e o som atinge as duas janelas em concordância de fase,
alterando a movimentação dos fluidos endococleares, o que pode levar a perdas de
até 45dB.
Perda neurossensorial é infreqüente e ocorre nas freqüências altas.
e) Exames de Imagem:
Tomografia computadorizada pode ser solicitada em suspeita de OMC
supurativa ou colesteatomatosa.
f) Conduta:
Clínica:
Controle clínico e recomendações podem ser suficientes em pacientes bem
orientados, evitando-se a cirurgia.
Na fase aguda realiza-se antibioticoterapia tópica e, eventualmente, sistêmica;
aspirações repetidas e cuidados locais. A escolha do antibiótico tópico (gotas) é
empírica, pois raramente é realizada a coleta de material para bacterioscopia e cultura.
Os agentes mais utilizados são neomicina, polimixina B, outros aminoglicosídeos,
cloranfenicol e ciprofloxacino, associados ou não a corticóides, sendo todos
comprovadamente ototóxicos exceto os dois últimos que não tiveram esse efeito
comprovados em humanos . Já a antibioticoterapia sistêmica pode ser utilizada em
casos mais exuberantes. Os mais utilizados são: amoxicilina, amoxicilina + clavulanato
e quinolonas como a levofloxacino.
Segundo o estudo de Martinez et al, a taxa de resistência de Pseudomonas
aeruginosa a ciprofloxacino é de 17,8% e de S. aureus a levofloxacino de 21,6% e a
amoxicilina-clavulanato de 10,8%, demonstrando um aumento dos níveis de
resistência bacteriana em relação a estudos anteriores.
Prevenção: evitar fatores desencadeantes (principalmente a entrada de água) é
a recomendação mais importante, pois evita infecções de repetição, melhorando o
prognóstico e prevenindo a evolução a quadros mais graves.
Cirúrgico:
A timpanoplastia com eventual reconstrução de cadeia ossicular é o tratamento
indicado. É preconizado um período de pelo menos 3 meses sem otorréia antes da
cirurgia.
Em estudo realizado na clínica ORL-HCFMUSP e publicado em 2007, foram
acompanhados pacientes com OMC simples que apresentavam zumbido no pré-
operatório, sendo que houve melhora significativa nas queixas de zumbido destes
pacientes, mostrando que a timpanoplastia pode servir, além do controle infeccioso,
como possibilidade de melhora na função auditiva.
Não há necessidade de ATB profilática na cirurgia, pois não altera o
prognóstico da cirurgia.
Ouvido contralateral: se disacusia neurossensorial importante, não se deve
operar, pelo risco de lesão iatrogênica. Se OMC simples, operar o lado com pior
prognóstico. Se OMC Supurativa/Colesteatoma, operar este primeiro.
OBS: As afecções de rinofaringe, inclusive alergia, devem ser investigadas e
tratadas.
Otite Média Crônica Supurativa
a) Características Gerais:
É caracterizada por inflamação crônica da mucosa da orelha média e mastóide
com presença de perfuração da membrana timpânica, otorréia persistente, que pode
melhorar com antibioticoterapia, retornando logo após seu término. É devido a
alteração patológica da caixa, com origem local ou sistêmica, que não permite a
remissão do quadro.
É mais comum nos primeiros cinco anos de vida, em países em
desenvolvimento e pacientes com fatores de risco como anormalidades craniofaciais,
otite media aguda recorrente, patologias que acarretam disfunção tubária e doenças
sistêmicas (granulomatose de Wegener, histiocitose x etc.).
A patogênese é multifatorial, envolvendo fatores ambientais, genéticos e a
função da tuba auditiva.
Ocorre hiperplasia e hiperatividade secretora da mucosa, sem a presença de
colesteatoma, com inflamação de toda a mucosa desde mastóide até MT, cursando
freqüentemente com processo de osteíte/osteomielite das células mastóideas. Essas
alterações da mucosa da caixa e mastóide são de caráter irreversível.
b) Quadro clínico:
O paciente apresenta otorréia persistente, em geral, amarelo-esverdeada e
comumente, com odor fétido, podendo cursar com otalgia.
Pode evoluir para metaplasia epidermóide observando-se tufos esbranquiçados
disseminados ou confluentes sobre a mucosa da caixa, raros ou abundantes, sem
uma matriz (diferente do colesteatoma). Pode regredir com tratamento clínico
prolongado. Em perfurações marginais pode ocorrer epidermose timpânica por
migração epidérmica, havendo lamelas brancas ao longo do cabo do martelo (também
deve ser diferenciado do colesteatoma).
c) Semiologia
Otoscopia:
Revela normalmente perfurações grandes, marginais, com retrações. A
mucosa da OM pode estar edemaciada, com tecido de granulação e pólipos, que
podem se insinuar através da perfuração para o CAE. A mucosa das células
mastóideas estará invariavelmente envolvida, o que ajuda a manter o processo
infeccioso.
Testes Audiométricos:
A perda condutiva é mais acentuada que na OMC simples, variando de 20 a 60
dB, devido ao maior diâmetro da perfuração e lesão da cadeia ossicular. Pode haver
também algum comprometimento neurossensorial (lesão de células ciliadas internas
por passagem de mediadores inflamatórios e toxinas bacterianas para a orelha
interna), gerando perda auditiva mista.
Exames de Imagem:
Na TC de osso temporal pode mostrar mastóide ebúrnea com poucas células e
de tamanho pequeno e ausência de sinais sugestivos de colesteatoma.
d) Conduta:
Clínica:
De forma parecida a OMC simples, o tratamento se faz com uso de antibiótico
tópico e/ou sistemico. Os cuidados locais (aspirações) e orientações (proteção
auricular) são fundamentais.
Drogas tópicas a base de polimixina, neomicina, gentamicina, cloranfenicol tem
sido utilizadas com sucesso. Estudos têm comprovado a alta eficácia das quinolonas
tópicas no tratamento das OMC sem necessidade de tratamento sistêmico, diminuindo
a resistência bacteriana e os riscos de ototoxicidade.
No estudo de Acuin et al, em relação à melhora da otorreia, verificou-se que:

O uso de gotas à base de antibiótico ou antisseptico associado a
limpeza local é superior à conduta expectante ou limpeza isolada.

O uso isolado de antibiótico tópico é semelhante ao uso de
antissepstico local.

O uso de gotas antibióticas é superior à antibioticoterapia sistêmica.
Porém, as duas vias associadas tem resultado superior ao uso isolado
de gotas.
Os preparados combinados com corticóide diminuem a inflamação da mucosa
do CAE assim como melhoram a penetração do antibiótico, diminuindo o tempo de
tratamento. Pode acontecer dor associada à aplicação das gotas.
O uso tópico de de aminoglicosídeo em pacientes com perfuração timpânica
demonstrou ser ototóxico em estudos com cobaias animais; porém, postula-se que, na
vigência do processo infeccioso a membrana da janela redonda apresente-se
espessada e, portanto, não permeável à gota, evitando-se, assim, a ocorrência de
ototoxicidade. Na dúvida, ciprofloxacina parece ser a gota mais segura.
Quando realizado, o tratamento sistêmico deve preferencialmente ser escolhido
de acordo com o resultado das culturas da secreção encontrada. O tratamento
empírico pode conter cloranfenicol, clavulin, bactrim, e, em casos mais graves,
clindamicina e cefalosporinas de terceira geração.
Cirúrgico:
O tratamento definitivo de quadro instalado de OMC supurativa é cirúrgico. O
objetivo da cirurgia é remover todo o tecido doente, inclusive o ósseo e fechar a
perfuração timpânica. Geralmente isso é conseguido com timpanoplastia associada a
mastoidectomia com cavidade fechada (timpanomastoidectomia). Neste procedimento
não se deve obliterar a tuba.
Ouvido contralateral: se anacúsico/disacúsico neurosensorial, protelar ao
máximo a cirurgia, tratando clinicamente; se com OMC simples, operar o ouvido; se
com colesteatoma, operar este ouvido.
Em um estudo realizado na UFRGS em 2002, estudou-se o acometimento do ouvido
contralateral em 108 pacientes com OMC, sendo que entre estes 46,3% apresentavam
alterações significativas na otoscopia.
OTITE MÉDIA CRÔNICA SILENCIOSA
É definida como a presença de alterações teciduais inflamatórias irreversíveis
na orelha media e/ou cavidade mastóidea, associadas a membrana timpânica integra.
São consideradas alterações irreversíveis a presença de tecido de granulação,
alterações ossiculares, granulomas de colesterol, colesteatomas e timpanoscleroses.
Pode ser dividida em OMC silenciosa indetectada quando decorrente de falha
na investigação diagnostica, ou indetectável, ou seja, uma orelha sintomática porem
aparentemente normal pode abrigar um processo patológico ativo e focal.
No estudo de Costa et al foram analisados 144 ossos temporais, sendo 28 com
perfuração da membrana timpânica e 116 sem perfuração. Foram encontradas
alterações inflamatórias irreversíveis semelhantes, independentemente da perfuração
timpânica, exceto para o colesteatoma que limitou-se às orelhas com perfuração da
membrana timpânica.
Em outro estudo realizado pelo mesmo autor sobre a analise da patologia
ossicular em ossos temporais humanos identificou-se similaridade de alterações
ossiculares nos grupos com e sem perfuração da membrana timpânica, quanto a
prevalência, localização e ossículos mais atingidos. Estes achados também atentam
para o fato de que um grande número de casos de otite média crônica podem estar
sendo subdiagnosticados.
Acredita-se, desta forma, que a perfuração da membrana timpânica tenha
atuado como um tubo de ventilação natural, permitindo a aeração da orelha media.
Portanto, haveria dois tipos de perfuração da membrana timpânica: a perfuração
solução e a perfuração problema.
Os sinais e sintomas como otorréia, osteíte, necrose ossicular, perdas auditivas
condutivas e/ou neurossensoriais são ocasionados pela presença do tecido de
granulação.
Portanto, a presença de uma membrana timpânica intacta não exclui a
presença de alterações patológicas macroscópicas na orelha media, com ou sem
repercussões na orelha interna e este fato pode justificar sintomas otológicos que
pareçam obscuros e inexplicáveis em um primeiro momento.
A elucidação destes casos seria mais bem realizada por meio de timpanotomia
exploradora.
OTITE MÉDIA CRÔNICA COLESTEATOMATOSA
a) Características Gerais:
É uma lesão de tecido epidérmico e conjuntivo, usualmente em formato
cístico que segue a arquitetura da orelha média, ático e mastóide, constituída de
epitélio escamoso estratificado, com produção exacerbada de queratina. Pode ocorrer
em qualquer porção pneumatizada do osso temporal.
Colesteatoma (choles = bilis; stea = gordura; oma= tumor) é um termo errado
adotado inicialmente por J. Mueller em 1838, que o descreveu como um tumor em
camadas, perolado, composto de gordura, que era distinguível dos outros tumores
gordurosos pela presença de colesterina entre as camadas de células poliédricas. Na
verdade, trata-se de um crescimento de pele em local ectópico (orelha média),
composta de todas as suas camadas epiteliais. O colesteatoma não contém gordura
ou colesterina. Assim, o termo queratoma seria mais correto.
O colesteatoma surge como uma massa compacta, esbranquiçada e com uma
matriz lisa e brilhante formada por epitélio escamoso estratificado queratinizado e uma
perimatriz de tecido conjuntivo. A queratina é continuamente eliminada pela matriz
preenchendo e distendendo o espaço por ela delimitado.
O acúmulo de queratina pode causar infecção, destruição óssea, perda de
audição, paralisia facial, fístula labiríntica e complicações intracranianas (abscesso
epidural/subdural/parenquimatoso, meningite e trombose dos seios venosos da
duramáter).
O colesteatoma pode ser digitiforme, ou seja, a matriz emite prolongamentos
para o tecido conjuntivo subjacente. Há sempre uma camada de granulação em
contato com o osso, a qual produz enzimas (colagenase e outras) que causam erosão
óssea.
As bolsas de retração aticais com infecções freqüentes são consideradas
lesões pré- colesteatomatosas, que na prática, só se diferenciam durante o ato
cirúrgico.
b) Classificação
-Congênito:
Representam de 1 a 2% dos colesteatomas e originam-se de restos
embrionários de tecido epitelial na orelha média, sem perfuração da MT e sem indícios
de infecção prévia. Segundo a teoria de Michaels (1986) ocorre uma falha na
involução da formação epidermóide, que é um aglomerado de células escamosas
presente no osso temporal (quadrante antero-superior da orelha media) da 10a. à 33a.
semanas de gestação. Essa é a teoria mais aceita para a etiopatogenia do
colestatoma congênito. No entanto, não se sabe o mecanismo exato que acarreta a
transformação
da
formação
epidermoide
em
colesteatoma.
Alguns
estudos
demonstraram a presença desse tecido epitelial em crianças e jovens sem otite media
crônica, contrariando esta teoria.
Estudos de biologia molecular demonstraram a presença de atividade
diminuída de telomerase e menor comprimento de telomeros no colesteatoma
congênito, em relação ao adquirido, em que os telomeros tem o mesmo comprimento
dos encontrados no conduto auditivo externo.
São locais freqüentes, além da cavidade timpânica, a região tímpano-
mastóidea, pirâmide petrosa, ângulo ponto cerebelar e forame jugular. Quando
desenvolvidos, 2/3 localizam-se no quadrante ântero-superior (QAS). Podem levar a
perfuração secundária da MT.
Tipicamente observa-se na otoscopia uma massa esbranquiçada através da
porção anterior da MT, adjacente ao cabo do martelo. Os colesteatomas congênitos,
especialmente os de localização mais profunda podem permanecer assintomáticos por
anos. Paralisia facial, perda auditiva ou vertigem podem ocorrer como primeira
manifestação. São identificados por volta dos 4 aos 5 anos de idade, sendo mais
predominante na população masculina (13 : 1).
Levenson et al estabeleceram critérios diagnósticos para colesteatoma
congênito:
.a) massa esbranquiçada medial a MT normal;
.b) pars flácida e tensa normais;
.c) sem história prévia de otorréia ou perfurações;
.d) sem cirurgias otológicas prévias; .
.e) episódios de otite média prévia não excluem o diagnóstico.
-Adquirido:
São mais freqüentes, sendo divididos em:
Primários: É a grande maioria, também denominado de colesteatoma de
retração atical, ocorre a partir de defeitos ou bolsas de retração na região atical da MT
quase sempre relacionados com disfunção da tuba auditiva. Existem várias teorias
para explicá-lo: invaginação, hiperplasia das células basais epiteliais, perfuração da
pars flácida com crescimento subjacente, OMS, entre outras.
Secundários: Menos comuns, se originam classicamente através de uma
perfuração marginal, geralmente por tratamentos inadequados das otites médias
crônicas. O mecanismo mais aceito atualmente seria a invaginação de tecido
epidérmico do CAE ou do epitélio que reveste a MT, a partir de uma perfuração, para a
orelha média. Estudos histológicos demonstram que não é obrigatório que a
perfuração seja marginal, podendo ocorrer o colesteatoma mesmo em perfurações
centrais. Nestes casos, a granulação exuberante da mucosa da caixa, pelo processo
infeccioso crônico, comportar-se-ia como uma ponte por onde a pele migraria para
dentro a caixa.
c) Patogênese
Existem várias teorias para a formação do colesteatoma adquirido:
-Implantação: por trauma, corpo estranho ou iatrogenia cirúrgica (secundário à
colocação de tubo de ventilação ou timpanoplastia), seria implantado epitélio do CAE
na OM, que em certas condições poderia crescer.
-Metaplásica: Modificação do epitélio respiratório para escamoso estratificado
queratinizado, secundário a OMS (otite adesiva), OMA de repetição, OMC ou pólipos,
ocorrendo pela presença de fatores inflamatórios irritativos. Apesar de poder existir a
metaplasia, discute-se a condução deste epitélio para queratinização exacerbada e
conseqüente formação colesteatomatosa. Explica em parte os primários, mas não é
bem aceita para secundários.
-Invasão epitelial ou Migratória: É a mais aceita para os colesteatomas
secundários. Ocorre pela migração e crescimento de pele do CAE para a orelha
média, pela perfuração da MT, favorecida por certos fatores predisponentes
(processos inflamatório-infecciosos crônicos e outros). O processo infeccioso acarreta
destruição da mucosa da orelha média e esta descontinuidade tecidual impede o
mecanismo de inibição por contato, favorecendo a migração epitelial através da
perfuração timpânica. De acordo com estudos de microscopia eletrônica, a migração
ocorre através dos pseudópodes das células da camada basal do epitélio.
- hiperplasia basal: células epiteliais basais queratinizadas da parte flácida
que invadem espaço subepitelial e lamina própria, dando origem a colesteatoma atical
d) Fisiopatologia:
Apesar de poucas diferenças com a pele, no colesteatoma existe uma
hiperqueratinização com elevada síntese protéica e enzimática (2 a 3 vezes mais que
a pele normal), que levam a uma invasão, destruição e substituição da mucosa, tecido
conjuntivo e ósseo da orelha média.
A destruição óssea ocorre por três mecanimos:
1. Mecânico: a expansão do colesteatoma (acúmulo de queratina e debris)
causa compressão dos capilares ósseos, levando a necrose e reabsorção óssea.
2. Bioquímico: produção de endotoxinas bacterianas, produtos do tecido de
granulação do hospedeiro (colagenase, hidrolase ácida) e substâncias relacionadas ao
colesteatoma (fatores de crescimento e citocinas), pH ácido das lâminas de queratina,
desmineralizando a hidroxiapatita.
3. Celular: atividade osteoclástica – os osteoclastos da matriz subepitelial
liberam fosfatase ácida e alcalina, colagenase e outras enzimas que reabsorvem o
osso. Infecção secundária também ativa os osteoclastos.
A destruição óssea ocorre mais freqüentemente na cadeia ossicular (em
particular no ramo longo da bigorna) e no conduto ósseo. As erosões ósseas,
associadas com a infecção subjacente causam a maioria das complicações
mastóideas e intracranianas que serão abordadas em seminário específico.
Vários estudos têm enfatizado o papel da diferenciação e proliferação celular e
mecanismos de apoptose na fisiopatologia do colesteatoma. Um importante fator
desencadeante parece ser a infecção bacteriana da orelha média (Hæmophilus
influenzae, Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae são os mais
freqüentemente encontrados), depois da qual o hospedeiro desenvolveria uma
resposta inflamatória exarcebada.
Vários fatores imunológicos, como células de
Langerhans, linfócitos T e macrófagos ativados, levariam a um aumento nos níveis de
citocinas inflamatórias (IL1, TNF), proliferativas (IL6) e osteolíticas (IL1, prostaglandina
E, TNF, PTHrp), criando um microambiente, que pode levar a danos no genoma
intracelular e conseqüentemente perda no controle de proliferação e diferenciação
celular. Essa citocinas também estão associadas a atividades de metaloproteinases
envolvidas na lise óssea. Segundo estudo de Choufani et al (2007), a taxa de
recorrência do colesteatoma dependeria mais do nível de fatores anti-apoptóticos
(galectina3) que proliferativos.
e) Vias de disseminação:
Os colesteatomas são mais frequentemente encontrados, em ordem de
freqüência, no epitímpano posterior, mesotímpano posterior e epitímpano anterior.
1) Epitímpano posterior: Forma-se por retrações aticais no espaço de Prussak
(entre a membrana de Sharpnell e colo do martelo); estende-se posteriormente
passando lateralmente ao corpo da bigorna atravessando o ático e antro para
entrar
na
mastóide.
Usualmente
também
se
estende
atravessando
inferiormente o espaço de Prussak alcançando o mesotimpano.
2) Mesotímpano Posterior: Forma-se pela retração da parte póstero-superior da
pars tensa da MT, formando um saco de colesteatoma. Nesse caso o recesso
do facial está geralmente envolvido, tornando-se de difícil ressecção. Sua
extensão até a mastóide acontece medialmente aos ossículos, diferentemente
do colesteatoma epitimpânico posterior.
3) Epitímpano Anterior: Forma-se por retrações aticais anteriores à cabeça do
martelo no espaço de Prussak.
O epitimpano anterior relaciona-se com o
gânglio geniculado e a 2a porção do facial, sendo que estas estruturas podem
ser lesadas. Pode também ter extensão ântero-inferior.
f) Quadro clínico:
Os sintomas variam de acordo com o tipo e localização inicial do colesteatoma,
existindo pacientes assintomáticos, com otorréia franca característica ou até paralisia
facial como primeiro sintoma.
As queixas mais freqüentes são otorréia purulenta, constante, com ou sem
laivos de sangue, fétida (odor de ninho de rato), principalmente nos colesteatomas
com infecção secundária (por contaminaçao com água ou infecção de vias aéreas
superiores), devido à microbiologia rica em anaeróbios (Peptococcus sp, Bacteroides
sp), Pseudomonas sp e aeróbios facultativos (Proteus sp, Staphylococcus sp). A
otorréia não tem fator desencadeante e não ocorre no tipo congênito com MT íntegra.
A hipoacusia é o sintoma mais importante no congênito. Vertigem e dor são
sintomas excepcionais.
Zumbidos (tons graves), plenitude auricular, otorragia podem ocorrer.
Zumbidos agudos, crise de vertigens, dor, surdez súbita, paralisia facial periférica
(PFP) e meningite indicam complicações graves.
Importante questionar sobre cirurgias otológicas anteriores.
g) Semiologia
Otoscopia:
• No CAE otorréia com descamações perláceas e material queratínico;
• Retração atical - vegetação pré-colesteatomatosa;
• Retração póstero-superior associada ou não com invaginação da membrana de
Sharpnell (com aticotomia espontânea) - Pode ter aspecto de “pseudo-perfuração”;
• Perfuração ampla (destruição subtotal do tímpano) ou póstero-marginal com
supuração ântero-atical;
• pólipo aural /colesteatoma infectado;
• pólipo atical;
• colesteatoma congênito: colesteatoma se não visualizado por transparência, simula
interrupção de cadeia ossicular (com MT íntegra), caso atinja o estribo;
• perfuração com exteriorização do colesteatoma no aditus;
• edema da mucosa da caixa e abundante tecido de granulação.
Na vizinhança do colesteatoma ocorre produção de enzimas secretadas pela
matriz, além da estimulação de osteoclastos pelo processo infeccioso, ocasionando
reações ósseas, com erosão ou osteíte e, mais raramente, esclerose. A destruição
óssea ocorre mais freqüentemente na cadeia ossicular (em particular o ramo longo da
bigorna) e no conduto ósseo. As erosões ósseas, associadas com a infecção
subjacente causam a maioria das complicações mastóideas e intracranianas que
serão abordadas em seminário específico.
material queratínico em orelha média com perfuração ampla.
Descamações perláceas (lamelas) em margem de perfuração e formação
queratínica em região atical.
Formação polipóide sugestiva de colesteatoma
h) Exames Audiométricos
Realizar sempre pré e pós-cirurgia. A audiometria tonal demonstra disacusia
condutiva progressiva. Quando maior que 40 dB indica descontinuidade ossicular.
Pode ocorrer perda neurossensorial por passagem de toxinas bacterianas pela janela
redonda, ou mesmo destruição do ouvido interno. A intensidade parece ser maior
quanto mais longa a história do tumor.
i) Radiologia
Os exames de imagem são importantes para o planejamento cirúrgico e
recomendáveis em revisões de mastoidectomias.
A tomografia computadorizada de osso temporal é hoje o exame de escolha:
avalia-se a extensão da erosão óssea e a penetração tumoral. Verifica-se o clássico
apagamento do esporão de Chausse além de erosão ossicular, pneumatização da
mastóide, aumento do espaço de Prussak e cavidades alargadas (figura2). No
entanto, um esporão íntegro não invalida o diagnóstico de colesteatoma e a presença
de material na caixa timpânica ou mastóide pode corresponder a tecido de granulação
e não necessariamente epitelial. Portanto, apesar dos recursos de imagem, o
diagnóstico ainda é eminentemente clínico, baseado na história e exame físico
detalhado.
Na ressonância nuclear magnética, em imagens pesadas em T1, o
colesteatoma é levemente escurecido, com iso ou hipo-sinal comparado ao cérebro.
Em T2, apresenta hiper-sinal.
A
RNM
é
mais
utilizada
para
avaliar
complicações
intracranianas,
principalmente devido à técnica de difusão que permite caracterizar alterações na
motilidade das moléculas de água no interstício do parênquima cerebral. Embora este
método tenha sido mais enfatizado no estudo das doenças cerebrais vasculares
isquêmicas, a difusão fornece importante "insight" fisiológico, trazendo importante
contribuição para melhor diagnosticar e caracterizar uma extensa gama de patologias
que acometem o sistema nervoso.
A ressonância magnética com seqüência de difusão e pós-contraste
tardia
permite a diferenciação entre tecido de granulação e recidiva de colesteatoma maiores
que 0,5cm. Abscesso e colesteatoma não podem ser diferenciados pela difusão ou
características de sinal em T1 e T2, exceto pelo intenso e espesso realce anelar
periférico.
Com uso de contraste, tanto na CT como na RNM, o colesteatoma apresenta-se
realçado somente em sua região periférica – a região central é avascular (importante
para a diferenciação com outros tipos de tumores).
J) Conduta:
A OMC colesteatomatosa é uma patologia cirúrgica. O objetivo principal é a
retirada do tumor e restauração de um ouvido sem otorréia. Como objetivo secundário
temos a preservação ou recuperação funcional da função auditiva.
Previamente à cirurgia deve-se conter, ou mesmo diminuir, a quantidade de
otorréia. Usam-se gotas otológicas com antibióticos dando preferência a fórmulas que
não contenham aminoglicosídeos devido à ototoxicidade, associada a ATB sistêmica,
se necessário.
O objetivo é remover o máximo de tecido doente possível. Quando não for
possível garantir que toda a doença foi removida ou ante a dificuldade de programar
um “second look” (o que é comum em nosso meio) deve se realizar mastoidectomia
com cavidade aberta.
O potencial osteolítico do colesteatoma pode ser incrementado pelo aumento
de pressão causado pelo crescimento do colesteatoma em um espaço fechado e pela
superinfecção, como descrito anteriormente. Esse é o princípio da cirurgia de mastóide
de cavidade aberta, em que há diminuição da compressão e da possibilidade de
reabsorção óssea pelo colesteatoma. Ao se realizar uma mastoidectomia cavidade
aberta há possibilidade de se deixar colesteatoma, principalmente em regiões de risco
(nervo facial, canal semicircular lateral, janela oval), visto que ele deverá perder sua
característica de erosão óssea.
Ouvido contralateral: se anacúsico ou com disacusia neurosensorial, a cirurgia
deve ser realizada com o devido cuidado para manipulações próximas a janelas
labirínticas e canais semicirculares.
OTITE MÉDIA ATELECTÁSICA/ADESIVA
Otite média atelectásica/adesiva é uma seqüela decorrente de um processo
inflamatório da orelha média de longa duração, normalmente associado a um quadro
de disfunção tubária importante.
Para entender melhor a fisiopatologia dessa doença são necessários conhecimentos
básicos a respeito da regulação da pressão da orelha media. Essa regulação de
pressão depende de 3 mecanismos básicos:
Difusão de gás através da orelha média
A concentração de gases na orelha média se assemelha bastante à respectiva
no sangue venoso já que as forças de convecção na orelha média são pequenas e o
ar é relativamente estático nessa cavidade. Essa troca gasosa é bem parecida com a
ocorrida nos alvéolos pulmonares dependendo da pressão parcial dos gases e do
fluxo
sanguíneo
local.
Dessa
forma
inflamações
na
mucosa
aumentam
significativamente a taxa de absorção gasosa. Entretanto como a mucosa da orelha
média é bem heterogênea esses mecanismo também sofrem alterações de região
para região sendo que ao redor do antro mastóideo ocorre a maioria das trocas
gasosas.
Aeração das células mastóideas
As propriedades anatômicas e fisiológicas das células mastóideas contribuem
para o bom funcionamento da orelha média. Mastóides menos aeradas tendem a
sofrer maiores alterações de pressão, concluindo-se que o volume da região aerada
da mastóide tem importante papel na complacência da membrana timpânica.
Flutuações de pressão da orelha média na presença de uma mastóide ebúrnea
resultarão em maiores forças exercidas sobre a membrana timpânica em comparação
com uma mastóide saudável.
Por outro lado, a aeração das células mastóideas também é responsável por
aumentar a superfície mucosa responsável pelas trocas gasosas, contribuindo para a
ventilação da mastóide e orelha média.
Troca gasosa através da tuba auditiva
A tuba auditiva se encontra normalmente fechada, abrindo-se apenas quando
há contração do músculo tensor do véu palatino. A troca gasosa entre a rinofaringe e a
orelha média ocorre no momento em que a tuba se encontra aberta. Porém em alguns
casos de hipofunção tubária há uma diminuição na ventilação da orelha media
causando uma pressão negativa local já que a mucosa absorve o nitrogênio do ar
restante. Entretanto a tuba pode ser também hiperfuncionante gerando sintomas como
a autofonia. Paciente que sofrem desse distúrbio freqüentemente assoam o nariz para
criar uma pressão negativa na orelha média capaz de fechar a tuba auditiva
voluntariamente. Porém essas atitudes podem levar ao desenvolvimento de uma otite
média atelectásica a longo prazo.
Classificação
Tipo I
retração sem contato da membrana timpânica com estruturas da
orelha média (figura3)
Tipo II membrana timpânica em contato com bigorna ou estribo (figura4)
Tipo III membrana timpânica em contato com o promontório (figura5)
Tipo IV retração ao redor do anulo timpânico (figura6)
(figura 3)
(figura 5)
Tratamento
(figura 4)
(figura 6)
O tratamento da otite média adesiva / atelectásica é ainda algo bastante
controverso na literatura. Em estudos realizados por Sade com acompanhamento de
308 pacientes por 3 anos chegou-se a conclusão que:

Metade dos pacientes permanece com quadro inalterado ou regridem com o
tratamento adequado
• Retrações níveis I, II e III tem menor tendência a progressão
• Quando a membrana consegue ser visualizada com nitidez em toda sua
extensão pode-se optar por conduta expectante

Tubos de ventilação não têm eficácia comprovada já que há uma melhora
temporária da retração porem logo após a extrusão do mesmo ocorreria
recidiva do quadro com a mesma gravidade
Pode-se por outro lado sintetizar o tratamento baseado na classificação citada
acima:
I e II
III
Observação clinica, valsalva, corticóide nasal
Observação clinica, valsalva, corticóide nasal
Considerar colocação de tubo de ventilação se refratário ao tratamento clinico
Considerar timpanoplastia se houver progressão do quadro
IV Timpanoplastia
Mastoidectomia se houver extensão da bolsa de retração para o antro mastóideo
TIMPANOSCLEROSE
a) Considerações gerais
É um processo localizado na orelha média e caracterizado por uma
degeneração hialina de tecido conjuntivo. Estas fibras hialinas formam lâminas densas
que se agrupam entre o osso e o epitélio da mucosa ou mesmo no estrato fibroso da
MT. Em longo prazo, sofre calcificação ou neoformação óssea.
Ocorre após processos inflamatórios, já com substituição do tecido conjuntivo
da MT por material hialino, denso, vascular e acelular, e depósito de cálcio. Há
vacúolos lipídeos após necrose por infecção. Sobre esta degeneração conjuntiva o
revestimento epitelial também se degenera.
b)Diagnóstico
Atinge pacientes jovens (20 a 30 anos), com hipoacusia progressiva e OMAs
de repetição. Manifesta-se clinicamente como placas calcáreas, normalmente
limitadas à lâmina própria da MT (forma mais superficial e menos aderida), podendo,
às vezes, infiltrar totalmente o ouvido médio, fixando ossículos, músculos e tendões e
o movimento de báscula das janelas oval e redonda (forma invasiva, mais aderente às
estruturas adjacentes)
Otoscopia: placas calcáreas, duras ou posteriores, puntiformes ou em placas.
Pode comprometer toda a MT exceto a Membrana de Sharpnell, que nunca é
acometida pelo processo. Uma perfuração anterior é freqüente.
Audiometria tonal: hipoacusia de condução, com gap variável com o grau de
envolvimento do ouvido médio.
Impedanciometria: pode ocorrer abolição do reflexo do estapédio (por alteração
da cadeia ossicular).
A evolução é estável e lentamente progressiva
b) Conduta: a melhor abordagem, caso necessária, é a timpanotomia com exploração
de cadeia. Recidivas após cirurgia são freqüentes.
OTITE MÉDIA CRÔNICA TUBERCULOSA
a) Características gerais
Apesar de sua incidência ter diminuído nas últimas décadas, a tuberculose é
uma infecção bacteriana necrotizante, com manifestações múltiplas e ampla
distribuição, e que ultimamente vem ressurgindo, devido a abandonos de tratamento e
principalmente pela pandemia de SIDA, trazendo inclusive cepas multiresistentes.
É causada basicamente a partir de disseminação hematogênica de foco
pulmonar pelo bacilo álcool-ácido resistente Mycobacterium tuberculosis, podendo
também ocorrer disseminação ascendente via tuba auditiva em pacientes bacilíferos.
É excepcional a infecção primária do ouvido, sem foco pulmonar detectável.
Atualmente, é rara a contaminação pelo M. bovis. Novas espécies estão sendo
incriminadas em imunocomprometidos (M. avium-complex, M. kansasii, outras).
A principal manifestação otorrinolaringológica é a tuberculose laríngea, seguida
pelo acometimento otológico.
b) Quadro clínico:
Há duas formas de apresentação:

Aguda (rara): que provoca destruição total da pars tensa da MT, edema
de mucosa e granulações com destruição dos ossículos e até ouvido
interno, com evolução rápida.


Crônica:
apresenta-se
com
perda
condutiva
importante
e
desproporcional aos achados, acompanhada de otorréia indolor.
Acompanha aumento de gânglios periauriculares.
A otoscopia é semelhante a OMA, com maior vascularização do cabo do
martelo. Na evolução surge a clássica imagem de múltiplas perfurações da MT, que
coalescem e formam uma única perfuração. Nesta fase surgem pólipos hemorrágicos
no CAE.



c) Diagnóstico
Critérios para diagnóstico de OMC tuberculosa
-OMC resistente ao tratamento com antibióticos, exceto tuberculostáticos
-Tecido granulomatoso na OM, extendendo-se até o CAE
-Disacusia de condução importante
-História de Tuberculose (ativa ou curada)
-Linfadenite regional, principalmente em crianças
-Reaçao de Mantoux (PPD) +
-Presença de paralisia facial
Suspeita-se na presença de três sinais e faz-se o diagnóstico quando cinco
sinais acima descritos estão presentes.
O diagnóstico fica mais evidente quando há sintomas de atividade da doença
(bacilíferos), com febre, adinamia, sudorese noturna, tosse, emagrecimento, etc.
A confirmação deve ser realizada com bacterioscopia, cultura e anátomo-
patológico (diagnóstico patognomônico: presença de granuloma caseoso).


d) Conduta
Tratamento etambutol +RIP para tuberculose e cuidados auriculares. As
seqüelas serão tratadas como qualquer OMC.

otites

INTRODUÇÃO
O órgão responsável pela audição é o ouvido, também chamada órgão vestíbulo-coclear ou estato-acústico. A maior parte da orelha fica no osso temporal, que se localiza na caixa craniana e é dividida em ouvido externo, médio e interno (BIRNEY, 2007).
Sabe-se que o ouvido médio é uma porção aérea, integrado na porção petrosa do osso temporal. Está dividido em três estruturas: caixa timpânica e ossículos, sistema pneumático do osso temporal e tuba auditiva (CHAVES, 1999).
A caixa timpânica está situada entre o conduto auditivo externo e ouvido interno. Desempenha papel importante na transmissão do som desde o ouvido externo até o ouvido interno e sustenta a cadeia ossicular. Qualquer alteração neste sistema e/ou nesta cavidade acarretará em aumento da imitância acústica em perda de audição. A cadeia ossicular é constituída por três ossículos, martelo, bigorna e estribo, que se relacionam entre si e são cobertos pela mesma mucosa da caixa. Encontram-se no centro da caixa timpânica, suspensos das paredes por ligamentos. A tuba auditiva é um canal que estabelece a ligação entre a cavidade timpânica e a nasofaringe. Formada em parte óssea e cartilaginosa e tecido fibroso, tem função de equilibrar as pressões de ar entre o ouvido médio e o ouvido externo, propiciando a renovação de ar da cavidade timpânica todas as vezes que o sujeito deglute. O trajeto tubário está inclinado para baixo o que facilita a ida de produtos da rinofaringe para o ouvido médio, predispondo o surgimento de otites (CHAVES, 1999).
Assim, conhecendo a fisiologia da orelha média podemos entrar no assunto em questão, Otite Média.
Otite é o termo médico usado para toda infecção do ouvido, que pode ocorrer no ouvido externo ou médio e pode ser aguda ou crônica. Dessa forma, otite média é a inflamação do ouvido médio, sendo a mais freqüente das doenças do ouvido (MINITI et al., 2001).
O mau funcionamento da tuba auditiva é o fator mais importante na patogênese das doenças do ouvido médio. Assim, grandes partes dos doentes com otite média apresentam função anormal da tuba auditiva, representada por inflamação com sinais e sintomas bem característicos (MINITI et al., 2001).
As conseqüências das otites médias sobre o equilíbrio e o comportamento das crianças principalmente são instigantes, tendo se tornado objeto de vários estudos clínicos e psicológicos ao longo dos últimos anos (GOLZ et al., 1998).
O período mais curto de aleitamento materno, o ingresso precoce em creches e a convivência com grande número de crianças na mesma creche/escola são alguns dos fatores que aumentaram a incidência de otites médias na infância. Nos últimos 20 anos, a incidência de otite média aguda (OMA) aumentou 68% na Finlândia. Nos países subdesenvolvidos, a otite média crônica (OMC) – caracterizada pela perfuração timpânica – continua a ser causa importante de perda auditiva na infância (BALBANI; MONTOVANI, 2003).
Portanto, devido suas características a otite média é uma patologia muito freqüente no dia-a-dia, principalmente no ambiente farmacêutico, sendo muito comum pessoas chegarem à farmácia buscando auxílio. E para melhor orientar é fundamental profissionais de saúde apresentar conhecimento sobre essa doença.
OTITE MÉDIA
A infecção causada por patógenos das vias aéreas superiores é favorecida pela obstrução da drenagem através das tubas auditivas edemaciadas e congestionadas. Ou seja, vírus e bactérias, normalmente infectando o nariz e faringe, ascendem pela tuba auditiva e causam acúmulo de pus dentro do ouvido médio. Perfuração de membrana timpânica e secreção purulenta podem ocorrer. (ANDREOLI et al., 2005).
A otite média é uma infecção da orelha média observada primariamente entre crianças na faze pré-escolar, ocasionalmente em adultos. Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Moraxella catarrbalis são os patógenos mais comuns, e infecção viral com otite serosa pode predispor à otite média aguda (ANDREOLI et al., 2005).
Sinais e sintomas básicos da otite média são: dor e secreção no ouvido, perda de audição, febre, letargia, vertigens, tinido. E o diagnóstico pode ser feito por: otoscopia (que mostra perda de nitidez ou distorção das marcas ósseas na membrana do tímpano), pneumatoscopia (pode mostrar a diminuição da mobilidade da menbrana do tímpano) e também cultura da secreção para identificação de agente causador (BIRNEY et al., 2007). Em crianças, entretanto, sintomas localizados podem não estar presentes. A membrana timpânica pode parecer inflamada, porém para diagnosticas a otite média, devemos observar líquidos atrás da membrana (ANDREOLI et al., 2005).
As complicações da otite média são raras, mas incluem infecções nas células aéreas da mastóide, meningite bacteriana, abscesso cerebral e empiema subdural (ANDREOLI et al., 2005).
    1. Otite média aguda (OMA)
Otites médias agudas traduzem processos inflamatórios do ouvido médio. São desencadeadas, na sua totalidade, em virtude de infecções das fossas nasais, cavidades sinusais paranasais e rinofaringe, propagadas ao ouvido médio através da tuba auditiva (HUNGRIA, 2000).
Influenciada também por fatores hereditários, o que explica porque certas pessoas e famílias são mais expostas que outras a da otite média aguda (MINITI et al., 2000). Presença de fenda palatina, deficiências nutricionais e imunológicas são fatores também de prediposição (HUNGRIA, 2000).
Do ponto de vista anatomoclínico, as otites médias agudas podem ser divididas em: simples, necrosante, latentes e secretoras (HUNGRIA, 2000).
      1. Otite média aguda simples (OMA)
A obstrução da tuba auditiva decorrentes de hipertrofia das vegetações adenóides e de reações alérgicas e os processos inflamatórios infecciosos agudos da fossas nasais e rinofaringe constituem os fatores etiológicos básicos das otites médias aguda simples. Assim, se caracterizam por otalgia súbita, de maior ou menos intensidade, geralmente no decurso de rinite catarral aguda do resfriado (HUNGRIA, 2000).
Ao lado as dor, que se exacerba nos movimentos de deglutição e no ato de assoar o nariz, observam-se também hipoacusia, sensação de plenitude auricular, ruídos. Uma características fundamental de otite média aguda simples é a sua tendência à cura espontânea, ou seja,a não havendo passagem do processo inflamatório ao processo crônico (HUNGRIA, 2000).
Pode repercutir no estado geral e o paciente, muitas vezes criança, fica abatido, tem febre e, sobretudo se for lactente, sofrerá de perturbações digestivas (vômitos, diarréia). A pessoa, por vezes, se queixará de pequena diminuição da acuidade auditiva (MINITI et al., 2001).
A otoscopia mostrará o tímpano vermelho e congestionado no estágio catarral, tendendo a um estado purulento, a menos que uma perfuração já tenha permitido o começo de esvaziamento do pus (MINITI et al., 2001).
O tratamento para a OMA consiste em utilização de analgésicos. E como medidas não farmacológicas auxiliar o paciente a fazer aplicações de calor úmido e brando sobre o ouvido e não assoar o nariz com força, de modo a evitar agravação da otite (HUNGRIA, 2000).
      1. Otite média aguda necrosante (OMN)
A otite média aguda necrosante, instala-se no decurso de febres eruptivas, notadamente sarampo e escalatina. Esta se caracteriza por acarretar ampla perfuração da membrana timpânica. Pode ser sem dor devido à necrose fulminante das partes moles da membrana do tímpano, incluindo terminações nervosas sensitivas. A perfuração é acompanhada de otorréia purulenta e lesões nas mucosas irreversíveis da caixa do tímpano (HUNGRIA, 2000).
O microorganismo mais encontrado causando a OMN é o Streptococcus beta-hemolítico, cujas toxinas destroem a parte tensa da membrana do tímpano acarretando na perfuração (HUNGRIA, 2000).
Após a fase aguda, essa otite apresente tendência a se transformar em otite média crônica simples ou colesteatomatosa. Quando se observa cura espontânea esta se processa por meio de reparação fibrosa cicatricial (MINITI et al., 2001).
O tratamento é tentar evitar a passagem do processo necrosante à cronicidade ou facilitar a cura por fibrose cicatricial. Para isto, é necessário instituir precocemente medicações antibióticas (CHAVES, 1999).
      1. Otite média latente (OML)
Pode apresentar-se como um quadro sintomatológico geral polimórfico, mas, na maioria dos casos, traduz-se por temperatura elevada, diarréia aquosa
e rebelde a todo tratamento, vômitos e perda rápida de peso (HUNGRIA, 2000).
A dificuldade diagnóstica para a OML reside precisamente na ausência de sintomatologia subjetiva e objetiva para o lado do aparelho auditivo. Para o tratamento é realizado paracentese do tímpano com objetivo de estabelecer o máximo possível de drenagem (HUNGRIA, 2000).
      1. Otite média secretora (OMS)
É caracterizada pela presença de secreção no ouvido médio, e essa secreção pode ser do tipo seroso ou mucoso, sem perfuração da membrana timpânica (MINITI et al; 2001).
Disfunções tubárias que causem hipoventilação, distúrbio de drenagem e as inflamações pós-infecciosas da mucosa do ouvido médio são fatores na qual a OMS pode aparecer (MINITI et al; 2001).
As modificações gasosas intratimpânicas, principalmente o aumento da taxa de CO2 dão origem à metaplasia da mucosa do ouvido médio à custa de células que são responsáveis pela produção de muco, sendo mais ou menos viscosos (MINITI et al; 2001). Essa metaplasia, portanto, determina alterações nos movimentos ciliares, e estas alterações ciliares dificultam a drenagem das secreções pela tuba, devido às alterações da viscosidade do muco e da pressão negativa intratimpânica (MINITI et al; 2001).
A OMS é a causa mais freqüente de hipoacusia em crianças e sua gravidade reside no fato de que muitas vezes a OMS se estende por semanas sem solução, ainda que na maioria dos casos haja resolução espontânea em poucos dias (HUNGRIA, 2000).
Essa otite tem origem no acúmulo de líquido no interior da orelha média. Tal líquido surge após obstrução da drenagem natural oferecida pela tuba auditiva e se acompanha de alterações inflamatórias e degenerativas da mucosa da caixa timpânica (MINITI et al; 2001).
O processo inflamatório pode durar dias ou meses, período em que o líquido causará perda auditiva ao paciente. Das possíveis causas para a obstrução, são comuns os processos alérgicos e a hipertrofia de adenóides. Disfunções da tuba auditiva e infecções também são citadas como causadoras de OMS (MINITI et al; 2001).
A hipoacusia por OMS pode provocar perda de 15 a 40dB na orelha afetada. A discriminação vocal nesses pacientes sofrerá evidente diminuição, pela perda parcial da acuidade auditiva. Tais dados reforçam a idéia de que a perpetuação do quadro clínico ocasionará dano cognitivo ao paciente, seja na boa articulação da fala, seja na adequada aquisição da linguagem (CHAVES, 1999).
Na maioria dos casos de otite média secretora, conseguem-se recuperação auditiva, e regressão de possíveis alterações histológicas do forro mucoso do ouvido médio. Numa minoria de casos, a otite média secretora se apresenta rebelde a todos os tratamentos médicos, inclusive a colocação de tubo de ventilação, levando para recidivas, complicações e seqüelas (HUNGRIA, 2000).
O tratamento proposto para os casos se dá pelo uso de antibióticos orais, terapia justificada por culturas positivas em um terço dos casos avaliados. Alguns preferem realizar o tratamento com corticosteróides nas suas mais diversas vias – oral, sprays e injetável – por sua ação anti-inflamatória. Também é utilizada, em menor escala, a terapia com manobras de insuflação. As manobras de insuflação se justificariam por provocar a abertura passiva e ativa da tuba auditiva, o que favoreceria o retorno às condições habituais na caixa timpânica.
    1. Otite média crônica (OMC)
A otite média crônica é definida como a presença de alterações teciduais, de origem inflamatória, irreversíveis na orelha média. Apresenta alta prevalência e distribuição mundial (SCHEIBE et al., 2002). Caracteriza-se pela existência de drenagem permanentes no ouvido, com fases subagudas ou mesmo agudas eventuais. A dor é pouca, às vezes nenhuma e o paciente não se sente molestado. Deve, entretanto, saber que está ameaçado por sérias complicações: surdez por destruição do ouvido médio, formação de pólipos que fazem correr o risco de otorragia, mastoidite e, sobretudo colesteatoma. O tratamento consiste na antibioterapia por via geral e local; pós de antibióticos deverão ser regularmente instilados no ouvido; não se deve também desprezar as terapêuticas coadjuvantes, tais como aplicações de infravermelho e sobretudo termais (SCHEIBE et al., 2002).
A otite média crônica pode ser classificada em simples, supurativa e colesteatomosa (HUNGRIA, 2000).
      1. Otite média crônica simples (OMC)
Na otite media crônica simples há uma perfuração timpânica de qualquer etiologia na qual as alterações do ouvido médio e mastóide não são permanentes, levando em alguns casos a surdez do tipo condutivo (MINITI et al; 2001).
É quase sempre secundária a uma otite aguda necrosante, que se caracteriza por um grau de moderada intensidade e cessa, geralmente, pela restauração dos tecidos inflamados a um estado de quase normalidade, mas deixando como sequela uma perfuração da parte tensa da membrana timpânica. O processo infeccioso crônico se restringe ao forro mucoso da orelha média, em maior ou menor grau de intensidade (HUNGRIA, 2000).
Deve-se realizar na OMC cuidados locais por meio de curativos, cauterizações de tecido granuloso, instilações de preparados à base de antibióticos cujo uso não deve ser prolongado, de modo a evitar resistência bacteriana (HUNGRIA, 2000).
      1. Otite média crônica supurativa (OMCS)
A otite média crônica supurativa (OMCS) é uma entidade em que existem fatores envolvidos no quadro da otite crônica que predispõe a um quadro de infecção constante, onde a otorréia é permanente, sendo acalmada somente durante um tratamento antimicrobiano (MINITI et al; 2001). Esse exudato mucucatarral, mucupurulento ou totalmente purulento, oriundo do ouvido médio e drenado através do meato acústico externo (HUNGRIA, 2000).
2.2.3 Colesteatoma
O colesteatoma é uma lesão de tecido epidérmico e conectivo, e é constituído de epitélio escamoso estratificado, com formação abundante de queratina (MINITI et al; 2001).
Segundo a teoria de invaginação epitelial do colesteatoma, o epitélio do meato acústico externo cresce para o interior da cavidade timpânica através dessa perfuração marginal, recobre e cicatriza áreas ósseas, resultantes da otite média aguda necrotizante. Em virtude da descamação permanente de sua camada externa, a Matriz dá origem à formação de lâminas epiteliais contínuas, que se vão extratificando umas sobre as outras, provocando, assim, o crescimento ininterrupto do cisto colesteatomatoso nas cavidades do ouvido médio (HUNGRIA, 2000).
2.3 Otite média tuberculosa (OMT)
A otite média tuberculosa instala-se secundária a um foco pulmonar apresentando tendência nítida a cronificar. O mecanismo patogênico se processa por via hematogênica ou por via canalicular, através da tuba auditiva (HUNGRIA, 2000).
As lesões podem graduar-se desde infiltração da mucosa do ouvido médio até o processo de ulceração e necrose. Existindo corrimento purulento e fétido, tímpano com várias perfurações ou totalmente destruído. Podendo aprsentar como complicação paralisia fácil, decorrente da destruição do canal de Falópio e também surdez do tipo misto (HUNGRIA, 2000).
O diagnóstico da OMT é feito por exame bacterioscópico e cultura do exsudato purulento. O tratamento na cura da lesão primária e nos curativos anti-sépticos locais e cirurgia (KATZ, 1989).
    1. Tratamento e prevenção da Otite Média
De maneira geral, o tratamento pode ser feito por antibióticos em alguns casos, que tenha presença do estágio catarral. No estágio purulento, fará a perfuração (miringotomia) do tímpano com uma agulha apropriada, a fim de permitir a saída do pus (ANDREOLI et al., 2005).
Antibióticos normalmente efetivo usado no tratamento de otite média podem ser amoxacilina-ácido clavulânico, trimetropim-sulfametoxazol ou cefaclor. Fármacos como os antiinflamatórios ou os anti-histamínicos podem complementar as opções terapêuticas (ANDREOLI et al., 2005).
O médico atentará cuidadosamente para a evolução da infecção, porque sabe que uma otite mal tratada pode degenerar em mastoidite, eventualmente grave que faz correr o risco de uma meningite (ANDREOLI et al., 2005).
Para prevenir a otite é recomendado cuidar ao alimentar o lactente, para evitar a drenagem do alimento para a trompa auditiva. Observar a freqüência na qual ocorre a infecção, e tomar cuida com o uso de cotonetes evitando sempre mexer no ouvido, se proteger ao mergulhar, entre outros (KATZ, 1989).
CONCLUSÃO
A otite média é um acúmulo de fluído no espaço da orelha média, que resulta em diversas mudanças patológicas ou destruição de algumas estruturas da orelha.
Por ser uma doença bastante comum em crianças, e o principal sintoma da otite em geral é a diminuição da audição, esta pode acabar causando um mau aproveitamento escolar e comprometendo também a aquisição e o desenvolvimento das linguagens no período pré - escolar e escolar (BALBANI; MONTOVANI, 2003).
Assim, pelo fato de ser considerada como a doença mais comum na infância, deve ser encarada como um problema básico de saúde. Dessa forma, procedimentos em direção à sua identificação e seu tratamento devem ser adotados o mais cedo possível. Melhor do que isso, condutas tomadas no sentido de evitar ocorrências, promovem uma condição de saúde bem mais satisfatória para a população infantil, prevenindo os períodos de privação sensorial e suas graves conseqüências.
Como farmacêutico é de extrema importância conhecer os sintomas da otite média, além disso, ter consciência da gravidade que a mesma pode causar ao paciente, orientando assim sempre consultar o médico para evitar complicações.
Em um estudo realizado, apenas 32% das farmácias orientam que se procure um médico na hora de prescrever medicamentos para a otite média. Foram pesquisadas 25 farmácias procuradas para tratamento da otite média aguda em crianças. Os resultados mostraram que em apenas oito farmácias (32%) foi dada orientação para procurar um médico, embora em sete desses casos, apesar do conselho, o balconista tenha se proposto a vender alguma medicação. Das 24 farmácias onde houve indicação de medicamentos, três balconistas prescreveram antibióticos, sem nenhum exame que comprovasse necessidade (GIACOMINI, 2000).
Portanto, a otite média é de grande prevalência, acometendo principalmente crianças. E pelo fato de ter inúmeras conseqüências como já mostrado, deve ser diagnosticada e tratada precocemente. Para isto devemos contar com o bom senso de farmacêuticos e médicos na hora de escolher o tratamento ideal para estes pacientes. Ou seja, realizar exames confirmando diagnósticos antes de prescrever qualquer medicação, uma vez que um tratamento mal feito pode gerar complicações da otite favorecendo sua cronicidade.
ANEXOS
Fugura 1: Anatomia do ouvido humano.
Na figura pode ser observado as estruturas citadas no presente trabalho, como também a divisão em ouvido externo, médio e interno.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

anatomia

1
Anatomia do Osso Temporal
Introdução
A anatomia do osso temporal não é fácil de ser compreendida em virtude do grande
número de estruturas e funções agrupadas nesse pequeno espaço ósseo, inexistente em
qualquer área no corpo humano. Portanto, deve-se adquirir o conhecimento teórico,
acompanhado do estudo prático, realizado em cadáveres, para o domínio desta estrutura.
O osso temporal é um osso par que contribui para a parede lateral e para a base do
crânio, formando parte da fossa média e posterior do crânio.
Morfologicamente, o osso temporal difere segundo a idade. No feto, o osso temporal
pode ser dividido em três porções: escamosa (ocupa a parte anterior e superior do osso e é
constituída de uma lâmina delgada irregularmente circular), petrosa (posterior e internamente
a porção escamosa apresentando paredes resistentes, e que pode ser descrita como uma
pirâmide cuja base forma parte da superfície exterior do crânio, com ápice que se dirige
interna e anteriormente), e porção timpânica (situada inferiormente à porção escamosa,
externamente à porção petrosa, com a forma de um círculo).
Com o desenvolvimento do feto ocorre a fusão entre as porções escamosa e petrosa,
desaparecendo a fissura petroescamosa, desenvolvendo-se póstero-inferiormente e dando
origem à porção mastóidea do osso temporal. O osso timpânico cresce medialmente,
desaparecendo a fissura petrotimpânica, formando um canal semicircular com concavidade
superior, que posteriormente irá formar as paredes anterior, inferior e posterior do conduto
auditivo externo, sendo sua parede superior formada pela porção escamosa.
Uma vez terminado seu desenvolvimento, o osso temporal é absolutamente indivisível,
sendo necessário conhecer suas transformações para encontrar suas três porções primitivas.
Didaticamente pode-se dividí-lo em cinco porções: mastóidea e petrosa (derivadas da porção
petrosa), porção escamosa, porção timpânica e processo estilóide.
O meato acústico externo pode ser visualizado como ponto de referência anatômica,
desta forma a porção escamosa se dirige superiormente, a mastóidea posteriormente, a
timpânica ântero-inferiormente e a petrosa medialmente.
O osso temporal se articula com o osso esfenóide (asa maior), parietal, occipital,
zigomático, mandíbula e com o osso hióide por intermédio de ligamentos.
Porções do osso temporal
Porção Escamosa
A porção escamosa forma a região superior e ântero-lateral do osso temporal. É
delgada e em formato de concha, sendo constituída por uma lâmina óssea vertical que
apresenta uma face medial cerebral e outra lateral temporal. Na sua parte ântero-inferior tem
origem a apófise zigomática, que juntamente com o osso zigomático dará origem ao arco
zigomático (local de inserção do músculo masseter). O processo zigomático divide a escama
em 3 regiões:
2
Parte vertical: sua face externa é coberta pelo músculo temporal fazendo parte da fossa
temporal. A sua face interna está em contato com a dura-máter, apresentando em sua
superfície irregularidades correspondentes à projeção de sulcos e giros cerebrais, dentre os
quais o mais profundo que corresponde à artéria meníngea média, ramo da artéria temporal
superficia.
Essa porção da escama está em contato com as outras partes: horizontal (ou inferior) e
retromeática.
Parte inferior ou horizontal: na união entre as porções inferior e vertical tem origem a apófise
zigomática. Distingue-se nessa região diversas faces: superior, de projeção da artéria
meníngea média (que se prolonga até o forame redondo menor), em grande parte pelo tegmen
timpani; inferior, onde pode-se observar anteriormente ao meato acústico externo a fossa
glenóide, local de articulação com o côndilo mandibular.
Porção retromeática: corresponde à parede posterior do CAE e região anterior da mastóide.
Posteriormente encontra-se a cisura petroescamosa, local de união com o osso petroso.
Póstero-superiormente ao CAE observamos uma pequena eminência de grande importância
cirúrgica, a espinha supra-meatal ou de Henle. Posteriormente a essa visualiza-se a área
crivosa, área de projeção das células mastóideas sobre a superfície temporal.
Traçando-se uma linha horizontal da área crivosa em direção ao crânio, encontra-se o
antro mastóideo.
Porção Mastóidea
Trata-se de uma projeção cônica da parte petrosa do osso temporal, unindo-se a
escama e ao osso timpânico anteriormente. Sua superfície lateral é local de inserção para os
músculos occipitais, auricular posterior, longo e esplênio da cabeça, apresentando um ou mais
forames que correspondem ao ramo mastóideo da artéria occipital e a veia mastóidea. A
depressão que se observa posteriormente à espinha de Henle corresponde à fossa mastóidea.
O ramo auricular do nervo vago penetra no osso temporal através da fissura
timpanomastoidea (que une a mastóide ao osso timpânico). No adulto a mastóide contém
espaços aéreos, as células mastóides, sendo o antro (que é revestido por mucosa e que
comunica a mastóide com o ouvido médio) a maior delas. Na sua superfície inferior,
encontra-se o processo mastóide, local de inserção do músculo esternocleidomastoideo, a
incisura do digástrico (local de inserção de seu ventre posterior) e o sulco da artéria occipital.
Medialmente à incisura do digástrico notamos o forame estilomastoideo (local de passagem
do nervo facial, artéria estilomastoidea e o ramo auricular do vago, em alguns casos).
Em sua superfície medial, visualiza-se uma depressão profunda, correspondente ao
sulco sigmóide, que aloja em seu interior o seio venoso sigmóide da dura-máter.
Porção Petrosa
Trata-se da porção mais complexa do osso temporal pela quantidade de estruturas
anatômicas que a ela se relacionam. Apresenta forma de pirâmide de três lados, sendo a base
voltada para a face externa do crânio e o ápice dirigido à face interna e anterior. A borda
superior do petroso é formada pela união da face posterior (ou cerebelar) e anterior (ou
cerebral).
3
Divide-se em três porções: anterior (formando parte da fossa média e com inclinação
ântero-inferior), inferior (relacionada aos grandes vasos e nervos do pescoço) e posterior
(relacionada à fossa posterior).
Superfície anterior: em sua região lateral observa-se a fissura petroescamosa, local de fusão
com a escama. Sua margem anterior (conhecida como ângulo anterior) é livre, formando
juntamente com a asa maior do osso esfenóide uma abertura conhecida como canal
musculotubal, que pode ser dividido em uma parte superior estreita, o semicanal para o
músculo tensor do tímpano, e uma porção inferior maior, o semicanal para a tuba auditiva.
Próximo à região central da superfície anterior, encontra-se a eminência arqueada
(correspondente projeção do canal semicircular superior na fossa média). Em posição ânterolateral
à eminência arqueada, o tegmen timpani forma o teto da cavidade timpânica.
Anteriormente em direção ao ápice da pirâmide, existem duas aberturas: a medial,
correspondente ao hiato do facial (região do joelho do nervo facial, de onde parte o nervo
petroso superficial maior e o ramo petroso superficial da artéria meníngea média), e a lateral,
que corresponde à abertura superior do canalículo timpânico, por onde passa o nervo petroso
superficial menor e a artéria timpânica superior. Posteriormente ao hiato situa-se o tegmen
timpani, que forma o teto da cavidade timpânica, tuba auditiva e antro mastóideo (esta
estrutura é constituída por uma lâmina óssea delgada e é um dos principais de propagação de
infecções do ouvido médio para o SNC).
Superfície posterior: trata-se de uma placa vertical, mais extensa por fora que por dentro, que
faz relação com a fossa craniana posterior formando seu limite anterior. Apresenta em sua
região superior, aderido a margem cranial da dura-mater, a projeção do seio petroso
superficial superior. Inferiormente, no nível do ângulo posterior da pirâmide, o petroso se
funde com o osso occipital, sendo essa união representada pela presença do seio petroso
superficial inferior. Nesta superfície, encontra-se localizado entre a base e o ápice da pirâmide
o meato acústico interno, por onde passam os nervos facial e vestíbulo-coclear (VII e VIII
pares cranianos). O limite lateral do conduto auditivo interno é fechado por uma lâmina óssea
vertical que o separa do vestíbulo e que contém várias perfurações destinadas à passagem de
filamentos nervosos (área cribiforme). Esta lâmina é dividida por uma crista óssea transversal
conhecida como crista falciforme, que a divide em dois compartimentos: superior e inferior.
No compartimento superior, menor em sua dimensão, existe também uma lâmina óssea
vertical chamada de Barra de Bill (Bill´s Bar), que divide o compartimento superior em
anterior ( onde situa-se o nervo facial), e posterior (onde situa-se o ramo vestibular superior
do nervo vestibular). Já no compartimento inferior há a passagem do ramo coclear do VIII
par anteriormente, e o ramo vestibular inferior posteriormente.
Atrás da abertura do meato, entre este e o sulco petroso superior encontra-se a fossa
subarqueada (em direção ao canal semicircular superior), que no feto representa ponto de
passagem para pequenos vasos nutrientes da cápsula ótica, e que no adulto se encontra
geralmente vazia. Em posição látero-inferior, entre o meato acústico e o sulco sigmóide
encontramos o aqueduto vestibular, que contém um prolongamento do labirinto membranoso;
e o ducto endolinfático, que serve de transmissão para o saco endolinfático. A abertura do
aqueduto é revestida por uma fina camada óssea, formada por uma depressão inferior a ela
que contém a porção intradural do saco endolinfático. Inferiormente ao conduto auditivo
encontra-se o canalículo coclear, onde se visualiza o aqueduto coclear (ducto perilinfático).
O seio petroso superficial superior e inferior desembocam respectivamente no seio sigmóide e
no bulbo da jugular. O seio sigmóide, continuação do seio transverso, dirige-se ínferomedialmente
e desemboca no bulbo da jugular.
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Superfície inferior: situa-se num plano horizontal. Nesta superfície encontra-se a fossa
jugular, situada anteriormente ao processo estilóide e posteriormente ao canal carotídeo.
Juntamente com o osso occipital, forma o forame jugular. A parte lateral do forame contém o
seio sigmóide, e a parte medial é ocupada pelo seio petroso inferior, nervo glossofaríngeo e
seu gânglio superior, nervo vago e seu gânglio jugular, e nervo acessório. Anteriormente ao
compartimento lateral do forame, encontra-se o bulbo da jugular, que é uma dilatação da veia
jugular interna. A saída do nervo hipoglosso do crânio ocorre através do canal hipoglosso
lateralmente ao forame magno.
Anteriormente à fossa jugular, está localizado o canal carotídeo, que serve de entrada
para a artéria carótida interna no crânio, acompanhada de seu plexo de nervos simpáticos.
Próximo ao forames externos, encontram-se pequenas aberturas que são os canalículos
caróticotimpânicos, que servem de passagem de artérias e nervos para o ouvido médio.
Portanto, a artéria carótida interna penetra na cavidade craniana através do canal carotídeo,
descrevendo um arco por dentro do osso temporal em direção ao ápice petroso, sendo que seu
trajeto passa inferior à tuba auditiva e à cóclea.
Inferiormente, na junção do canal carotídeo com a fossa jugular, encontra-se alojado o gânglio
petroso do nervo glossofaríngeo, de onde sai seu ramo timpânico (nervo de Jacobson), além
do ramo timpânico da artéria faríngea ascendente. Posteriormente à fossa jugular, o petroso
articula-se com o processo jugular do osso occipital.
Processo Estilóide
Na face lateral do petroso está localizado o processo estilóide, que se dirige ânteroinferiormente
e mede aproximadamente 2,5 cm. Em sua base fica o forame estilomastoideo,
orifício externo do canal facial (local de passagem para o nervo facial, artéria estilomastoidea
e eventualmente o ramo auricular do vago).
O processo estilóide é uma porção óssea fina que nasce abaixo do osso timpânico,
sendo que três músculos apresentam origem neste processo: estiloióide, estiloglosso e
estilofaríngeo. Este osso apresenta grande variação anatômica e pode chegar a atingir o osso
hióide.
Porção Timpânica
Trata-se do menor osso que contribui para a formação do osso temporal e apresenta
forma quadrilátera. Forma parte da parede anterior, interior e posterior do CAE e se articula
com a escama e o petroso, formando através da apófise vaginal uma bainha para o processo
estilóide.
A região externa de sua porção póstero-inferior apresenta um sulco para a inserção da
membrana timpânica. Separa-se da cabeça da mandíbula através de uma pequena quantidade
de tecido de glândula parótida. A sua superfície medial e ântero-inferior é fina, é, por vezes,
apresenta um pequeno foramen (de Huschke) porção não ossificada embriologicamente.
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Anatomia da Orelha
Orelha externa
Consiste em duas porções: o pavilhão auditivo e o meato acústico externo, canal
fechado em sua parte medial pela membrana timpânica, o que faz o limite da orelha média.
Pavilhão auricular
O pavilhão auditivo encontra-se anterior à mastóide e posterior à articulação
temporomandibular. Situa-se entre duas linhas horizontais que passam sobre as
sombrancelhas e pela base do nariz.
A aurícula geralmente forma com o plano sagital da cabeça um ângulo de 30 graus. A
sua topografia é geralmente determinada pelo contorno de sua cartilagem. Apresenta na
superfície interna ou posterior (convexa), e outra externa, ou anterior (côncava). A concha
auricular é uma escavação localizada na porção medial da cartilagem, delimitada
anteriormente pelo tragus. Súpero-posteriormente encontra-se delimitada pela anti-hélice e
sua cruz anterior. Inferiormente, apresenta como limite o anti-tragus que se separa
posteriormente da anti-hélice através do sulco auricular posterior e anteriormente do tragus
pela incisura intertrágica.
A concha divide-se na cruz da hélice em uma porção superior (cimba conchae), e uma
porção inferior (cavum conchae), sendo o cavum margeado pelo tragus que por sua vez se
projeta posteriormente sobre o CAE.
A hélice se projeta superiormente e posteriormente da sua cruz terminando no lobo,
descrevendo um “círculo”. O tubérculo auricular ocasionalmente se projeta em seu aspecto
póstero-superior. Existem ainda duas depressões adicionais: a fossa triangular, localizada
entre as cruras da anti-hélice, além da fossa escafóide, que é um sulco posterior separando a
hélice da anti-hélice.
A aurícula é constituída de cartilagem elástica com espessura variando de 0,5 a 2 mm,
cuja forma é a mesma do pavilhão, e que continua anterior e inferiormente para formar o
esqueleto cartilaginoso do CAE. O pavilhão se encontra aderido ao crânio através de
ligamentos, cartilagem, pele e músculos.
Existem três ligamentos e três músculos extrínsecos da aurícula: superior, anterior e
posterior. O ligamento superior comunica a superfície externa óssea do CAE à espinha da
cartilagem da hélice, o anterior conecta o zigoma a hélice e tragus, e o posterior a eminência
da concha ao processo mastóide.
Os três músculos extrínsecos originam-se da gálea aponeurótica. O superior insere-se
na eminência da fossa triangular, o anterior na espinha da hélice e o posterior na eminência da
concha ao processo mastóide.
Os seis músculos intrínsecos da aurícula apresentam grande variabilidade, sendo
quatro deles na superfície lateral e dois na superfície medial. São eles grande e pequeno
músculo da hélice, músculo do trago, músculo do antítrago, músculo transverso e músculo
oblíquo.
O revestimento cutâneo reproduz de forma irregular o contorno da cartilagem, sendo
separado da cartilagem em algumas regiões apenas por tecido celular subcutâneo. Na sua face
medial está a pele fracamente aderida, com presença de pouco tecido adiposo. Em sua face
externa a pele está fortemente aderida ao pericôndrio, sendo seu descolamento difícil. Os
anexos usuais da pele estão presentes. As glândulas sebáceas localizam-se preferencialmente
na região da concha e fossa triangular.
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Conduto Auditivo Externo
Apresenta de 22 a 27 mm em sua parede póstero-superior e cerca de 31 mm na ânteroinferior,
devido à inclinação da membrana timpânica. Seu diâmetro vertical é, em média, de
10 mm na entrada do conduto e 8 mm na parte óssea, enquanto seu diâmetro ântero-posterior
é de 7 a 9 mm na entrada e 4 a 5 mm na parte óssea. É constituído por um canal ósseo
internamente (com cerca de 15 mm) e por um canal fibrocartilaginoso externamente. O ponto
mais estreito do canal está localizado próximo à junção entre as duas porções do canal e é
conhecido como istmo.
A pele da porção óssea do canal é mais estreita (0,2 mm), sendo contínua com a pele
da membrana timpânica. O tecido subcutâneo não apresenta glândulas ou folículos pilosos na
porção óssea. A pele da porção cartilaginosa apresenta em média 0,5 a 1 mm de espessura,
sendo o terço lateral desta repleta de folículos pilosos. As glândulas sebáceas e ceruminosas
apresentam uma distribuição que segue a dos folículos pilosos.
O conduto ósseo é constituído por duas formações ósseas: a timpânico e a escamosa,
que forma parte da sua parede superior e posterior.
A parede anterior do conduto auditivo relaciona-se com a articulação têmporomandibular,
e sua parede posterior está separada das células mastóides por uma fina camada
óssea, sendo o conduto mais profundamente limitado posteriormente pelo recesso do facial.
Sua parede inferior está em contato com a loja parotídea, e sua parte superior, formada pela
escama temporal, em contato com a base do crânio.
A irrigação do pavilhão e do meato provém de ramos da artéria temporal superficial e
auricular posterior, ramos da artéria carótida externa. Sua inervação motora é feita através do
nervo facial, enquanto que sua inervação sensitiva é feita através do ramo auricular do plexo
cervical superficial (porção póstero-inferior), nervo aurículo-temporal, ramo do trigêmio
(porção anterior e pequena parte do conduto) e através do nervo intermediário de Wrisberg
(ramo do facial), a concha e parte inicial do conduto (zona de Ramsay-Hunt). O ramo
auricular do vago inerva a parte profunda do conduto e do tímpano.
Orelha Média
Constituída pela membrana timpânica, cavidade timpânica, células mastóides, antro
mastóide e tuba auditiva. Separa-se da orelha externa através da MT e se comunica com a
orelha interna através das janelas oval e redonda.
Membrana Timpânica
Apresenta forma cônica e elíptica, com sua porção mais saliente voltada para a
cavidade timpânica devido à pressão exercida pelo cabo do martelo. Seu diâmetro vertical
varia de 8,5 a 10 mm, enquanto o horizontal varia de 8 a 9 mm, com cerca de 75 mm² de área.
Seu ângulo de inclinação varia de 30 a 35 graus ao nascimento e 45 graus no adulto. A MT
está inserida na profundidade da porção óssea do CAE por uma faixa de tecido conjuntivo, o
ligamento de Gerlach.
O ápice da concavidade do cone é conhecido como umbus, correspondendo a ponta do
cabo do martelo. A proeminência do martelo, projeção formada pelo processo lateral do
martelo, localiza-se na superfície superior do manúbrio, firmemente aderido a membrana no
umbus e processo lateral, sendo claramente visível em sua extensão (estria maleolar). A estria
se estende do processo lateral para a espinha timpânica anterior e posterior, respectivamente.
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Esta estria divide a MT em duas porções: a pars tensa inferior e a pars flácida triangular
(membrana de Schrapnell), superior.
A espessa periferia da pars tensa, o anulus timpânico ancora a MT no sulco timpânico.
O anulus timpânico e o sulco estão ausentes superiormente (área conhecida como incisura de
Rivinus) e o anulus encontra-se incompleto na concavidade formada pela pars flácida. O
sulco timpânico termina superiormente em duas extremidades: as espinhas maior e menor.
Na região da pars tensa (mais espêssa) e flácida diferem em sua estrutura: a tensa
consiste de 3 camadas, epidérmica, mucosa e intermediaria fibrosa. A epidérmica é continua
com a pele do CAE, enquanto a mucosa é continua com a membrana mucosa do ouvido
médio. A pars flácida é mais frouxa, também consiste de três camadas, sendo sua camada
intermediaria menos pronunciada.
As artérias correm na superfície da membrana e a irrigação da mucosa provém do
ramo timpânico anterior da artéria maxilar e do ramo estilomastoideo da artéria auricular
posterior. Os nervos acompanham os vasos e são derivados do ramo auriculo-temporal do
nervo mandibular, além de ramos do nervo auricular do vago e ramo timpânico do
glossofaríngeo. Esses componentes penetram pela porção superior da MT.
Cavidade Timpânica
É um espaço irregular, preenchido por ar e revestido por epitélio mucos tipo
respiratório. O diâmetro ântero-posterior e vertical mede em torno de 15 mm cada, o
transverso varia de 2 a 6 mm (sendo mais estreita em sua região média e mais larga em sua
região superior) com volume de aproximadamente 2 cc.
Essa cavidade limitada pela MT e pela parede lateral do labirinto pode ser dividida em
relação ao tímpano em hipotímpano, mesotímpano e epitímpano, sendo situada nesta ultima
uma comunicação com o antro mastóideo. O epitímpano, ou ático, representa cerca de um
terço da cavidade, situado parcialmente acima do CAE e contém a cabeça e o corpo do
martelo e o processo curto da bigorna. Na superfície do ático situa-se o tegmen timpani, que
separa a cavidade timpânica da fossa média. Nesta região situa-se o aditus ad antrum,
comunicação entre o ouvido médio e mastóide.
A mastóide (conjunto de células aeradas e revestidas de mucosa respiratória) apresenta
grande variação anatômica. Pode-se dividir o complexo mastóideo em antro (maior célula,
comunicação com a cavidade), células retrosigmóides (limite posterior), células présigmóideas
(entre o seio sigmóide e a parede posterior do CAE), células retrolabirínticas
(envolvem o bloco posteriormente), células subfaciais (entre o canal de Falópio do nervo
facial e a projeção do bulbo jugular da mastóide), células da eminência mastóidea (parte
inferior da mastóide).
A cavidade timpânica se divide em:
1. Superfície lateral (membranosa): formada pela MT propriamente dita, anel, sulco, e
superiormente pela parede lateral do ático e escama do temporal.
2. Superfície medial (labiríntica): inferiormente formada pelo promontório, projeção
óssea do giro basal da cóclea na cavidade, com o plexo timpânico (nervo de Jacobson)
em sua superfície. Infero-posteriormente a ele encontra-se a janela coclear (redonda),
que está revestida por uma membrana conhecida como membrana timpânica
secundária. Supero-posteriormente ao promontório existem quatro reparos
anatômicos: 1 – fossa vestibular, contendo em seu interior a janela oval, que é fechada
pela base do estribo e ligamento anular; 2 – proeminência do canal facial; 3 – bulbo do
canal semicircular lateral; 4 – processo cocleariforme, localizado ântero-inferiormente
à segunda porção do facial, de onde sai o tendão do músculo tensor do tímpano, que se
insere no colo do martelo.
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3. Superfície anterior (carotídea): apresenta superiormente o semicanal do músculo
tensor do tímpano e inferiormente o óstio timpânico da tuba auditiva e as células
timpânicas que formam uma camada óssea contendo os nervos carotico-timpânicos,
separando a orelha média da artéria carótida interna.
4. Superfície posterior (mastóidea): apresenta as células mastóideas inferiormente sobre
as quais corre a eminência óssea piramidal, que contem o músculo do estribo inervado
pelo nervo do estapédio, ramo do facial. Lateralmente, observa a abertura timpânica
do nervo corda do tímpano, nesta superfície também temos o aditus ad antrum
(recesso epitimpânico) que comunica o antro com a caixa timpânica. Na superfície
mastóidea há ainda a presença de dois importantes recessos: o recesso do facial, um
espaço limitado medialmente pela eminência piramidal e pelo canal do facial, e
lateralmente pelo ânulus timpânico; e o seio timpânico, limitado medialmente pela
superfìcie labiríntica e lateralmente pela eminência piramidal.
5. Superfície inferior (jugular): relaciona-se intimamente com o bulbo da jugular interna.
A camada óssea que separa o bulbo da cavidade timpânica é coberta por células
conhecidas como hipotimpânicas. O bulbo da jugular pode ter dimensões variáveis,
podendo ser alto e reduzindo as dimensões do hipotímpano, ou baixo e
conseqüentemente aumentando a espessura das células hipotimpânicas.
6. Superfície superior (tegmen timpani): fina camada óssea que separa o ouvido médio da
fossa cerebral média. A margem lateral do tegmen faz a junção com a porção
escamosa do osso temporal através da sutura petroescamosa, que pode não ser
ossificada em crianças e permitir a passagem direta de infecções da orelha média para
o Sistema Nervoso Central.
Ossículos
1. Martelo: trata-se do maior ossículo, dirigindo-se lateral e anteriormente. Sua
extremidade superior (cabeça) ocupa o recesso epitimpânico, e apresenta pósteromedialmente
uma superfície articular para o corpo da bigorna. A cabeça se separa do
manúbrio através do colo do martelo e é recoberta medialmente pela mucosa da
cavidade timpânica. O manúbrio forma um ângulo de 130º com a cabeça do martelo, e
o seu com o plano horizontal é ao redor de 50º. Apresenta uma projeção lateral
superiormente, o processo lateral, que forma uma saliência na MT. Na superfície
anterior do colo encontra-se o processo anterior.
O martelo é sustentado pelos ligamentos maleolares anterior, lateral e superior.
O superior desce do teto do recesso epitimpânico até sua cabeça, o anterior se estende
da espinha angular do esfenóide através da fissura petrotimpânica ao processo longo
do martelo. O lateral conecta as margens do anel timpânico com o colo do martelo.
2. Bigorna: situa-se entre o martelo e o estribo possuindo a configuração de um dente
com duas raízes, a coroa do dente corresponde ao seu corpo que apresenta uma
superfície articular para o martelo. Apresenta dois processos: o longo e o curto, que
correspondem à raiz do dente e formam entre si um ângulo de 100º. Na face medial do
processo longo se localiza o processo lenticular, no qual o estribo se articula. O
processo curto mede cerca de 5 mm e se insere na fossa da bigorna, sendo sua ponta
recoberta por cartilagem. O processo longo mede 7 mm e corre paralelo ao cabo do
martelo. Apresenta dois ligamentos suspensores, o posterior que se estende do teto da
cavidade timpânica e o inferior, que se estende até a parede anterior do antro
mastóideo.
3. Estribo: articula-se com a janela oval através da sua platina, mede cerca de 2 mm. Da
platina partem duas cruras, que formarão a cabeça do estribo, sendo que na crura
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posterior se insere o tendão do músculo estapédio. A face lateral se articula com o
processo lenticular da bigorna, e na face medial apresenta o ligamento anular que une
a platina com a janela oval.
Músculos
Cada um dos músculos está contido em um canal ósseo.O músculo tensor do tímpano
apresenta aproximadamente 2 mm, origina-se da parte cartilaginosa da tuba auditiva, da asa
maior do esfenóide e das paredes ósseas do semicanal do músculo tensor do tímpano. Passa
lateralmente através da cavidade timpânica, sendo que seu tendão sai através do processo
cocleariforme para se inserir ao cabo do martelo próximo ao seu colo. A sua função é
enrijecer a MT e é inervado pelo nervo trigêmio através do ramo tensor da corda do tímpano.
O músculo do estapédio, menor músculo do esqueleto humano, origina-se na eminência
piramidal e de um sulco na parede do canal do facial. Sua função é tracionar lateralmente a
borda anterior da platina do estribo, sendo inervado pelo nervo do estapédio, ramo do VII.
Tuba Auditiva
A tuba auditiva estende-se da parede anterior (carotídea) da cavidade timpânica
inferiormente até a rinofaringe. Inclina-se no seu trajeto antero-medialmente, medindo cerca
de 37 mm. Em seu terço timpânico apresenta uma parede óssea que constitui um semicanal e
seu restante apresenta uma parede cartilaginosa. Em sua porção óssea apresenta um septo
delgado que separa o seu lúmen do músculo tensor do tímpano, sendo que a parede medial
está em relação com o canal carotídeo.
Seu lúmen triangular contrai-se em direção a extremidade ântero-medial da tuba óssea,
sendo este ponto conhecido como istmo da tuba. A superfície cartilaginosa fica aderida a um
sulco na base da espinha angular do osso esfenóide, expandindo-se em direção a rinofaringe,
sendo a mucosa mais espessa nesta região.
Orelha Interna
A orelha interna localizada na porção petrosa do osso temporal, recebe terminações
nervosas do nervo coclear e vestibular, sendo parte essencial dos órgãos da audição e
equilíbrio. É constituída de três estruturas: labirinto membranoso (endolinfático), labirinto
ósseo (perilinfático) e cápsula ótica.
Labirinto Membranoso
Trata-se de um conjunto de espaços epiteliais e tubos preenchidos por endolinfa. É
circundada em sua maior extensão pelo labirinto perilinfático e tecido conectivo. Ambos os
labirintos estão contidos dentro do labirinto ósseo. As principais partes do labirinto
membranoso são: ducto coclear, utrículo, sáculos, três ductos semicirculares e suas ampolas,
além do ducto e saco endolinfáticos. Estruturas menores são o ducto utrículo-sacular e ducto
reuniens.
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O segmento proximal do ducto endolinfatico alarga-se com a forma de um sino e tem
continuidade com o sáculo através de sua parte mais fina.
Os ductos coclear e semicirculares seguem a configuração dos canais ósseos
correspondentes. Em contraposição, os componentes do vestíbulo não preservam fielmente a
configuração das paredes ósseas correspondentes, sendo constituídas de dois sacos: sáculo e
utrículo.
Utrículo
Tem forma ovóide e ocupa o recesso elíptico na região súpero-posterior do vestíbulo.
Recebe terminações nervosas do ramo utricular do nervo vestibular.Ântero-lateralmente
apresenta um espessamento que corresponde à mácula utricular, região sensitiva do órgão. Na
sua parte posterior estão as terminações dos ductos semicirculares e em sua parede anterior o
ducto utrículo-sacular.
Sáculo
Apresenta a mesma forma do utrículo, porém de menor tamanho. Localiza-se na parte
ântero-inferior do vestíbulo, margeando e inserido no recesso esférico. Apresenta um
espessamento (macula sacular), que recebe terminações nervosas do ramo sacular do nervo
vestibular. Na superfície inferior encontra-se o ducto reuniens, que se conecta com o ducto
coclear. Posteriormente encontra-se o ducto utrículo-sacular. O ducto endolinfático origina-se
próximo a esta abertura, estendendo-se através do aqueduto vestibular e atingindo a região
petrosa do temporal, terminando no saco endolinfático (situado junto ao tecido meníngeo do
crânio).
Ducto, Saco Endolinfático, e Aqueduto Vestibular
Este ducto repousa em um canal ósseo, o aqueduto vestibular, que apresenta
continuidade com o periósteo. Na extremidade proximal o ducto se comunica com o sáculo e
utrículo; em sua parte distal, o ducto tem continuidade com o saco endolinfático. A parte do
ducto que repousa sobre o vestíbulo é chamada seio do ducto. O segmento intermediário do
ducto, que se localiza na parte mais estreita do aqueduto vestibular, é denominado istmo. O
saco endolinfático é uma expansão terminal do ducto. Quando totalmente distendido o saco
pode conter até 1 cc.
Aqueduto Coclear
Contém o ducto perilinfático, estrutura onde se encontra tecido conectivo
“aracnóideo” e perilinfa. Inicia-se na escala timpânica, próxima à janela redonda e termina em
uma fenda localizada medialmente na fossa jugular, sendo revestido por periósteo.
Canais Semicirculares
Compostos de três ductos membranosos que se abrem junto ao utrículo através de 5
orifícios. Acompanham a disposição dos canais semicirculares ósseos, separando-se destes
através do espaço perilinfático (exceto na região da grande curvatura). Cada ampola insere-se
na superfície óssea correspondente chamada sulco ampular, por onde penetram as fibras
nervosas terminais. Correspondente interno no sulco, a crista ampular projeta-se em seu
lúmen e recebe terminações nervosas.
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Os canais superior e posterior se encontram em planos verticais e o ângulo entre eles
se abre lateralmente. O canal superior está disposto antero-lateralmente e situa-se em um
ângulo de 45 graus com o plano medial-sagital. O canal posterior dispõe-se pósterolateralmente
e também está em um plano de 45 graus com o plano medial-sagital. O canal
lateral é o mais curto deles, e forma um ângulo de 30 graus com o plano horizontal. O canal
lateral situa-se paralelo ao seu correspondente contralateral, porém o canal superior é paralelo
ao posterior do outro lado (canais coplanares).
Cóclea Óssea
Cóclea óssea tem sua base relacionada com o meato acústico interno, sendo a sua
maior parte o canal coclear, que mede cerca de 30 mm de comprimento. O canal envolve com
2 voltas e meia um eixo central cônico conhecido como modíolo. Projetando-se do modíolo
encontra-se a lâmina espiral óssea e este conjunto tem a semelhança de um parafuso com seus
sulcos terminando com uma ponte de nome hamulus.
A escala vestibular e a escala timpânica juntam-se formando o helicotrema, no ponto
onde a lâmina espiral terminal no hamulus.
A base da cóclea corresponde a área coclear do meato acústico interno que encontra-se
na parede medial do vestíbulo e contém as fibras do oitavo par em direção a cóclea. Próximo
a esta área existe outra parte crivosa que serve de passagem para as outras fibras nervosas do
labirinto membranoso.
O início do canal coclear apresenta três aberturas principais: uma se relaciona com o
vestíbulo, outra com a cavidade timpânica (janela oval e redonda). A terceira abertura é a do
aqueduto coclear, que contém o ducto perilinfático, estabelecendo a comunicação entre a
escala timpânica e a cavidade subaracnóidea.
Ducto coclear
Apresenta formato em espiral e repousa sobre a cóclea óssea internamente. O ducto se
inicia no ceco vestibular que ocupa o recesso coclear do vestíbulo, segue a morfologia do
canal espiral e faz um giro basal, um medial e um apical incompleto (duas voltas e meia).
O assoalho do ducto é formado por um periósteo espesso que recobre a parte periférica
da lâmina espiral óssea formando a membrana basilar. O epitélio deste assoalho forma o
órgão espiral de Corti para onde dirigem-se as fibras do coclear.
O periósteo da parede externa do canal coclear forma a parede periférica do ducto
coclear, denominando-se ligamento espiral da cóclea e que contém uma rica trama vascular
em sua porção superior, principalmente próximo à membrana vestibular, região denominada
de estria vascular. A membrana basilar do ducto coclear que se estende do ligamento espiral
até a lâmina espiral óssea forma a terceira parede do ducto.
No assoalho do ducto coclear, próximo ao seu lúmen e inserido na margem da lâmina
espiral óssea encontra-se a membrana tectória, formando uma camada que recobre todo o
epitélio sensorial.
O ducto coclear e a lâmina espiral óssea dividem o canal em uma passagem superior, a
escala vestibular, e uma passagem inferior, a escala timpânica, sendo que as duas escalas se
encontram no ápice, local onde termina o ducto coclear.
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Cápsula Ótica
Trata-se de uma estrutura óssea especial que envolve os labirintos:
· Ossifica-se a partir de 14 ou mais centros de ossificação;
· Esses centros se unem para formar uma cápsula que protege as estruturas sensoriais;
· O tecido ósseo permanece com as características que tinha na vida fetal;
· Apesar de ser derivada de cartilagem, não se encontram resquícios de crescimento
condral;
· Sua dimensão máxima é atingida no quinto mês de vida fetal;
· Apesar de apresentar osteogênese rápida, a histogênese não a acompanha, terminando
até o primeiro ano de vida
O osso temporal apresenta uma abertura em sua superfície posterior da pirâmide
petrosa situada acima do meato acústico interno na fossa posterior do crânio que
corresponde a fossa subarqueada, que é uma via de invasão de tecido conjuntivo da
meninge. Esta abertura ocorre por volta do 5º mês de idade, época em que ocorre o
desenvolvimento coclear, e na qual a cápsula ótica atinge seu desenvolvimento adulto.
Através desta abertura passam os ramos da artéria auditiva interna.
Seios Venosos da Dura-máter
Estes seios são canais venosos situados entre a dura-máter e o periósteo interno que
reveste o crânio, geralmente ao longo das linhas de fixação dos septos durais, e drenam
todo o sangue do encéfalo. Os seios são revestidos por epitélio que é contínuo com aquele
das veias tributárias. Vários dos seios são triangulares em corte transversal, visto que sua
base está sobre o osso e suas paredes laterais são formadas pelas origens das pregas
durais.
Seios sigmóides: estes seios têm seu trajeto na fossa posterior do crânio, formando
sulcos profundo na face interna da parte posterior das porções mastóideas dos ossos
temporais, e nas faces laterais dos tubérculos jugulares do osso temporal. A seguir,
curvam-se para frente e entram em dilatações denominadas bulbos jugulares das veias
jugulares internas, que ocupam os forames jugulares. Estes grandes bulbos recebem os
seios petrosos inferiores e continuam como as veias jugulares internas. Os seios venosos
drenam a maior parte do seu conteúdo para os seios sigmóides, exceto os seios petrosos
inferiores que drenam diretamente para as veias jugulares internas.
Seios transversos: estes seios venosos seguem lateralmente a partir da confluência dos
seios na borda fixa da tenda do cerebelo. Produzem sulcos nos ossos occipitais e ângulos
póstero-inferiores dos ossos parietais. A seguir deixam a tenda e formam os seios
sigmóides.
Seios petrosos superiores: são pequenos canais que drenam os seios cavernosos.
Seguem das extremidades posteriores dos seios cavernosos para os seios transversos, no
ponto onde se curvam para baixo para formar os seios sigmóides. Situa-se sobre a borda
fixa da tenda do cerebelo, em um pequeno sulco sobre a parte superior do osso temporal.
Seios petrosos inferiores: drenam os seios cavernosos diretamente para as veias
jugulares internas, logo abaixo do crânio. Originam-se na parte posterior do seio
cavernoso, seguem para trás, para o lado e para baixo em um sulco entre a porção petrosa
do osso temporal e a porção basilar do osso occipital. Entra no forame jugular e se une ao
bulbo superior da veia jugular interna, e recebe veias do cerebelo e do labirinto.
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Tabela: Pontos de reparo do nervo facial e sua posição em relação aos
diferentes segmentos do nervo (posição anatômica):
Gânglio
Geniculado
Porção
Timpânica
Segundo
Joelho
Porção
Mastoídea
Canal
Superior
ântero-lateral
Processo
Cocleariforme
ântero-medial medial
Janela Oval superior
Canal Lateral inferior
Eminência
Piramidal
Pósterosuperior
posterior
Ranhura do
Digástrico
medial
Tabela: Pontos de reparo do nervo facial e sua posição em relação aos
diferentes segmentos do nervo (posição cirúrgica – orelha direita):
Gânglio
Geniculado
Porção
Timpânica
Segundo
Joelho
Porção
Mastoídea
Processo
Cocleariforme
Anterosuperior
Superior
Janela Oval Pósterolateral
Canal Lateral Ínfero- lateral
Eminência
Piramidal
Pósterosuperior
Posterior
Ranhura do
Digástrico
Medial
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