•TUBERCULOSE
A tuberculose é uma das infeções micobacterianas mais frequentes.
É uma doença crónica que exige um tratamento longo.
´
Daí resulta :
´1. quebra frequente na
adesão ao tratamento
´2. aparecimento de
resistências
´3. custo elevado da
terapêutica
•
No início do século XX, o tratamento da tuberculose ainda se
baseava no repouso, alimentação reforçada e no clima de altitude.
Hoje em dia, a terapia inicial para formas não resistentes é feita
com 3 ou 4 fármacos:
isoniazida,
pirazinamida,
rifampicina
etambutol
– administrados em
associação, uma vez ao dia.
•
Só se
usa a monoterapia como preventivo em
pacientes com infecção latente assintomática
ou em indivíduos que mantêm contacto próximo a pessoas vítimas de tuberculose,
como profissionais de saúde e aqueles que estejam sob o mesmo tecto onde haja casos activos ( World Health Organization, 2000 ).
•
Um dos tratamentos recomendados para infecção latente da
tuberculose é um regime de 9 meses com Isoniazida ou, como alternativa em
algumas circunstâncias, o regime de 2 meses com Rifampicina e Pirazinamida.
•
A duração do
tratamento da tuberculose varia de 6 meses até 2-3 anos nos casos
de multiresistências.
Existindo
observância ao regime terapêutico, as taxas de cura são excelentes, mesmo para
os casos mais avançados da doença.
•
Na terapêutica da tuberculose em doentes com SIDA, pode recorrer-se
a vários esquemas :
´1. Regime standard
´
´2. Prolongamento do esquema de tratamento clássico de
tuberculostáticos para um ano
´3. Continuação da Isoniazida após “cura” até ao fim
da vida
´
•
Com o
aparecimento do HIV a quimioterapia da tuberculose sofreu grandes alterações.
O
aparecimento de estirpes multiresistentes, sobretudo à rifampicina
e à isoniazida, criou problemas de saúde pública bem complicados.
Tornou-se
necessário recorrer então a novos medicamentos o que levou à classificação dos
tuberculostáticos em dois grupos :
•
´ os
primários ( 1º linha ou 1º escolha ) que são mais potentes e menos
tóxicos
´ os secundários ( 2º linha ou 2º escolha ) que são menos
potentes e mais tóxicos
´
•Fármacos de 1º escolha
•ISONIAZIDA
Quimicamente
é a hidrazida do ácido isonicotínico que é o pilar fundamental na
quimioterapia da tuberculose.
Em 1945, demonstrou-se que a nicotinamida
possui acção tuberculostática e em 1952 surgiu a isoniazida.
•
Exerce
uma acção bacteriostática nos bacilos em repouso e bactericida nos que se
encontram em fase de divisão rápida , como nos bacilos intracelulares.
Usa-se
em associação com outros fármacos excepto quando se faz profilaxia.
•
Mecanismo
de acção
O seu mecanismo de acção ainda é mal conhecido mas pensa-se que a
catalase-peroxidase do Mycobacterium transforma a isoniazida num composto biologicamente activo que
tem capacidade de inibir a síntese dos ácidos micólicos que fazem parte da
parede da micobactéria.
´
Existindo
unicamente ácidos
micólicos nas micobactérias, assim se explica o seu
alto grau de selectividade.
´
•
Farmacocinética
É bem absorvida quer por via oral (92 %) quer
por via parentérica.
Uma parte da isoniazida sofre biotransformação
no fígado principalmente por acetilação e hidrólise, sendo também alvo da
mieloperoxidase nos neutrófilos.
A capacidade de acetilação varia de indivíduo
para indivíduo por causa de variações genéticas.
•
Efeitos
adversos
A incidência de reacções adversas é de cerca
de 5.4%, sendo as mais frequentes: eritema, febre, icterícia, náuseas, vómito,
reacções hematológicas e nevrite periférica.
A
nevrite é a mais comum e pode ser evitada pela administração profilática de
piridoxina, “vitamina B6” .
´
•
Pode
revelar-se neurotóxica dando lugar a alterações mentais mas a reacção adversa
mais importante é a hepatite cuja incidência aumenta significativamente com a
idade.
•
O hidróxido de alumínio e corticoides reduzem
a sua concentração plasmática e a isoniazida inibe o metabolismo da
carbemazepina e fenitoina, com potencial desenvolvimento de toxicidade.
A
isoniazida é muito eficaz e deve ser incluída em qualquer regime terapêutico da
tuberculose a não ser grávidas, doentes hepáticos e renais, epilético e doentes
psiquiátricos em que é contra-indicado.
´
•Rifampicina
Trata-se de um derivado
semi-sintético da rifampicina B que é um complexo macrocíclico produzido pelo Streptomyces
mediterranei que surgiu em
1965.
•
Mecanismo
de acção :
´Exerce acção antibacteriana através
da inibição da polimerase do RNA dependente do DNA, o que leva a
supressão da formação da cadeia na síntese do RNA.
´Actua na subunidade b da enzima, sendo
bactericida tanto para microorganismos extracelulares como
intracelulares.
´
•
Farmacocinética
´É bem absorvida por via
oral excepto pelos doentes com SIDA, diabetes e doentes
gastrointestinais. Existe um agrupamento em 2 tipos consoante a absorção:
os doentes que absorvem lentamente e os que absorvem rapidamente,
influenciando o efeito terapêutico.
´Liga-se de modo extenso
às proteínas plasmáticas.
´A sua eliminação é via
biliar, entrando em circulação entero-hepático, sendo 30% excretado
pela urina e 75% pelas fezes.
•
•O fármaco é desacetilado
no fígado e seu metabólito mantém actividade antibacteriana.
•N.B. : É um potente
indutor enzimático:
•há diminuição da sua
semi-vida durante as primeiras semanas de tratamento.
• diminuição da
concentração plasmática de certos fármacos ex:
anticoagulantes
orais, corticosteróides, contraceptivos orais, fenitoina e
sulfonilureia. Induz a CYP3A4 :aumenta a toxicidade do paracetamol.
•
Efeitos
adversos
A incidência é menor que
4 % sendo os mais frequentes: aeritema, febre, náuseas,
vómito, icterícia, alterações nervosas,
hipersensibilidade, hemoglobinúria, hematúria, problemas
renais, podendo ainda surgir hepatites. Alcoolismo,
idade avançada e doenças hepáticas são factores predisponentes para toxicidade
hepática.
•
N.B: Dá cor alaranjada à urina, fezes, lágrimas e suor.
A administração intermitente pode levar em 2 % doentes a um síndroma tipo gripe que se pode complicar com nefrite intersticial, necrose tubular aguda, anemia hemolítica e choque.
A administração intermitente pode levar em 2 % doentes a um síndroma tipo gripe que se pode complicar com nefrite intersticial, necrose tubular aguda, anemia hemolítica e choque.
•
•
•A rifampicina é muito
eficaz e deve ser incluída em qualquer regime terapêutico a não ser em
grávidas, doentes com icterícia ou porfiria ou doentes
hepáticos em que é contra-indicado.
•Não deve ser
administrado a doentes com HIV tratados com “inibidores das proteases“ já que a
indução enzimática leva à diminuição da eficácia do anti-viral.
•PIRAZINAMIDA
É uma pirazina sintética análoga da nicotinamida que surgiu em 1970
.
Antes
era usada com reservas devido à
sua
toxicidade hepática marcadam, dose –dependente.
É
muito usada devido à sua capacidade de “esterilizar a
lesão“
: actua nos bacilos em multiplicação lenta ou “bacilos persistentes“ que
parecem explicar as recidivas.
•
Mecanismo
de acção
É um profármaco que pensa-se ser bioactivado por amidase em ácido pirazinóico que
tem acção bactericida inibindo a síntese dos ácidos micólicos .
A sua acção só ocorre no ambiente ácido da
lesão caseosa ou nos fagolisossomas dos macrófagos.
•
Farmacocinética
:
É bem absorvido por via oral.
Sofre
hidrólise, dando ácido pirazinóico que é o metabólito
activo, seguido de hidroxilação, dando o metabólito que
sofre excreção renal.
´
•
Efeitos
adversos :
Os mais comuns são reacções alérgicas, dores
articulares, hiperuricémia, náuseas, artralgia, anorexia, disúria, nefrite
intestinal, febre, vómito, anemia, podendo ainda surgir alterações hepáticas (o
aumento da concentração plasmática de Alanina e Aspartato aminotransferase são
as alterações mais precoces ) sendo aconselhado a vigilância da função
hepática e também renal .
•
É um dos componentes das associações mais
potente e mais rapidamente activa para o tratamento inicial da tuberculose do
adulto.
Assume ainda particular relevância na
terapêutica da tuberculose infantil .
•ESTREPTOMICINA
A estreptomicina foi o primeiro fármaco a
surgir em 1942 com eficácia clínica no tratamento da tuberculose.
É um aminoglicosídeo que hoje em dia não
é tão usado no tratamento da tuberculose devido à sua toxicidade e ao
desenvolvimento de estirpes resistentes.
•
•
Mecanismo
de acção :
Liga-se à subunidade 30S do ribossoma, ao receptor S 12,
provocando uma leitura errada da mensagem codificada no mRNA.
É bactericida in vitro mas
apenas supressiva in vivo já
que não penetra facilmente no espaço intracelular.
•
Farmacocinética
:
Não é absorvido por via oral mas tem uma boa absorção via
intramuscular.
A sua excreção é via
renal.
•
Efeitos
adversos :
O efeito tóxico mais comum exerce-se sobre 8º
par craniano assumindo geralmente a forma de lesão labiríntica podendo surgir
hipoacusia e surdez.
Pode também provocar rash, febre, bloqueio
neuromuscular e nefrotoxicidade.
O seu uso como antituberculoso está diminuindo francamente.
•ETAMBUTOL
É um composto obtido por síntese:
dextro-2,2’-(etilenodiamina)-di-1-butanol. Surgiu em 1968 vindo ocupar o lugar
do ácido p-aminossalicílco.
Tem capacidade de actuar nas
estirpes resistentes à isoniazida e à estreptomicina.
•
Mecanismo
de acção :
Afecta a síntese de componentes parietais inibindo a
transferase de arabinose envolvida na síntese da parede celular.
O seu efeito tuberculostático não é significativamente evidenciado
antes de 24 horas.
•
•
Farmacocinética
:
É bem absorvido por via oral ( 75-80% ).
A sua excreção é via renal sendo ao fim de 24 horas eliminado 2/3
do fármaco intacto e 15% sob a forma de metabólito.
•
Efeitos
adversos
A incidência é cerca de 2 %.
O mais grave é a diminuição da acuidade visual por nevrite óptica retrobulbar com alterações da visão
cromática, principalmente para o verde e o vermelho.
Também provoca perturbações gastrointestinais, dores
articulares, prurido anal, confusão mental,
hipersensibilidade, dor de cabeça e problemas hematológicos.
•
Está contraindicado em grávidas, crianças com menos
de 12 anos, doentes com visão deficiente e tem que se monitorizar em caso
de insuficiência renal.
•Fármacos
de 2º escolha
•Etionamida
É um derivado da
tioisonicotinamida que surgiu em 1966.
•
Mecanismo
de acção
Inibe a síntese dos
ácidos micólicos, sendo por isso tuberculostático.
•
•
Farmacocinética:
•É bem
absorvido por via oral.
•É
excretado pelo rim em que 99% é sob a forma de metabólito.
•
Efeitos adversos :
•Causa epigastralgia, náuseas,
vómito, astenia, anorexia, convulsões, hipotensão
postural severa, sabor metálico, depressão mas o mais grave é a hepatite
em 5% dos casos.
• A protionamida é um homólogo da etionamida que tem a vantagem de
ter maior tolerância a nível gastrointestinal.
•
•Cicloserina
•É a
D-4-amino-3-isoxazolidona que surgiu em 1955.
•O
fármaco é rapidamente destruído quando exposto a pH neutro ou ácido.
•
•
Mecanismo de acção
•Inibe competitivamente a
D-alanina racemase e
D-alanil-D-alanina sintetase na fase citoplasmática
da biossíntese do peptideoglicano da parede celular.
•
•
Farmacocinética
:
•É bem
absorvido por via oral.
•Cerca
de 35% do fármaco sofre metabolização, sendo a sua excreção renal.
•
•
Efeitos adversos :
•Provoca principalmente
toxicidade a nível do SNC como cefaleias, sonolência, confusão e crises
tónico-clónicas.
•Nos doentes renais pode
levar a acumulação.
•É administrado no
tratamento de recidivas ou de resistência a outros fármacos
•
•Tiacetazona
•É a 4-acetil aminobenzaldeido-tio-semicarbazona que surgiu em
1950.
• É mais usado em
países não industrializados dado o seu preço baixo; não é utilizado em
países desenvolvidos já que tem fraca actividade e
alta incidência de efeitos adversos ( intolerância gástrica, alterações
hepáticas e sanguíneas ).
•Ofloxacina
É uma fluorquinolona com MIC (
concentração mínima inibitória ) baixa e toxicidade reduzida mas de custo
elevado, que surgiu em 1987.
•
Mecanismo
de acção
Inibe a síntese da DNA girase e topoisomerase IV, sendo bactericida.
•
•
Farmacocinética
:
•É bem
absorvida via oral, sendo 80 % eliminado via renal.
•Não
sofre metabolização hepática.
•
•
Efeitos
adversos
´Hipersensibilidade,
problemas gastrointestinais e pode provocar convulsões.
´O aparecimento de novas
estirpes de micobacteria criou novos problemas
terapêuticos, recorrendo-se a compostos tradicionalmente não utilizados na
tuberculose.
´Tem sido associado ao
tratamento dos doentes com HIV .
•Ciprofloxacina
É uma
fluorquinolona que tem CMI baixa e toxicidade relativamente reduzida mas
de custo elevado.
•
Mecanismo
de acção :
Inibe a DNA girase e topoisomerase IV, sendo por isso
bactericida.
•
•
Farmacocinética
:
•Sofre metabolização
hepática, sendo a sua eliminação pela urina e pelas fezes.
•
•
Efeitos
adversos :
•Hipersensibilidade,
náuseas, diarreia e pode causar convulsões.
•O
aparecimento de novas estirpes de micobacteria criou
novos problemas terapêuticos, recorrendo-se a compostos tradicionalmente não
utilizados na tuberculose.
•Tem
sido associado ao tratamento dos doentes com HIV.
•
•Kanamicina
•É um
aminoglicosídeo que surgiu em 1957.
•
Mecanismo de acção :
•Liga-se à subunidade 30S
ribossomal induzindo uma leitura errada da mensagem codificada no mRNA, sendo por isso
bactericida.
•
Farmacocinética
•Não é absorvido por via
oral, sendo administrado via intramuscular.
•Sua excreção é por via
renal.
•
•
Efeitos
adversos
•Existe
riscos de paralisia neuromuscular, depressão respiratória, agranulocitose e nefrotoxicidade. Não se pode
administrar em grávidas.
•É mais
usado nos doentes infectados com estirpes multi-resistentes.
•
•Capreomicina
•É um
antimicobacteriano peptideo cíclico produzido por Streptococcus
capreolus que surgiu em 1967.
•
Mecanismo
de acção :
•Inibe
a síntese proteica a nível da translocação.
•
Farmacocinética
•Não
sendo absorvido via oral é administrado via intramuscular.
•
•
Efeitos
adversos :
•Ototoxicidade, problemas
hematológicos, problema renal e pode induzir bloqueio neuromuscular.
•É mais
usado em estirpes multi-resistentes.
•A vicomicina tem a mesma acção.
•
•Rifabutina
•É um
derivado da rifamicina que é eficaz em infecções por micobacterias resistentes
à rifampicina.
•
Mecanismo
de acção :
•Inibe a polimerase do
RNA dependente do DNA, o que leva à supressão da formação da cadeia na síntese
de DNA, sendo bactericida.
Farmacocinética
•Tem
biodisponibilidade reduzida por via oral.
•Sofre
metabolização extensa, sendo capaz de induzir o seu próprio metabolismo.
Efeitos
adversos :
•Artralgia,
náusea, vómito e erupção cutânea.
O
facto da maioria dos anti-bacterianos não serem utilizados no tratamento da
tuberculose em 1º linha, deve-se ao facto de as células de Mycobacterium
sp. terem uma parede
celular diferente das bactérias pertencente a outros géneros, terem crescimento
lento e serem parasitas intracelulares.
O uso
inadequado dos tuberculostáticos tem contribuindo para o
aparecimento de estirpes resistentes, diminuindo a eficácia dos fármacos
conhecidos e dificultando o sucesso do tratamento :
O
TRATAMENTO INTEGRAL É FACTOR IMPRESCINDÍVEL NO SUCESSO CONTRA A DOENÇA !!
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