Cancro do Cérebro
Um
tumor que surge inicialmente no cérebro é designado por tumor cerebral
primário. Nas crianças, a maioria dos tumores cerebrais são primários.
Nos adultos, a maioria dos tumores cerebrais correspondem a tumores do
pulmão, da mama ou de outras regiões que metastizaram para o cérebro.
Quando tal acontece, não se trata de um tumor cerebral, mas sim de um
tumor secundário. A sua designação depende do órgão ou do tecido de
origem.
O tratamento dos tumores cerebrais secundários depende do local de origem e da extensão da doença.
O Cérebro
O
cérebro é uma massa de tecido mole e esponjoso. Encontra-se protegido
pelos ossos da caixa craniana e por três membranas muito finas
designadas por meninges. O líquido cefalorraquidiano, um fluído aquoso,
protege e amortece o cérebro. Este fluído circula pelos espaços entre as
meninges e pelos espaços no interior do cérebro designados por
ventrículos.
Uma rede de nervos
transporta mensagens bidireccionais entre o cérebro e o resto do
organismo. Alguns nervos vão directamente do cérebro para os olhos,
ouvidos e outras zonas da cabeça. Outros nervos percorrem a espinal
medula, a fim de ligarem o cérebro às outras partes do organismo. No
interior do cérebro e da espinal medula as células nervosas são rodeadas
por células gliais, destinadas a mantê-las no lugar.
O
cérebro controla tudo o que decidimos fazer (ex.: andar e falar) e
aquilo que o nosso corpo faz sem termos de pensar (ex.: respirar). O
cérebro é ainda responsável pelos nossos sentidos (visão, audição,
tacto, paladar e olfacto) e pela memória, emoções e personalidade.
As três principais estruturas do cérebro controlam diversas actividades:
•
Cérebro – O cérebro é a porção mais volumosa do encéfalo e situa-se na
parte superior do cérebro. Utiliza a informação dos nossos sentidos para
nos informar sobre o que nos rodeia e indica ao nosso organismo como
deve reagir. Controla a leitura, o pensamento, a aprendizagem, a
linguagem e as emoções.
O cérebro
é composto pelos hemisférios cerebrais direito e esquerdo, que
controlam actividades distintas. O hemisfério direito controla os
músculos do lado esquerdo do corpo. O hemisfério esquerdo controla os
músculos do lado direito do corpo.
•
Cerebelo – O cerebelo situa-se na parte posterior do cérebro. O
cerebelo controla o equilíbrio, bem como acções mais complexas, como
andar e falar.
• Tronco Cerebral –
O tronco cerebral liga o encéfalo à espinal medula. Controla a fome, a
sede, a respiração, a temperatura corporal, a pressão arterial e outras
funções básicas do corpo.
GRAU DO TUMOR
Os
tumores cerebrais são classificados de acordo com uma escala em graus:
de baixo grau (grau I) a alto grau (grau IV). O grau do tumor está
relacionado com o aspecto das células sob observação microscópica. As
células de tumores de alto grau têm um aspecto mais anómalo e tendem a
crescer mais depressa do que as células de tumores de baixo grau.
Tumores Cerebrais Primários
Os
tumores com origem no tecido cerebral são conhecidos como tumores
primários do cérebro. Os tumores cerebrais primários são classificados
de acordo com o tipo de células ou com a parte do encéfalo onde tiveram
origem.
Os tumores cerebrais primários mais comuns são os gliomas, que têm início nas células gliais. Existem vários tipos de gliomas:
•
Astrocitoma – Tumor que deriva das células gliais em forma de estrela,
designadas por astrócitos. Nos adultos, os astrocitomas desenvolvem-se
mais frequentemente no cérebro. Nas crianças, surgem geralmente no
tronco cerebral, cérebro e cerebelo. O astrocitoma de grau III é
habitualmente designado por astrocitoma anaplásico. O astrocitoma de
grau IV é frequentemente designado por glioblastoma multiforme.
•
Glioma do tronco cerebral – Este tipo de tumor surge na zona inferior
do encéfalo. Os gliomas do tronco cerebral são diagnosticados sobretudo
em crianças pequenas e adultos de meia-idade.
•
Ependimoma – Tumor que se desenvolve a partir das células que revestem
os ventrículos ou o canal central da espinal medula. Desenvolvem-se mais
frequentemente em crianças e adultos jovens.
•
Oligodendroglioma – Este tumor raro tem origem nas células que
constituem a substância adiposa que envolve e protege os nervos. Em
geral, estes tumores surgem no cérebro. A sua progressão é lenta e
habitualmente não se disseminam para os tecidos cerebrais adjacentes.
São mais frequentes em adultos de meia-idade.
Existem alguns tipos de tumores cerebrais que não têm origem nas células gliais, tais como:
•
Meduloblastoma – Este tumor tem origem no cerebelo. É o tumor cerebral
mais comum em crianças, sendo, por vezes, designado por tumor
neuroectodérmico primitivo.
• Meningioma – Este tumor desenvolve-se nas meninges. Habitualmente, o seu crescimento é lento.
•
Schwannoma – Este tumor raro desenvolve-se a partir de uma célula de
Schwann. Estas células revestem o nervo que controla o equilíbrio e a
audição. Este nervo está localizado no ouvido. Este tumor também é
designado por neuroma acústico e ocorre mais frequentemente em adultos.
•
Craniofaringioma – Este tumor cresce na base do encéfalo junto à
glândula pituitária (glândula endócrina do tamanho de um ervilha,
localizada na base do cérebro. É ela que regula e controla a secreção de
hormonas de outras glândulas endócrinas e muitos sistemas do organismo,
produzindo, ela mesma, uma gama de hormonas.). Este tipo de tumor
ocorre mais frequentemente em crianças.
•
Tumor de células germinais do cérebro – Este tumor tem origem nas
células erminais (Nos organismos multicelulares, as células germinativas
são células que podem dar origem aos gâmetas, no caso dos animais, o
espermatozóide e o óvulo).
•
Tumor da região pineal – Este tumor cerebral raro desenvolve-se na
glândula pineal ou perto dela. A glândula pineal está localizada entre o
cérebro e o cerebelo.
Tumores Cerebrais Secundários
Quando
o cancro atinge outra zona do organismo, a partir do seu local de
origem, o novo tumor tem o mesmo tipo de células e o mesmo nome que o
tumor de origem. Um cancro que se dissemina para o encéfalo, a partir de
outra parte do corpo, é diferente do tumor cerebral primário. Quando as
células cancerígenas se disseminam para o encéfalo, a partir de outro
órgão (ex.: pulmão ou mama), o tumor passa a receber a designação de
tumor secundário ou tumor metastizado. Os tumores cerebrais secundários
são muito mais comuns do que os tumores primários.
GRUPOS DE RISCO
Não
se conhece com exactidão a causa dos tumores cerebrais. Os médicos
raramente conseguem explicar o porquê de algumas pessoas desenvolverem
um tumor cerebral e outras não. Contudo, sabe-se que não é uma doença
contagiosa.
A investigação mostra
que as pessoas com determinados factores de risco estão mais
predispostas a desenvolver tumores cerebrais do que outras. Um factor de
risco é algo que aumenta a possibilidade de se vir a desenvolver uma
doença.
Os seguintes factores de risco estão associados a uma probabilidade acrescida de desenvolver um tumor cerebral primário:
•
Sexo – De modo geral, os tumores cerebrais são mais frequentes nos
homens do que nas mulheres. Contudo, os meningiomas ocorrem sobretudo em
mulheres.
• Raça – Os tumores cerebrais surgem mais frequentemente em caucasianos do que noutras raças.
•
Idade – A maioria dos tumores cerebrais é detectada a partir dos 70
anos. No entanto, os tumores cerebrais são o segundo tipo de cancro mais
frequente nas crianças (a leucemia é o cancro mais frequente na
infância). Estes são mais frequentes em crianças com menos de 8 anos.
•
Antecedentes familiares – As pessoas com familiares que desenvolveram
gliomas podem ter maior probabilidade de desenvolver esta doença.
Exposição a radiação ou a certos químicos no local de trabalho.
• Radiação – Os trabalhadores da indústria nuclear apresentam um risco acrescido de desenvolver um tumor cerebral.
•
Formaldeído – Os patologistas e embalsamadores que trabalhem com
formaldeído têm um risco acrescido de desenvolver um tumor cerebral. Não
se observou risco acrescido de desenvolver tumores cerebrais noutros
trabalhadores expostos ao formaldeído.
•
Cloreto de Vinilo – Os trabalhadores da indústria de plástico podem
estar expostos ao cloreto de vinilo. Este químico pode aumentar o risco
de desenvolver tumores cerebrais.
•
Acrilonitrilo – Os trabalhadores da indústria têxtil e dos plásticos
podem estar expostos ao acrilonitrilo. Este químico pode aumentar o
risco de desenvolver tumores cerebrais.
Prosseguem
as investigações sobre a possível relação entre o uso de telemóveis e
os tumores cerebrais. Os estudos efectuados até à data não confirmam
essa relação.
Também continua a
ser alvo de estudo a possível causalidade entre os traumatismos
cranianos e o risco de desenvolver tumores cerebrais. Os estudos
realizados até hoje não estabeleceram essa relação.
Muitas
pessoas que apresentam factores de risco conhecidos não desenvolvem
tumores cerebrais. Em contrapartida, muitas pessoas que desenvolvem a
doença, não apresentam factores de risco conhecidos. As pessoas que
pensem estar em risco devem consultar o seu médico. Este poderá sugerir
formas de reduzir o risco e elaborar um calendário para a realização de
exames médicos.
SINTOMAS DE ALERTA
Os
sintomas de um tumor cerebral dependem do seu tamanho, do seu
crescimento, do seu tipo e da sua localização. Os tumores em certas
partes do cérebro podem alcançar um tamanho considerável antes de os
sintomas se manifestarem; pelo contrário, noutras partes do cérebro,
mesmo um tumor pequeno pode ter efeitos devastadores. Os sintomas podem
surgir quando o tumor comprime um nervo ou danifica determinada área do
encéfalo ou também quando o encéfalo incha ou o líquido dentro do crânio
aumenta ou também, quando o tecido cerebral é destruído ou quando a
pressão no cérebro aumenta; tais circunstâncias podem ocorrer quer o
tumor cerebral seja benigno, quer seja maligno. No entanto, quando o
tumor cerebral é uma metástase proveniente de um cancro distante, o
doente pode também ter sintomas relacionados com esse cancro. Por
exemplo, o cancro do pulmão pode causar tosse com muco sanguinolento ou o
cancro da mama pode produzir um nódulo na mama.
Os sintomas mais frequentes dos tumores cerebrais são os seguintes:
• Dores de cabeça (geralmente mais fortes de manhã);
• Náuseas ou vómitos;
• Febres intermitentes;
• Alterações na fala, visão ou audição;
• Dificuldade em manter o equilíbrio ou andar;
• Alterações de humor, personalidade ou capacidade de concentração;
• Problemas de memória e incapacidade de pensar;
• Espasmos ou tremores musculares (ataques epilépticos, convulsões);
• Enfraquecimento, paralisia ou formigueiro nos braços ou pernas;
• Sonolência.
A
dor de cabeça é normalmente o primeiro sintoma do tumor cerebral,
embora a maioria das dores de cabeça se deva a causas diferentes. Uma
dor de cabeça devida a um tumor cerebral reaparece geralmente com
frequência ou é permanente; é muitas vezes intensa; pode aparecer em
pessoas que nunca sofreram dores de cabeça; acontece de noite e já está
presente ao acordar.
Estes
sintomas não constituem sinais óbvios da existência de tumor cerebral,
uma vez que podem dever-se a outras situações. As pessoas que
apresentarem estes sintomas devem consultar o seu médico o mais
rapidamente possível. Estes problemas só podem ser diagnosticados e
tratados por um médico.
FORMAS DE DIAGNÓSTICO
As
pessoas que apresentem sintomas indicativos de tumor cerebral, poderão
ter de realizar um ou mais dos seguintes procedimentos:
• Exame físico – O médico verifica os sinais gerais de saúde.
•
Exame neurológico – O médico verifica a agilidade, força muscular,
coordenação, reflexos e resposta à dor. O médico também examina os olhos
para identificar edemas que possam ser provocados pela compressão do
tumor no nervo óptico, que liga o olho ao encéfalo.
•
TAC – Através de um aparelho de raios X ligado a um computador, é
possível obter várias imagens da cabeça. Poderá ser administrado
material de contraste para se observar o encéfalo com maior nitidez. O
material de contraste permite observar os órgãos e os tecidos de tumores
cerebrais.
• RM – Um íman
gigante ligado a um computador permite obter imagens detalhadas do
interior do corpo. Estas imagens são visualizadas num monitor e podem
ser impressas. Por vezes, é injectado um contraste para ajudar a
visualizar diferenças nos tecidos cerebrais. As imagens podem evidenciar
um tumor ou outro problema cerebral.
O médico poderá solicitar outros exames:
•
Angiograma – Para este procedimento é injectado na corrente sanguínea
um contraste que permite observar os vasos sanguíneos cerebrais no raio
X. Se existir um tumor poderá ser visualizado no raio X.
•
Raio X craniano – Alguns tipos de tumores cerebrais causam depósitos de
cálcio no encéfalo ou alterações nos ossos cranianos. Através de raio
X, o médico pode observar estas alterações.
•
Punção lombar – Trata-se da colheita de uma amostra de líquido
cefalorraquidiano (líquido que preenche os espaços dentro e em redor do
encéfalo e da espinal medula). Para a realização deste procedimento é
administrada anestesia local. O médico utiliza uma agulha fina e
comprida para recolher líquido da espinal medula, procedimento que
demora cerca de 30 minutos. O doente deve permanecer deitado durante
várias horas após a punção, de modo a evitar dores de cabeça. No
laboratório, é verificada a existência de células cancerígenas no
líquido ou outros sinais de doença.
•
Mielograma – Trata-se de um raio X da coluna vertebral. Efectua-se uma
punção lombar para injectar um corante especial no líquido
cefalorraquidiano. O doente deverá estar inclinado para que a solução
corante se misture com o líquido. Este exame possibilita ao médico
detectar um tumor na espinal medula.
•
Biópsia – À colheita de tecidos para se determinar a presença de
células cancerígenas dá-se o nome de biópsia. As células são observadas
ao microscópio para detectar a existência de células anómalas. A biópsia
pode revelar a presença de cancro, alterações nos tecidos passíveis de
provocar cancro, bem como outras situações. A biópsia é o único método
seguro para diagnosticar um tumor cerebral.
Os cirurgiões têm ao seu dispor três formas de colher tecidos:
•
Biópsia aspirativa – O cirurgião realiza uma pequena incisão no couro
cabeludo e efectua um pequeno orifício no crânio. Esta abertura é
designada por orifício de trepanação. O médico faz passar uma agulha
através do orifício de trepanação e recolhe uma amostra de tecido do
tumor cerebral.
• Biópsia
estereotáxica – Um dispositivo de imagiologia, como a TAC ou a RM, guia a
agulha através do orifício de trepanação até ao local do tumor. O
cirurgião recolhe uma amostra de tecido com a agulha.
•
Biópsia em simultâneo com o tratamento – Por vezes, o cirurgião recolhe
uma amostra de tecido enquanto o doente é submetido à cirurgia para
remover o tumor.
Por vezes, não é
possível efectuar uma biópsia. Se o tumor estiver localizado no tronco
cerebral ou em determinadas áreas, o cirurgião poderá não conseguir
remover tecido do tumor sem lesionar o tecido cerebral normal. Em
alternativa, o médico recorre à RM, TAC ou a outros exames
imagiológicos.
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