Formação em
Suporte
Básico de Vida Pediátrico
–
“Ajude a salvar o seu filho”
Curso
____/___
Faro
2010
Bem-vindos.
Se
está a ler esta introdução optou por obter conhecimentos na área reanimação
pediátrica básica.
O
curso ministrado por enfermeiros do Hospital de Faro EPE, terá uma carga
horária de 8 horas e é essencialmente prático.
A
formação será constituída por dois módulos. No primeiro será feita uma breve
abordagem à temática da prevenção de acidentes e ao Algoritmo do Suporte Básico
de Vida pediátrico. No segundo módulo será realizado o treino de toda a teoria
transmitida.
Uma
vez que iremos dar mais ênfase à parte prática, torna-se fundamental a leitura
do manual que se anexa.
Teremos
de ter a sua total atenção e disponibilidade durante a formação, pelo que não
traga a sua criança e venha preparado para um dia de alguma actividade física,
traga roupa e calçado confortável, boa disposição e vontade de trabalhar
connosco.
O
local de encontro será no Centro de Formação do Hospital de Faro EPE às 9h.
Até
ao nosso encontro,
Atenciosamente,
Cumprimentos.
Passo-a-Passo
Formadores:
Ana Cristina
Guerreiro
Ana Cristina
Silvério
Cláudia Leitão
Elsa Silva
José António
Neutel
Maria José
Afonso
Pedro Silva
Rosalina Romão
Susana Vicente
Vânia Chavarria
ÍNDICE
0.
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INTRODUÇÃO ..............................................................................................................
|
5
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1
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CADEIA DE
SOBREVIVÊNCIA PEDIÁTRICA .......................................................
|
7
|
|
2
|
SUPORTE BÁSICO DE
VIDA ......................................................................................
|
9
|
|
2.1
|
AVALIAÇÃO CONDIÇÕES
DE SEGURANÇA .........................................................
|
9
|
|
2.2
|
AVALIAÇÃO ESTADO DE CONSCIÊNCIA ............................................................
|
10
|
|
2.3
|
A – VIA AÉREA
........................................................................................................
|
10
|
|
2.4
|
POSIÇÃO LATERAL DE SEGURANÇA - PLS ........................................................
|
12
|
|
2.5
|
B – VENTILAÇÃO
....................................................................................................
|
14
|
|
2.6
|
C – CIRCULAÇÃO
...................................................................................................
|
16
|
|
3
|
OBSTRUÇÃO DA VIA AÉREA ALTA POR CORPO
ESTRANHO ......................
|
22
|
|
4
|
CONCLUSÃO ...............................................................................................................
|
27
|
|
5
|
GLOSSÁRIO ................................................................................................................
|
28
|
|
6
|
BIBLIOGRAFIA ..........................................................................................................
|
29
|
INDICE
DE FIGURAS
Figura I: Cadeia de
Sobrevivência Pediátrica........................................................................... 7
Figura II – Desobstrução da
via aérea................................................................................... 11
Figura III – Pesquisa
da ventilação VOS............................................................................... 12
Figura IV, V, VI, VII – Colocação em
PLS......................................................................... 13
Figura VIII – Localização
de local de compressão
Figura IX – Técnica de
compressão cardíaca em crianças com menos de um ano................... 17
Figura X – Técnica de
compressão cardíaca tipo “abraço”..................................................... 17
Figura
XI – Técnica
de massagem cardíaca em crianças com mais de um ano com
uma
mão................................................................................................................................ 18
Figura
XIII – Técnica
de massagem cardíaca em crianças, com mais de um ano, com
ambas
as mãos....................................................................................................................... 18
Figura XIV – Pancadas costais
em lactente........................................................................... 22
Figura XV – Compressões
torácicas lactentes....................................................................... 23
Figura XVI – Pancadas
interescapulares em crianças............................................................. 24
Figura XVII,
XVIII – Manobra
de Heimlich em
criança consciente e em
pé………................................................................................................... 24
SIGLAS
E ABREVIATURAS
cm
– centímetros Kg – Quilogramas Fig. - Figura
Min
– Minuto p. – Página
ERC – European
Resuscitation Council
Ex. – Exemplo
CPR
– Conselho Português de Ressuscitação PCR – Paragem cardiorespiratória
PLS-
Posição Lateral de Segurança; RCP – Reanimação Cardiorespitatória; SBV –
Suporte Básico de Vida
SAV – Suporte
Avançado de Vida
5
|
|
0. INTRODUÇÃO
Saber o que fazer e quando fazer pode
ser a diferença entre a vida e a morte de um ser humano.
Como pais, familiares, amigos ou
cidadãos, torna-se valioso obter conhecimentos na área da Reanimação.
No
entanto, é essencial que para isso também se esteja desperto para a prevenção
de acidentes, evitando assim entrar na cadeia que nos levará a uma reanimação.
Nesta acção de formação, iremos
enfatizar a importância dos diferentes níveis de prevenção em que todos, não só
como pais, familiares, amigos, mas principalmente como sociedade, devemos
actuar.
Nas diferentes idades existem diferentes
causas de acidentes que poderão levar à morte. Dentro dos acidentes que podemos
prevenir, estão os relacionados com o trauma, resultantes de acidentes de
viação, quedas, queimaduras, e afogamentos.
Daí a necessidade da melhoria dos
elementos de prevenção do trauma, actuando na prevenção primária e prevenindo
os acidentes com medidas de protecção, como a implementação de barreiras de
protecção de piscinas, ou actuando na prevenção secundária, através da redução
dos acidentes, com a utilização de coletes salva-vidas e braçadeiras nas
crianças ou vigilância atenta na utilização de piscinas. E na prevenção
terciária, que será onde esta formação se irá debruçar mais, que visa a
diminuição das consequências do acidente, melhorando a eficácia dos serviços de
emergência após a instalação da lesão, adquirindo formação de Suporte Básico de
Vida Pediátrico.
Os objectivos desta formação são
conhecer e aprofundar conhecimentos sobre a sequência de Suporte Básico de Vida
Pediátrico para não profissionais de saúde, que se baseia nas orientações
publicadas pelo European Council of Resuscitation (ERC), após a Conferência
Internacional de Ressuscitação Cárdiopulmunar e Emergência Cardiovascular, que
decorreu em 2010.
6
|
|
Estas orientações assentam em variados
estudos, em modelos animais e modelos matemáticos. É enfatizada a necessidade
de simplificar e uniformizar os algoritmos de reanimação, partindo da premissa
que a maioria das pessoas não executava manobras de reanimação a crianças, uma
vez que tinham um algoritmo diferente dos adultos. Assim, os princípios gerais
são os mesmos dos adultos, apenas com algumas diferenças.
Devido à sua fragilidade anatómica,
todas as manobras têm de ser feitas com mais suavidade, para que não sejam
causados traumatismos.
O controlo de temperatura é um aspecto
de grande importância na criança devendo ser dada especial atenção para manter
a temperatura dela.
Nas orientações
do ERC, estão a ser considerados dois grupos etários pediátricos:
Lactentes – com
menos de um ano;
Crianças
– com mais de um ano.
O marco de passagem à vida adulta é a
puberdade, sendo este o marco de passagem para o algoritmo de adulto. Todavia,
uma vez que as causas de paragem se mantêm durante o início da vida adulta, não
existem danos se for aplicado o algoritmo pediátrico a um jovem adulto.
7
|
|
1 CADEIA
DE SOBREVIVÊNCIA PEDIÁTRICA
Figura I:
Cadeia de Sobrevivência Pediátrica. (Fonte: Grupo de Formação: Passo-a-Passo)
Esta
cadeia “corresponde ao conjunto de acções que se considera que melhoram o
prognóstico das crianças em situações de emergência” (INEM, 2006, p. 198).
Os quatro elos
da cadeia são:
Prevenção da
paragem cardiorespiratória;
Suporte Básico
de Vida;
Activação do
Sistema de Emergência Médica;
Suporte Avançado
de Vida.
O primeiro elo é de particular
importância, uma vez que é mais fácil prevenir uma situação de potencial perigo
de vida do que tratar uma paragem cardiorespiratória. Esta prevenção passa pela
sociedade civil em geral, adoptando atitudes tão simples como:
Uso
de sistemas de retenção nos veículos, como cadeiras de transporte, cintos de
segurança;
8
|
|
Acondicionamento
de produtos tóxicos, medicação, e produtos de limpeza longe do alcance das
crianças;
Barreiras de
protecção de piscinas, tanques e poços;
Vigilância
aquando da utilização por crianças de piscinas, tanques, mar, etc.
O segundo elo da cadeia de sobrevivência
consiste no início precoce e eficaz de Suporte Básico de Vida, que pode levar
ao restabelecimento da circulação e da respiração espontâneas, sem sequelas.
A activação do Sistema de Emergência
Médica - 112, que constitui o terceiro elo, deverá ser feita apenas após ter
efectuado um minuto de Suporte Básico de Vida, com excepção de situações de
criança com doença cardíaca ou história de arritmias.
Na abordagem ao quarto elo, temos que
ter em consideração que, a cadeia de sobrevivência pediátrica difere da do
adulto, uma vez que a causa de paragem cardiorespiratória na criança é
diferente da do adulto. Nestas idades predominam as causas não cardíacas e em
geral não é um acontecimento súbito. Sendo os problemas relacionados com a via
aérea e a respiração os mais frequentes, a prioridade é a permeabilização da
via aérea e o restabelecimento da respiração.
O desenrolar típico da situação de
paragem cardiorespiratória em Pediatria será o de um processo de deterioração
da função respiratória, correspondendo a insuficiência respiratória a um
mecanismo de compensação, seguido de uma deterioração da função cardíaca,
devido à falta de oxigénio. Assim, ocorre primeiro a paragem respiratória,
seguida de paragem cardíaca.
9
|
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2 SUPORTE
BÁSICO DE VIDA
O
Suporte Básico de Vida (SBV) é a pedra basilar para o sucesso de uma
reanimação. Sem uma correcta actuação, as probabilidades de sobrevivência são
bastantes reduzidas.
O SBV é a combinação de manobras e competências
que, sem adjuvantes técnicos, permite o reconhecimento de uma pessoa em paragem
cardíaca ou respiratória com o propósito de
“ganhar
tempo” até que o tratamento diferenciado chegue, e deverá ser iniciado o mais
rapidamente possível, com objectivo de conseguir uma oxigenação suficiente para
preservar o cérebro e os outros órgãos vitais.
As recomendações do ERC visam uma
uniformização dos algoritmos de adulto e de criança, evitando situações em que
a criança não receba cuidados por medo ou receio por parte do socorrista.
Na sequência de acções do
Suporte Básico de Vida Pediátrico, os consensos do ERC de 2010 dizem que os
profissionais de saúde treinados em SBV de adulto e que não têm conhecimentos
específicos de reanimação pediátrica podem usar a sequência utilizada no
adulto, visto que o resultado será pior se nada for feito. Aos profissionais
não diferenciados que querem aprender reanimação pediátrica por terem
responsabilidades com crianças (p. ex. professores, enfermeiras escolares,
nadadores-salvadores) deve ser ensinado que é preferível modificar o SBV de
adulto e efectuar 5 insuflações iniciais, seguidas de 1 min de RCR, antes de
procurar ajuda.
2.1
Avaliação condições de segurança
Antes de iniciar
manobras, o socorrista deve avaliar as condições de segurança, de modo a que
ele não seja colocado em perigo ou que seja repetida a agressão à criança.
Deve ter atenção
a:
Pisos
escorregadios;
Fios
descarnados;
Animais ferozes;
10
|
|
Pessoas agressivas;
Perigo de
derrocada;
Cheiros
estranhos;
Falta de
sinalização em caso de acidentes de viação;
Por essa razão,
é necessário antes de executar quaisquer medidas de suporte, assegurar que o
local em que se encontra a vítima é seguro.
2.2
Avaliação estado de consciência
Procede-se a uma breve avaliação do
estado de consciência da criança. Para tal, perguntar-se à criança se está bem,
tocando suavemente nos ombros, com o objectivo de perceber se existe reacção
por parte da criança, já que pode não se tratar de uma situação crítica.
Para determinar a reactividade da
criança é necessário estimular, de forma táctil, tocando-a suavemente, e de
forma verbal, chamando a criança pelo nome ou pedindo para esta acordar.
Nunca
sacudir a criança.
Se a criança
responder, seja verbalmente seja, mexendo-se, chorando, falando:
Deixar a criança na posição em que se
encontrou, desde que isto não a coloque em perigo;
Avaliar a
situação e solicitar ajuda se necessário;
Reavaliar
regularmente.
Se não houver
nenhum tipo de resposta, deverá grita-se por ajuda “Ajuda tenho uma
criança desmaiada” e continua-se os passos seguintes do SBV. Não se
abandona a criança nesta
altura.
2.3
A – via aérea
A
obstrução da via aérea poderá ser o problema principal da criança devido a sua
aptidão para colocar tudo o que esteja ao seu alcance na boca. Daí ser de
grande relevância a realização
11
|
|
da desobstrução da via aérea, uma vez que esta manobra poderá
resultar na recuperação da criança sem necessidade de outras intervenções.
Uma criança com dificuldade respiratória
encontrará a posição ideal para melhorar a sua respiração, não devendo ser
contrariada.
Antes de iniciar manobras de
abertura da via aérea, abre-se a boca da criança, olha-se para dentro da boca
na tentativa de se ver algum objecto. Nunca se deve introduzir os dedos para
tentar palpar algum objecto. Apenas se removem se forem visíveis e estiverem
acessíveis.
Seguidamente
procede-se à permeabilização manual da via aérea.
Colocar a palma da mão mais próxima da
cabeça na testa da criança e incliná-la ligeiramente para trás. Ao mesmo tempo,
levantar o queixo com o dedo médio e indicador da outra mão por baixo do
queixo. Ter em atenção que não deve pressionar os tecidos moles por baixo do
queixo, uma vez que irá provocar obstrução mecânica (ver fig. II).
Figura II – Desobstrução
da via aérea.
O grau de inclinação efectuado varia com
a idade da criança, variando entre uma posição neutra nos lactentes a posição
de fungador nas crianças maiores. Atenção deve ser dada para não inclinar em
demasia (hiper-extensão) o pescoço da criança, por esta manobra provocar
obstrução da via aérea.
Mantendo estas manobras, verifica-se se
as vias aéreas estão desobstruídas e se o ar entra sem dificuldades. Para tal,
socorrista coloca a sua face junto da boca da criança, observa o tórax e avalia
o VOS (ver fig. III):
Ver
– movimentos torácicos ou abdominais;
12
|
|
Ouvir
– sons respiratórios;
Sentir
– a respiração contra a face;
Figura III – Pesquisa
da ventilação VOS
Realiza-se o VOS durante de 10 segundos,
procedendo-se a contagem destes 10 segundos, dizendo-o em voz alta, calmamente,
(ex: e 1, e 2, e 3... até 10).
Se a criança respira espontaneamente e
não é vítima de trauma, coloca-se em posição lateral de segurança (PLS). Se
ainda não foi feito chama-se ajuda e avalia-se a respiração periodicamente.
Nos primeiros minutos após uma
paragem cardíaca, uma criança pode ter alguns ciclos respiratórios tipo agónico
(“gasps”) lentos e ocasionais. No caso de duvida de que a respiração é normal,
actuar como se não fosse normal.
2.4
Posição lateral de segurança - PLS
A criança não
reactiva, que respira espontaneamente, deverá ser colocada sobre um dos lados,
excepto se houver suspeita de lesão da coluna.
O objectivo da
PLS é assegurar que não ocorra a queda da língua, que irá provocar obstrução da
via aérea e reduzir o risco de aspiração de secreções.
Os
procedimentos a seguir são:
13
|
|
O
socorrista deverá colocar-se à
|
esquerda da criança;
|
Estender
os braços e pernas da criança ao longo do corpo;
Retirar óculos ou outros objectos pontiagudos que possam causar
alguma lesão; Abrir a roupa em volta do pescoço;
Colocar
o braço esquerdo da criança, perpendicular ao corpo da criança (Fig. IV);
Pegar na mão direita da criança e colocá-la junto da face esquerda
da criança (Fig. V);
Figura
IV, V, VI, VII – Colocação em PLS.
Com a
mão direita do socorrista, flectir o joelho direito da criança (Fig. VI);
14
|
|
Fazendo
pressão sobre o joelho dobrado, deverá rolar a criança para si;
A mão que estava colocada contra a face da criança deverá ser
verificada para assegurar que não esta a provocar uma pressão indevida na face;
A cabeça da criança poderá ser posicionada ligeiramente para trás,
somente se necessário para assegurar que a via aérea fica permeável;
A respiração da criança deve ser reavaliada com frequência enquanto
se espera pela ajuda diferenciada;
No lactente poderá ser colocada uma toalha ou um cobertor enrolado
ao longo das costas para segurar e garantir que não descai de novo para a
posição dorsal.
Para
posicionar uma criança em PLS, é indiferente se o socorrista se coloca à
esquerda ou à direita. Para facilidade de explicação utilizamos o socorrista do
lado direito.
2.5
B – Ventilação
Se, após as
manobras de desobstrução das vias aéreas não há respiração espontânea, então
deverão ser iniciadas insuflações artificiais.
Mantendo a
permeabilidade da via aérea, efectuar cinco (5) insuflações e avaliar resposta
da criança às insuflações.
Em SBV temos
três maneiras de efectuar insuflações:
1.
Boca/Boca;
2.
Boca/Nariz Boca,
3.
Pocket – mask®
1. Boca/Boca (na criança)
Mantendo a via aérea permeável, com o polegar
e o indicador da mão que está na cabeça fecha as asas do nariz e abre
ligeiramente os lábios da criança com a outra mão.
Inspira e coloca a sua boca à volta da boca da
criança, selando-a para evitar qualquer fuga.
Insuflar, lentamente, durante cerca de 1 a 1,5
segundos, observando o tórax a expandir.
15
|
|
Mantendo a extensão da cabeça e a elevação do
queixo, afastar a boca da criança e avaliar a descida do tórax à medida que o
ar é expelido.
Ter em
atenção que deverá inspirar ar fresco no intervalo das insuflações, para
maximizar a oxigenação da criança.
2. Boca/Nariz Boca (no lactente)
Mantendo a via aérea permeável com posição
neutra da cabeça e elevação do queixo inspira e coloca a sua boca à volta da
boca e nariz da criança, selando-a para evitar qualquer fuga.
Na
criança mais velha, pode optar por utilizar só o nariz ou só a boca, tendo em
atenção que deverá fechar com os dedos aquela que não estiver a utilizar.
Expira
lentamente, durante cerca de 1 a 1,5 segundos, observando o tórax a expandir.
Ao
afastar a boca, avaliar a descida do tórax à medida que o ar é expelido.
Ter em
atenção que deverá inspirar ar fresco no intervalo das insuflações, para
maximizar a oxigenação da criança.
3. Pocket-mask®
Utilizando a
pocket – mask®, o socorrista tem que:
Colocar
a mascara na face da criança, de modo a obter um bom selo, se esta for muito
pequena colocar a máscara ao contrário da colocação do adulto;
Expira,
lentamente, durante cerca de 1 a 1,5 segundos, observando o tórax a expandir;
Ao afastar a
boca, avaliar a descida do tórax à medida que o ar é expelido.
Se não se
conseguir expansão torácica, em cada uma das cinco insuflações iniciais, em cada
uma delas devemos:
Pesquisar a
presença de objectos estranhos na boca;
Reposicionar a
criança assegurando uma boa abertura das vias aéreas;
Certificar que o
pescoço da criança não está inclinado em demasia (hiper-extensão).
16
|
|
Realizar 5 tentativas de insuflação eficazes. Se continuar sem se
conseguir, avançar para as compressões torácicas.
2.6
C – Circulação
Após
as 5 insuflações iniciais efectuar VOS para pesquisa de sinais de respiração,
se não respirar executar 1 minuto de SBV, o que significa realizar 3
ciclos de 30:2, sendo que a cada 30 compressões torácicas, executam-se 2
insuflações. Compressões cardíacas desnecessárias raramente são prejudiciais.
Compressões
torácicas
A criança deverá já estar deitada, de
costas para baixo, numa superfície plana e dura para facilitar as manobras de
reanimação.
Em todas as crianças deverá ser
comprimido a metade inferior do esterno. Evitar comprimir o abdómen. Para tal,
após localizar o apêndice xifóide, percorrendo o rebordo inferior da grelha
costal, determina-se o local da compressão, um dedo acima do apêndice xifóide
(Fig. VIII).
Figura VIII – Localização
de local de compressão
A compressão deverá ser suficiente para
deprimir cerca de um terço da amplitude do tórax. (cerca
de 4 cm no lactente e cerca de 5cm na criança). Aliviar a pressão e
repetir operação a um ritmo de 100 compressões por minuto. Após 30 compressões
realizar 2 insuflações, mantendo uma razão de 30:2. O melhor método de execução
de compressões cardíacas varia ligeiramente entre lactentes e crianças.
Lactentes
(crianças com menos de um ano)
Mantém-se
permeabilidade da via aérea;
Localiza-se o
ponto de compressão;
17
|
|
O
socorrista sozinho utiliza as pontas de dois dedos (Indicador e médio / médio e
anelar), para fazer compressão (ver fig. IX);
Comprime o tórax
na vertical, deprimindo cerca de um terço do tórax da criança;
Alivia a pressão
para que o tórax retome a sua forma original;
Repete-se a
operação de forma a conseguir uma frequência de 100 por minuto;
Após 30
compressões executar 2 ventilações;
Prosseguir a uma
razão de 30:2
Figura IX – Técnica
de compressão cardíaca em crianças com menos de um ano
Quando há dois ou mais socorristas e
lactente pequeno, recomenda-se a utilização da técnica do “abraço”, em que o
técnico abraça a criança com ambas as mãos e no ponto atrás descrito, comprime
o tórax com ambos os polegares (ver fig. X).
18
|
|
Figura X – Técnica
de compressão cardíaca tipo “abraço”.
Crianças (com
mais de um ano)
Mantém-se
permeabilidade da via aérea;
Localiza-se o
ponto de compressão;
Coloca-se a
palma de uma mão no ponto localizado;
Levantam-se os dedos de
modo a assegurar que não é exercida pressão nas costelas da criança;
O socorrista
posiciona-se verticalmente por cima da criança com o braço estendido e
pressiona o esterno para deprimir o tórax cerca de um terço da cavidade
torácica (ver fig. XI);
Em crianças maiores ou
em caso de socorristas mais pequenos, podem utilizar-se as duas mãos com os
dedos interligados (ver fig. XII);
Alivia-se a
pressão e repete-se a um ritmo de cerca de 100 por minuto;
Após 30
compressões executa-se duas insuflações;
Reiniciam-se
compressões e ventilações a uma razão de 30:2.
Figura XI – Técnica
de massagem cardíaca em crianças com mais de um ano, com uma
mão.
19
|
|
Figura XII –
Técnica de massagem cardíaca em crianças, com mais de um ano, com ambas
as mãos.
Se estiver sozinho, executam-se manobras
de SBV durante 1 minuto (3 ciclos de 30:2) e, após este minuto, deverá ir pedir
ajuda diferenciada ligando 112.
Sempre que possível, deve-se transportar
a criança quando se vai pedir ajuda (112), numa tentativa de minimizar o tempo
de paragem de manobras.
Ao ligar 112, o socorrista vai ser
atendido por um operador especializado, que lhe vai fazer várias perguntas, no
sentido de determinar a gravidade da situação e que meios vão ser
disponibilizados para essa situação. Deve estar apto para informar:
O seu nome;
O seu nº de
contacto;
A sua
localização exacta;
A situação
exacta;
As manobras
efectuadas.
O
Suporte Básico de Vida mantém-se até que:
Haja
sinais de vida – respiração espontânea normal, com pulso adequado (mais de 60bpm) ou movimentos;
20
|
|
Chegue ajuda
diferenciada e seja substituído na realização de manobras;
O socorrista
esteja exausto.
21
|
|
Algoritmo
De Suporte Básico De Vida Pediátrico - Não profissionais de saúde
Avaliar Condições de Segurança
Avaliar
estado de consciência
Se não
responde
|
Se
responde
|
GRITAR POR AJUDA
|
Continuar avaliação
|
Pesquisar a
boca. Permeabilizar via aérea. Avaliar VOS durante 10 segundos
Se não
respira
|
Se respira
|
|
Continuar avaliação
|
||
Efectua 5
insuflações
|
||
Coloca em PLS
|
||
Na ausência de respiração, efectuar 5 insuflações
iniciais
|
Avaliar
VOS durante 10 segundos
Se não RESPIRA Se respira
Efectuar
SBV 1 min
|
Continuar avaliação
|
|
3 ciclos
30/2
|
Coloca em PLS
|
|
Pedir ajuda
|
||
Continue
SBV até:
|
||
Chegar ajuda
|
||
Recuperar respiração
|
||
Ficar exausto
|
||
22
|
|
3
OBSTRUÇÃO DA VIA AÉREA ALTA POR CORPO
ESTRANHO
É
uma situação muito mais
frequente em pediatria do que nos adultos, devido à anatomia da criança e à sua
tendência inata de colocar na boca tudo aquilo que pode.
Muitas das situações, ocorrem durante a
refeição ou a brincar com pequenos objectos, havendo um cuidador por perto, que
deverá iniciar o socorro de imediato.
Pancadas intercostais, compressões
torácicas e compressões abdominais, todas estas técnicas produzem aumento da
pressão intratorácica, numa tentativa de expulsão do corpo estranho. Não existem
evidências de que, uma das técnicas produza melhores efeitos que a outra. Na
realidade, na grande maioria dos casos é necessário mais do que um tipo de
manobra.
O algoritmo de obstrução da via aérea
alta por corpo estranho foi simplificado e aproximado da versão de adulto, de
forma a melhorar a aprendizagem de conceitos e técnicas e a incentivar os
socorristas mais renitentes a executar manobras de desobstrução em crianças.
A grande diferença em relação ao
algoritmo de adulto são as compressões abdominais, que no lactente não se
realizam devido ao alto risco de lesão de órgãos. Isto deve-se à anatomia
particular das crianças que, nesta altura da sua vida, apresentam costelas mais
horizontalizadas, deixando as vísceras mais expostas ao trauma.
Raramente
o diagnóstico de aspiração de corpo estranho é fácil mas, é de suspeitar nos
casos em que:
O desenrolar da
dificuldade respiratória é súbita e associada a tosse, engasgamento;
A criança que
tenha estado a brincar com objectos pequenos;
E não existam
sinais de doença.
Ter em atenção que a obstrução da via
aérea também pode ocorrer por infecção. Estas situações necessitam de uma
abordagem diferente.
Se está presente uma obstrução parcial,
a criança tosse, consegue falar ou chorar, a tosse deve ser encorajada e
nenhuma intervenção deverá ser feita a não ser que a criança pare de tossir ou
perca o conhecimento. A tosse é mais eficaz do que qualquer outra manobra. No
entanto
23
|
|
devemos
estar preparados para agir com firmeza e determinação se a criança por si só
não conseguir expelir o corpo estranho.
Quando a obstrução é total, a actuação é
determinada pelo estado de consciência e idade da vítima, sendo que a actuação
em caso de desmaio é idêntico em ambos grupos etários.
Obstrução total,
lactente consciente
O lactente é colocado com a cabeça para
baixo ao longo de um dos braços do socorrista. A cabeça é suportada pelo
polegar e 2º e 3º dedo, ao nível do ângulo do maxilar, tendo o cuidado de não
comprimir os tecidos moles existentes nessa área. O outro braço posiciona-se
nas coxas da criança e com a palma da mão administram-se até cinco pancadas
(ver fig. XIII). O objectivo será de atingir a desobstrução em cada pancada,
podendo não ser necessário administrar as cinco pancadas.
Figura XIII – Pancadas
costais em lactente.
Não conseguindo provocar a desobstrução
da via aérea, passe para a realização de compressões torácicas.
Roda-se o lactente em bloco e
posiciona-se, ainda com a cabeça para baixo, na coxa do técnico. Administram-se
até cinco compressões, utilizando as mesmas referências da massagem cardíaca.
As compressões são similares às compressões cardíacas mas mais secas e mais
lentas, um ritmo de uma por segundo (ver fig. XIV).
24
|
|
Figura XIV – Compressões
torácicas lactentes.
Após a realização das compressões,
verifique a cavidade oral, removendo apenas corpos estranhos visíveis.
Repete-se a sequência de pancadas interescapulares e compressões torácicas até
resolução da obstrução ou inconsciência.
Se não se viu o corpo estranho a ser
expelido e a criança continua consciente, mantém-se esta sequência de manobras.
Pede-se a alguém para ir buscar ajuda, se tal ainda não aconteceu, não se
abandona a criança nesta fase.
Se observou a expulsão do corpo
estranho, avalia-se o estado clínico da criança. Há a possibilidade de não ter
sido removida a totalidade do corpo estranho e esse facto pode provocar
complicações. Em caso de dúvida, a criança deverá ser observada por um médico.
Obstrução total,
criança consciente
Na criança, a cabeça deve estar mais
baixa, de modo a força da gravidade poder auxiliar na retirada do corpo
estranho. Uma criança pequena pode ser colocada ao colo do socorrista (ver fig.
XV). Se tal não é possível, inclinar a criança para a frente e administrar as
pancadas.
Figura XV – Pancadas
interescapulares em crianças.
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Administram-se até cinco pancadas
interescapulares, tentando provocar a saída do corpo estranho.
Não havendo desobstrução da via aérea,
efectuam-se compressões abdominais – manobra de Heimlich, até 5 vezes.
Na realização de compressões abdominais,
a criança consciente pode estar em pé, ajoelhada ou sentada.
O técnico coloca-se por detrás da
criança e envolve-a com os seus braços. Devido à diferença de alturas poderá
ser recomendado colocar a criança em cima de uma cadeira ou ajoelhar-se atrás
dela.
Uma das mãos fechada é colocada no
centro de uma linha imaginária entre o umbigo e o apêndice xifóide. A outra é
colocada por cima e é exercida uma força seca e rápida para cima e para o
abdómen. Repete-se até cinco vezes, a menos que haja desobstrução da via aérea
(ver fig. XVI). Ter atenção de não efectuar compressão no apêndice xifóide.
Figura XVI, XVII
–
Manobra de Heimlich em criança consciente e em pé.
Após a realização das compressões
abdominais, verifique a cavidade oral, removendo apenas corpos estranhos
visíveis. Repete-se a sequência de pancadas interescapulares e compressões
abdominais, até resolução da obstrução ou inconsciência.
Se não se viu o corpo estranho a ser
expelido e a criança continua consciente, mantém-se esta sequência de manobras.
Pede-se a alguém para ir buscar ajuda, se tal ainda não aconteceu, não se
abandona a criança nesta fase.
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Se observou a expulsão do corpo
estranho, avalia-se o estado clínico da criança. Há a possibilidade de não ter
sido removida a totalidade do corpo estranho e esse facto pode provocar
complicações. Em caso de dúvida, a criança deverá ser observada por um médico.
Crianças em que foram aplicadas manobras
abdominais, deverão ser observadas por um médico devido ao risco de lesão
abdominal.
Lactente e
criança inconsciente
Se a criança fica ou está inconsciente,
deita-se em decúbito dorsal sobre uma superfície plana e dura. Grita ou pede a
alguém ajuda. Não se abandona a criança nesta fase.
Abre-se a boca e procura-se visualizar o
corpo estranho. Se for visível, realiza-se uma tentativa de remoção. Não
executar tentativas de remoção de corpo estranho “às cegas” ou de forma
repetida pois estas manobras podem provocar lesão da boca ou maior encravamento
do corpo estranho.
Realizar manobras de abertura da via
aérea e tentam-se administrar cinco insuflações. Avalia-se a eficácia de cada
insuflação. Em caso de não provocar expansão torácica, reposiciona-se a cabeça
antes de cada tentativa.
Se não se observam respostas
(movimentos, tosse ou respiração espontânea) procede-se a manobras de
compressão cardíaca.
Seguir
a sequência de reanimação para socorrista sozinho durante 1 minuto antes de
pedir ajuda diferenciada, se tal ainda não foi feito por outra pessoa.
Quando
se procede à abertura da via aérea para efectuar ventilações, pesquisar
presença de corpo estranho na boca. Se for observado, efectua-se uma tentativa
de remoção.
Se a obstrução parece ter sido
resolvida, procede-se à abertura das vias aéreas e pesquisa de respiração
durante 10 segundos (VOS). A actuação seguinte será de acordo com os dados
encontrados.
Em caso da criança recuperar a
consciência e a respiração normal, coloca-se em PLS e monitoriza-se a
respiração até à chegada de ajuda diferenciado.
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4 CONCLUSÃO
Sem
a correcta execução de Suporte Básico de Vida, uma reanimação Cárdiopulmunar
não será bem sucedida. O Suporte Básico de Vida é o pilar fundamental.
A desobstrução das vias aéreas, a
avaliação da respiração, o início de insuflações, a avaliação da circulação e o
início das compressões cardíacas são um conjunto de acções que na totalidade
visam manter as funções básicas fundamentais, prevenir e evitar a deterioração
dos órgãos nobres até que o Suporte Avançado de Vida seja instaurado.
As medidas de Suporte Avançado de Vida,
mesmo que executadas correctamente, sem um correcto Suporte Básico de Vida não
irão, por si só, restabelecer as funções vitais da vítima. O Suporte Básico de
Vida inicia-se e mantém-se durante o Suporte Avançado de Vida.
Quando se trata de uma vida, todos os
segundos contam, daí a importância de todos nós termos conhecimento do
algoritmo de SBV, para sabermos o que fazer quando confrontados com uma
situação de potencial perigo de vida.
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GLOSSÁRIO: ÍNDICE DE CONCEITOS
Consciência
(Consciente) – Implica a percepção de si mesmo e do ambiente Inconsciente –
incapacidade de responder a estímulos
Insuflações
Acto de insuflar; sopro (insuflar – encher de ar, soprando) Lactente – criança
com menos de um ano
Obstrução
por corpo estranho – objecto que se encontra na passagem aérea que provoca
falta de ar, engasgamento, respiração ofegante ou tosse.
Período Neonatal – Período que vai desde
o nascimento até os 28 dias vida
Pré-escolar
- compreende o período que se estende dos três anos até o final do quinto ano
de vida.
Poli traumatizado –
Caracteriza-se por 1 ou mais traumatismos (pancada forte ou contusão) Via aérea
- Incluem a boca, garganta, traqueia e brônquios
Ventilação - Acto ou efeito de ventilar.
Socorrista - Pessoa capaz de prestar
auxílio ou acudir.
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6 BIBLIOGRAFIA
ADIRIM, Terry A, et al; Pediatric
Education for Prehospital Professionals, 2ª Edição, EUA, Jones and Bartlett
Publishers. 2006.
ARGENT, A., et al; Advanced
Paediatric Life Support, The Practical Approach, 3ª edição. Londres, BMJ
Books. 2001.
FIORI, Renato Machado; PITREZ, José Luiz
Bohrer; GALVÃO, Nilo Milano – Prática Pediátrica de Urgência; 4ª
Edição; ed. MEDSI; Rio de Janeiro; 1991.
HANDLEY, A; et al;
European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2010 – Adult Basic
Life Support and use of automated external defibrillators. [em Linha], 2010,
consultado em 2 de Dezembro de 2010, às 19 horas. Disponível em
<http://www.erc.edu/index.php/guidelines_download_2010/en/>.
HANDLEY, A; et al; European
Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2010 – Paediatric Life
Support. [em Linha], 2010, consultado em 2 de Dezembro de 2010, às 19 horas.
Disponível em
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HAWKINS, Harriet S. – Emergency
Nursing Pediatric Course. Emergency Nurses Association. Terceira edição.
Estados Unidos da América, 2004.
INEM; Manual de Suporte Básico de
Vida, Profissionais de Saúde; Direcção dos Serviços de Formação, Lisboa,
Fevereiro de 2006.
INEM; Manual de Suporte Avançado de
Vida, Profissionais de Saúde; Direcção dos Serviços de Formação, Lisboa,
Fevereiro de 2006.
MESQUITA, Armindo; Manual da Viatura
Médica de Emergência e Reanimação (VMER), Protocolos de Actuação, 3ª
edição, Tomo II, Instituto Nacional de Emergência Médica. 2000. P.357.
PITREZ, José Luiz B.; PITREZ, Paulo
Márcio Condessa e colaboradores – Pediatria consulta rápida;
Editora Artes médicas, Porto Alegre
WONG, Donna L. – Enfermagem
Pediátrica: Elementos essenciais à intervenção efectiva. 5ª ed. Rio de
Janeiro. Editora Guanabara Koogan, 1999.
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