segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

relacao-medico pacient e toxicodependencia

A relação médico-paciente

Quando uma pessoa está doente ou pensa que está, vai consultar um médico, a maioria das vezes vai com medo ou pelo menos ansiedade.
O encontro do paciente e do médico, é um encontro especial entre duas pessoas, uma sofre e a outra deve ajudá-la.
O paciente pede ajuda e o médico dá. E

    estabelece-se uma relação entre os dois.
O médico cura e salva, mas também formula diagnósticos graves, recomenda prescrições e procedimentos difíceis e dolorosos. E até anuncia as más notícias.
Quando o paciente sabe que o médico vai chegar e o vai observar, traz sintomas que não tinha antes ou faz desaparecer alguns.

O consultório, o local da consulta é onde aparecem os medos e esperanças do paciente e a relação que se vai estabelecer com o médico depende tanto da personalidade de base do paciente como do médico, assim como também muitas vezes depende da especialidade deste.
O paciente traz consigo a doença, os sintomas,

    os medos e pedidos de ajuda em diferentes graus.
O paciente deseja ser curado, mas também reconfortado e  cuidado, com toda a consideração.
O paciente não é a sua doença, o paciente é uma pessoa, em sofrimento sim, mas tem uma história, pertence a uma família e a uma

    comunidade, e deve ser respeitado como tal.
O doente fica preocupado com o diagnóstico, prognóstico, benignidade ou gravidade da infecção ou lesão, as possíveis sequelas, a sua integridade no presente e no futuro. Ele está inquieto, preocupado e com medo.
A particularidade da relação médico-paciente está ligada a esta situação de angústia.

O médico não pode ignorar a angústia do seu paciente e deve estar disposto a adoptar uma atitude de compreensão.
O homem doente desenvolve mecanismos de defesa inconscientes, que se podem manifestar em comportamentos negativos. O médico deve perceber isso, para não comprometer uma boa cooperação com o paciente.

Também é conveniente que o médico evite na medida do possível uma participação sensível nos problemas do paciente e conserve uma certa neutralidade afectiva.
A sua atitude não deve ser moralista, nem de julgamento dos valores ou comportamentos do paciente.
O médico deve ter uma atitude humana para

    com o paciente, mas deve ser reservado e recusar as relações pessoais com os pacientes.
A existência de uma atitude emocional do médico pelo seu paciente pode interferir na qualidade dos cuidados. É por isso que o médico evita tratar os membros da sua família.


O tipo de doença pode determinar o estilo de relação médico paciente:
1º nível -  actividade do médico – passividade do paciente
É o tipo de relação que se tem nas urgências, comas, intervenções cirúrgicas e infecções gravissimas. O paciente deve estar passivo e o médico tem de agir.

2º nível – direcção do médico – cooperação do paciente
É a forma mais comum de relação médico paciente. Após o diagnóstico o médico prescreve o tratamento e espera cooperação do paciente.
3º - participação mutua e recíproca do médico e paciente

Este tipo de relação surge nos pacientes de doenças crónicas, nas readaptações e todos os estados em que o paciente pode assumir a sua recuperação. O médico ajuda o paciente a ajudar-se a si próprio. Este tipo de relação não se adapta a crianças ou adultos imaturos.
Nenhum dos modelos é melhor que o outro, correspondem a situações diferentes.

Para o paciente, o médico é visto como aquele que cura porque possui conhecimentos científicos, mas que também ajuda e que conforta.
 Para muitos pacientes a simples presença do médico já lhes traz melhoras, isso mostra a enorme acção psicologica do médico.
Balint dizia: “ o melhor medicamento e mais


    usado na medicina geral é o médico ele próprio”.
Acolhendo o paciente:
É nos primeiros momentos de cada encontro que o médico acolhe o paciente, e esse acolhimento vai construir a base da relação médico-paciente durante todo o processo terapêutico.


Sempre se deve cumprimentar o paciente, olhando para ele, com um sorriso encorajador se possível. Seria óptimo o médico levantar-se quando o paciente chega ou mesmo ir buscá-lo à porta.
O contacto físico também ajuda: aperto de mão, uma festinha na cabeça se é uma criança, um toque no braço ou ombro.

A distancia a que se está do paciente é importante, nem muito perto, nem muito distante para não intimidar o paciente, enquanto se conversa com ele sobre o que o traz à consulta ou actualizar as queixas do paciente.
O médico deve manter sempre o contacto visual para que o paciente sinta um interesse

    verdadeiro por ele, da parte do médico. Nunca o médico deve interromper para ver as horas, olhar a janela, atender o telemóvel, falar com a enfermeira assuntos não relacionados com o paciente.
Deve ouvir o paciente responder às suas perguntas com atenção, sem interromper e estimulando o paciente a dizer tudo o que

    sente, acenando com a cabeça, fazendo “hum hum”, “ sim percebo”, “continue”, etc.
O paciente tem de se sentir seguro de que o que for dito sobre a sua doença e a sua vida, não vai ser conhecido ou comentado fora do gabinete do médico, por ninguém. A confidencialidade e discrição é uma qualidade indispensável a qualquer profissional de saúde

A privacidade é dada através da vedação visual e acústica, o processo clínico do paciente deve ser manejado só por pessoas qualificadas e autorizadas (nunca o próprio paciente ou familiar), e é claro nunca comentar o caso do paciente fora do gabinete médico.
A maior parte das vezes o paciente deve estar

    sozinho  no gabinete e os familiares e acompanhantes lá fora, na sala de espera.
O médico deve-se abster de fazer juízos de valor. Todas as pessoas possuem o seu sistema de valores, suas crenças e cultura que adquiriu com sua família e comunidade.
Numa relação de ajuda o médico não deve impor os seus valores, que por vezes podem

    ser bastante diferentes dos do paciente. O papel do médico é especial, ele deve estar disponível para tratar e ajudar todas as pessoas que a ele acorrem, sejam do mesmo ou de outro partido, clube, criminoso, polícia, adúltera, pobre, ou rico.
É preciso aceitar incondicionalmente a pessoa do paciente, como ele é.


Toxicodependência
Toxicodependência/toxicomania caracteriza-se pelo uso excessivo e repetido de uma ou mais drogas (como analgésicos e psicotrópicos) sem efectiva necessidade ou justificação terapêutica.
Segundo a Organização Mundial da Saúde a “definição estrita da toxicomania” compreende os quatro elementos seguintes:
(1) uma compulsão de consumir o produto;

(2) uma tendência de aumentar as doses;
(3) uma dependência psicológica e/ou física do(s) produto(s);
(4) o surgimento de consequências nefastas sobre a vida cotidiana da pessoa (emotivas, sociais, económicas etc.).


Muitas DROGAS têm sobre o ser humano efeitos diferentes, consoante as quantidades ou misturas absorvidas consoante a personalidade e o momento da vida de quem as consome. (Patrício, 1996).
Sejam drogas naturais ou de síntese, estas substâncias provocam no ser humano, entre outras, alterações no SNC.
Podem ter efeitos perturbadores, efeitos

    estimulantes e efeitos depressores. Com algumas substâncias pode haver misturas destes efeitos, consoante a dose ingerida, o estado psicológico e o ambiente do consumidor.
O consumo de droga frequentemente provoca na pessoa, a curto, médio ou longo prazo, a diminuição de pelo menos algumas das suas capacidades físicas, psíquicas, sociais,

    laborais, escolares, etc., ou seja, empobrece a pessoa. Isto acontece, quer pela acção da droga em si, quer pelas reacções que o consumo e a dependência desencadeiam no ambiente envolvente, mesmo tendo em conta que há grupos sociais e sociedades mais permissivas que outras. (Patrício,1996).


A toxicodependência, como um fenómeno social, é uma das causas do desvio de
    comportamentos que traz consigo sérios problemas e com consequências negativas tanto para o indivíduo como para a sociedade.
Relativamente às causas que podem levar à toxicodependência, estudos recentes apontam
    como factores fundamentais a curiosidade e o

     gosto pelo risco, próprios da adolescência e
     juventude.
 Apontam outras, como a pressão dos amigos que veem no consumo de drogas uma forma de se afirmar e de ser adulto.
Inúmeros são os factores ou causas sociais que podem incitar o indivíduo ao consumo de
    droga e à toxicodependência.

Alguns factores como o comportamento anti-social em tenra idade, a falta de qualidade e de seguimento da educação na família, ausência de diálogo entre os membros da família e a imitação do papel e comportamento dos pais, dificuldades na adaptação ao meio social e no processo de aprendizagem nos primeiros anos de

    escolaridade e a (falta de) vontade da criança em aprender, engajamento no grupo dos coetâneos.
Ainda apontam características pessoais como indisciplina e a teimosia, o desprezo dos valores tradicionais, ou indiferenças ou apoio ao desvio de normas, contradição em relação aos valores tradicionais.


Verifica-se que o uso de uma droga como a marijuana ou o álcool, é a porta de entrada para outras drogas ditas piores como o crack, a heroína.
Cavalcante (1997) definiu alguns tipos de usuários como:


Usuários recreativos que são aqueles jovens que consomem de uma maneira muito episódica um produto tóxico, legal ou ilegal, e onde nenhum dos equilíbrios socio-profissional ou escolar, afectivo e familiar estão rompidos. Mesmo tendo feito o uso de drogas de forma excepcional, o jovem mantém suas actividades e funções sociais e profissionais.

Usuários ocasionais são aqueles que têm um uso de drogas mais repetitivo, mas onde
   o equilíbrio socio-familiar, escolar, entre outros, não foi comprometido.
Usuários semi-ocasionais como aqueles onde um ou mais sinais/sintomas de alerta
    testemunham uma fragilidade ou o início de uma ruptura.

Seja escolar, no caso de uma reprovação brusca, faltas ou fugas da escola, distúrbios de sono e das condutas alimentares, ou um crescente grau de dissociabilidade e manifestações ansiosas ou fóbicas.
Adolescentes toxicómanos são aqueles cuja relação jovem – droga forma um duo indissociável, invadindo toda a vida relacional e afectiva, o mundo do jovem passa a girar


    em torno da droga.
Tudo que ele faz é para obter a droga, curtir a droga, viver com a droga.
Todas as outras relações como escolares, familiares, sociais, ficam comprometidas ou abandonadas.

  
   “Existe um conjunto de substâncias, umas naturais outras criadas pelo próprio homem, umas antigas outras recentes, umas legais outras clandestinas, com efeitos muito diversos, mas tendo em comum algumas propriedades.


Dão dependência, ou seja, a paragem do seu
    consumo, é acompanhada de sofrimento psíquico e/ou físico; dão habituação ou tolerância, ou seja, com a continuação do seu uso é necessário aumentar a dose para obter o mesmo efeito; e o seu consumo é acompanhado de um prazer automático, imediato, que diminui a capacidade de

    experimentar os outros prazeres da vida, mediatizados pelos sentidos, pela
    elaboração intelectual, pelas emoções, pelos afectos. (Patrício, 1996,).”
De acordo com este autor (1996), droga é quaisquer substâncias naturais ou de síntese,
    (manipuladas ou criadas pelo homem), que ao serem absorvidas pelo organismo humano,

    provocam alterações psíquicas, nomeadamente do estado de consciência e também alterações físicas. As alterações da actividade mental, das sensações e do comportamento, são geralmente associadas a uma vivência de prazer, ou de alívio do desprazer.
A pessoa que consome DROGAS, não fica no seu estado “normal” e continuando a consumir,
    pode desenvolver um processo de dependência.

Este é um dos aspectos delicados do
    problema da droga: ser adepto, não passar de consumidor ocasional, ser consumidor
    regular, ser toxicodependente. (Patrício, 1996)


Do ponto de vista médico e social podemos
    considerar um toxicodependente como uma pessoa doente.
Quando a dependência existe, surgem sinais e sintomas de sofrimento se a pessoa estiver algum período de tempo sem consumir drogas. Este sofrimento da dependência manifesta-se sempre a nível psicológico e muitas vezes a nível físico.

Adição psíquica
Adição psíquica refere-se à necessidade de usar certa droga para obter alívio das tensões, sensação de bem estar.
Caracteriza-se por fenómenos cognitivos, com busca recorrente pelos efeitos iniciais do uso. Adição psíquica (ou dependência psicológica) normalmente age no cérebro e produz um ou mais dos efeitos: redução da ansiedade e da tensão; euforia ou outras mudanças

    agradáveis do humor; impressão de aumento da capacidade mental e física e alterações da percepção sensorial sobre a própria dependência química em acção na pessoa.
Os sintomas mais comuns são a ansiedade, a sensação de vazio, as dificuldades de concentração, os quais, contudo, podem variar em extensa gradação, na intensidade e no tipo, de pessoa para pessoa.
Dependência física
Dependência física é um estado de adaptação do corpo a uma droga, que suscita distúrbios físicos se o uso da droga é interrompido. Significa uma perda de controle sobre o uso da substância, criando um estado chamado de craving ("ânsia").
A influência do tempo de uso da droga no usuário depende de vários factores: forma de
    uso, compleição física do indivíduo, bem

    como a sua carga genética.
O uso de uma droga em quantidades e frequências elevadas faz o organismo criar, por homeostase, meios de defesa,
    causando uma adaptação tal à droga que, na sua  falta, funciona mal. É a síndrome de abstinência.

Base neurobiológica
A base neurobiológica responsável pelo desenvolvimento da dependência de drogas é o Sistema de Recompensa do Sistema Nervoso Central.
No sistema límbico (área relacionada ao comportamento emocional), acha-se uma área relacionada à sensação de prazer, chamada circuito de recompensa cerebral.
Estudos com animais demonstram que

    estímulos elétricos nestas regiões provocam sensações de prazer e levam a repetidas tentativas de estimulação.
Todas as drogas de abuso, directa ou indiretamente, actuam no circuito de recompensa cerebral, podendo levar o
    usuário a buscar repetidamente essa sensação de prazer.
Tipos de Drogas
As drogas prescritas são usadas com várias finalidades, como cura de doenças, para relaxar, dormir, alívio de dores ou perda de peso. O uso excessivo destas drogas tem efeitos adversos que podem constituir uma ameaça na vida social de uma pessoa ou no seu funcionamento geral (Nugent 1990).
Quando a utilização da droga não tem finalidade médica ou terapêutica chamam-se

    drogas recreativas.
Estas são usadas para proporcionar prazer, euforia, excitação, etc. e isto é abuso de drogas.
Existem seis tipos de principais de drogas recreativas:
Narcóticos/opiácios – obtidas através do ópio, cuja função é aliviar a dor.

Algumas drogas deste tipo são a heroína e a morfina.
Em doses altas provocam euforia e sensação de bem-estar, aliada a um estado relaxamento e apatia.
Sedativos – estas drogas induzem sono, lenificam a actividade e o comportamento activo do Sistema Nervoso Central.


Em doses altas, o consumidor sente euforia, relaxa e sente-se despreocupado e desinibido.
Estimulantes – estas drogas tendem a aumentar a actividade do Sistema Nervoso Central, assim como a actividade comportamental. Podemos incluir aqui a cafeína e a nicotina, de tolerância suave, e a cocaína que é um forte estimulante.

Alucinogénios – estas drogas têm efeitos graves no funcionamento mental e emocional de uma pessoa, levam a uma distorçãodo comportamento sensorial e perceptivo.
São drogas como LSD, marijuana, mescalina,psilocibina. E estas conduzem a aumento de vigilância sensorial, euforia, alteração da percepção, experiências de introspecção e alucinações.

Cannabis – planta do cânhamo, de onde se obtém a marijuana e o haxixe. O seu uso provoca relaxamento, alerta sensorial, distorção da noção de tempo.
Álcool e tabaco – são drogas lícitas, consumidas socialmente e em família.
O álcool é uma droga que contém álcool étilico, como cerveja, vinho e bebidas

   espirituosas destiladas. O volume de álcool varia entre 4% da cerveja e 40% das bebidas espirituosas destiladas.
O álcool relaxa, desinibe, eleva (momentaneamente) a auto-estima. A pessoa fica menos sensível às normas sociais e culturais e não tem noção de perigo.
 De todas as drogas é a que mais se abusa em todas as etapas de vida.


Os alcoólicos têm fraco desempenho no trabalho, no estudo e nas actividades do dia a dia. Por vezes tornam-se violentos, envolvem-se em brigas, a taxa de acidentes provocados por álcool é elevada e o risco de suicídio é alto.
Cigarros/tabaco – contém monóxido de carbono, hidrocarbonos e nicotina.
Esta droga é responsável por vários tipos de

    cancro (exemplo pulmão), pressão arterial elevada, enfartes e doenças cardíacas.
O tabaco relaxa, ajuda (psicologicamente) a controlar a ansiedade, inibe o apetite e regulariza os intestinos.
Tratamento  de Abuso de Drogas
Para um tratamento bem sucedido, os dependentes de drogas necessitam de um ambiente protegido onde não tenham acesso ao fornecimento de drogas.
Como parte do tratamento são lhe providenciados substitutos de drogas que têm um efeito que ajuda a retirada das drogas de que  são dependentes.

Existem técnicas mais rígidas para assistir os dependentes de drogas para parar o consumo:
Confrontação agressiva, técnicas de envergonhar, ou isolá-los da sociedade até que desistam do consumo de drogas.
Outros métodos são as técnicas de aversão em que o consumo de uma droga é acompanhado por algo doloroso.

O consumo de droga fica assim associado a um estímulo desagradável o que pode levar à extinção de um comportamento aprendido.
Isto também pode ser atingido através de aprendizagem social, onde um dependente de droga é colocado a observar outro dependente enquanto lhe é dada droga e é então administrado um choque eléctrico.

Existem associações de auto-ajuda como os AA – alcoólicos anónimos.
Também se utiliza a desintoxicação, alguma medicação e psicoterapia individual, familiar e de grupo.


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