terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
ENDOCRINOLOGIA DA REPRODUÇÃO
ENDOCRINOLOGIA DA REPRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
Estas diretrizes têm como objetivo auxiliar o ginecologista a prover aconselhamento
prático e compreensivo à mulher com alterações endócrino – reprodutivas, afetando
tanto a qualidade de vida como a capacidade reprodutora. Inclui-se nestas diretrizes os
temas mais prevalentes ou complexos. Para facilitar a leitura, cada tópico é apresentado
de modo compreensível e prático, otimizando o atendimento à paciente. Dá-se destaque
aos instrumentos diagnósticos e propostas para tratamento e / ou seguimento.
Informações teóricas mais complexas acerca da etiologia e fisiopatologia dos assuntos
abordados não são detalhados, limitando-as ao necessário para compreensão do texto.
Estas diretrizes estão baseadas nas evidências atualmente existentes, mas recomenda-se
atualização contínua devido à dinâmica dos avanços nessa área.
Mantendo o interesse nas alterações dos eixos hipotálamo–hipófise–ovariano e
hipotálamo– hipófise–adrenal com repercussões diretas na capacidade reprodutora,
propõe–se diretrizes para mulheres com hiperprolactinemia, insuficiências folicular e
lútea ou ciclos anovulatórios, resultando em menstruações irregulares, amenorréia,
hirsutismo e esterilidade.
SÍNDROME DOS ÓVÁRIOS POLICÍSTICOS
Introdução
A síndrome dos ovário policísticos ocorre entre 5% a 10% das mulheres em idade
reprodutiva, em 10% das adolescentes e entre 1% – 7,5 % da população geral. Ainda
que seja uma disfunção de início antenatal, o quadro de ovários policísticos com
anovulação crônica e hiperandrogenismo manifesta–se no período peripuberal.
Clinicamente, pode manifestar-se com amadurecimento sexual mais precoce (57%),
obesidade (28 – 41%), acne (55%), hirsutismo (51–68% nas caucasianas e 10 – 20% nas
orientais), acanthosis nigricans (5% – 50%), amenorréia primária associada à obesidade
(14%), irregularidade menstrual que tende à normalização com o avançar da idade,
consumo folicular e diminuição da reserva ovariana (80% – 95%) e esterilidade (26%–
46%).
Causas
A causa da síndrome dos ovários policísticos (SOP) ainda não é conhecida, mas admite-
se que tenha gênese multifatorial, podendo assim ser conseqüência de:
Hiperativação do sistema relacionado ao estresse e à maior liberação hipotalâmica
do hormônio liberador de corticotrofina (CRH);
Diminuição do tono dopaminérgico hipotalâmico;
Maior freqüência dos pulsos do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH);
Resistência à insulina, com hiperinsulinismo;
Hipersensibilidade das células ovarianas às gonadotrofinas;
Ação local ovariana anormal dos moduladores (amplificadores e atenuadores) das
gonadotrofinas nas células teca e granulosa;
Moléculas anormais do hormônio luteinizante (LH), com maior atividade biológica;
Presença de receptor anormalmente sensível ao LH;
Transmissão genética, poligênica.
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
Aspectos Clínicos Marcantes
irregularidade menstrual, principalmente desde a puberdade;
amenorréia;
acne, hirsutismo ou sinais de virilização;
obesidade andróide;
acanthosis nigricans, acrocórdones;
esterilidade conjugal;
abortamento habitual ou recorrente.
Aspectos Laboratoriais Comuns
Androgênios normais ou elevados;
Hiperinsulinismo basal;
Curva insulínica anormal ao teste de sobrecarga com glicose (dextrosol, 75g);
Elevação basal do LH;
Diminuição da secreção do FSH;
Dislipidemia
Ultra – sonografia
Presença de pelo menos 10 folículos entre 8 – 10mm na córtex e aumento na
ecogenicidade do estroma. Lembrar que os ovários têm esta característica em 42% –
80% das pacientes e podem ser normais em 28%. Na população geral normal, a ultra–
sonografia mostra sinais característicos de ovários policísticos entre 16% e 23% dos
indivíduos.
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS REVISTOS EM ROTTERDAM – 2004
Utilizar dois os três dos seguintes marcadores:
=distúrbio menstrual/anovulação;
=sinais clínicos/bioquímicos de hiperandrogenismo;
=ovários policísticos ao ultra-som
=Excluir hiperandrogenismo adrenal, disfunções da tireóide, hiperprolactinemia, Cushing
e tumores da adrenal ou ovário.
Proposta racional e sistematizada para otimizar a investigação é mostrada no Quadro 1.
TRATAMENTO
A. Diretrizes
As diretrizes para o tratamento da SOP devem obedecer aos princípios gerais de:
=ter como alvo a etiologia
=considerar o desejo de gravidez;
=assegurar suplementação / produção de progesterona.
=proteger contra os fatores de risco para câncer endometrial, diabete mellitus,
hipertensão arterial e doenças cardiovasculares;
B. Medidas Gerais
• Recomendar mudança de hábitos, estilo de vida
• Estimular a perda de peso (≥7%)
• Indicar técnicas de relaxamento, domínio do estresse
• Recomendar antidepressivos, ansiolíticos
• Aconselhar o uso de medidas cosméticas
C. Tratamento Clínico
O tratamento clínico deve ser específico, segundo a existência de hiperlipidemia,
hiperinsulinismo, obesidade andróide, síndrome metabólica, elevação de androgênios e
desejo de gravidez.
C1. Sistematização do tratamento clínico da SOP por categoria de pacientes
Hirsutismo isolado
Em pacientes com sinais clínicos de hiperandrogenismo mas androgênios normais, a
conduta pode variar entre nenhum tratamento e acompanhamento, medidas cosméticas e
uso de antiandrogênios puros com ação apenas na unidade pilossebácea.
Hiperandrogenismo
Havendo hiperandrogenismo bioquímico a conduta inclui medidas cosméticas, uso de
anticoncepcional hormonal oral contendo progestogênios destituídos de açãO
androgênica ou antiandrogênios. Prevalecendo androgênios de fonte adrenal, associa-se
dexametasona à combinação estrogênio-progestogênio ou estrogênio-antiandrogênio.
Esterilidade conjugal
As pacientes que desejam engravidar podem ser tratadas com o citrato de clomifeno. Na
falha desse, associa-se gonadotrofinas, em dias alternados, nos dez dias iniciais do ciclo
estimulado, com início entre o 3º e 4ºdia do ciclo. Os inibidores da aromatase podem ser
testados nos casos resistentes ao clomifeno ou como adjuvantes das gonadotrofinas nas
mal – respondedoras.
Obesidade
Nas pacientes obesas, a diminuição do tecido adiposo é a principal meta.
Recomendando-se dieta hipocalórica e atividade física de modo regular. Havendo
hiperandrogenismo associado, deve-se dar preferência à espironolactona,
particularmente se houver elevação das níveis pressóricos. Nas normotensas, prescrever
anticoncepcional não androgênico, preferindo-se a associação do estrogênio com a
drospirenona.
Hperinsulinemia
Pacientes com hiperinsulinismo laboratorial e / ou clínico (acanthosis) devem ser
tratadas com protocolos que incluam dieta hipocalórica e sensibilizadores da ação da
insulina; entre estes a metformin tem sido a mais utilizada.
D. Tratamento Cirúrgico
O tratamento cirúrgico envolve técnicas múltiplas e deve ser de exceção. Todavia, é
aceitável nos casos de falha das medidas clínicas. Optando-se pela cirurgia, é importante
considerar o possível prejuízo sobre a reserva ovariana futura. Na obesidade mórbida
refratária às medidas clínicas e dietéticas, deve ser considerada a possibilidade de
cirurgia bariátrica (gastroplastia).
E. Recomendações Gerais
=Lembrar que a demonstração de ovários policísticos pelo ultra-som não é relevante
para o diagnóstico.
=Estimular a paciente a perder peso, cumprir dieta e praticar exercícios físicos com
regularidade.
•
•
•
•
•
Identificar pacientes com dislipidemia e síndrome metabólica.
Rastrear a resistência à insulina com teste de tolerância à glicose (75g de dextrosol)
tanto em obesas como não-obesas.
Adequar o tratamento às necessidades clínico-endócrino-metabólicas de cada
paciente.
Considerar o maior risco de abortamento, diabete gestacional e DHEG nas pacientes
com desejo de gravidez.
Considerar o risco de hiperplasia ou câncer de endométrio.
9
Quadro 1 – Proposta racional e sistemática para investigação da SOP
História e exame físico
1. Verificar início peripuberal da disfunção menstrual, hirsutismo, acne e acanthosis nigricans.
2. Excluir outras causas de sangramento anormal
3. Excluir gravidez
4. Verificar sinais clínicos de hiperandrogenismo
5. Determinar índice de massa corporal e razão cintura / quadril
Avaliação endócrina
1. Avaliar funções de adrenal e tireóide
2. Verificar existência de hiperprolactinemia
3. Quantificar androgênios e SHBG
Verificação da resistência à insulina
1. Estimar razão glicose / insulina jejum
2. Calcular HOMA = Go.Io (K= 22,5/L e μU/mL), Normal <2 data-blogger-escaped-3.="" data-blogger-escaped-calcular="" data-blogger-escaped-k="" data-blogger-escaped-ormal="" data-blogger-escaped-quick="1"> 0,357
log Go+log Io
Pesquisa da síndrome metabólica
1. Circunferência abdominal > 88cm
2. Triglicerídeos ≥ 150mg/dL
3. HDL < 50mg/dL
4. Glicemia jejum 100 – 126mg/dL
5. Glicemia 2h TTOG 140 – 149mg/DI
6. Pressão arterial ≥130 / ≥85mmHg
Realização de ultra – sonografia transvaginal
1.Avaliar aspecto e espessura endometrial
2. Examinar aspecto ovariano
SHBG – Globulina ligadora dos hormônios sexuais; HOMA – Homeostasis Model
Assessment; QUICK – Quantitative Insulin Sensivity Check Index; TTOG – Teste de
tolerância oral à glicose.
HIRSUTISMO E HIPERANDROGENISMO
Introdução
Hirsutismo significa excessivo crescimento de pêlos em áreas dependentes de
androgênios na
mulher
onde
normalmente
este
crescimento
é
pequeno.
Hiperandrogenismo indica aumento da produção ovariana ou adrenal dos androgênios
com elevação de seus níveis circulantes. A intensidade do hirsutismo correlaciona muito
pouco com a magnitude do hiperandrogenismo.
Causas
Medicamentos: danazol, metildopa, metoclopramida, fenotiazinas, reserpina
Adrenais: hiperfunção, hiperplasia, tumor
Ovarianas: tumores
Síndrome dos ovários policísticos
Idiopática
Investigação do hirsutismo / hiperandrogenismo
Centrar a investigação em:
Uso recente ou atual de medicamentos capazes de estimular o crescimento do pêlo
Momento do aparecimento e velocidade de crescimento do pêlo severidade do
hirsutismo
Modificações no ciclo menstrual
Eventual presença de virilização
Determinação da fonte de androgênios, quando elevados
Na seqüência, um fluxograma para a investigação é proposto (Quadro 1)
Tratamento
O tratamento deve ter como propostas: (1) diminuir a produção de androgênios, (2)
bloquear o efeito do androgênio no efetor periférico, (3) eliminar condições clínicas
eventualmente associadas, (4) disfarçar a existência do pêlo pigmentado, (5) remover
mecanicamente o pêlo, temporária ou permanentemente (eletrólise, laser).
Tendo–se em conta as propostas que norteiam o tratamento e os parâmetros clínico –
bioquímicos, o tratamento deve ser individualizado, como segue:
Hirsutismo com androgênios normais
A conduta pode acomodar nenhum tratamento – acompanhamento, medidas cosméticas
– acompanhamento ou uso de antiandrogênios. Pacientes com taxa de produção
androgênica normal e metabolismo periférico dos androgênios anormal por elevação na
conversão de T em DHT devem ser tratadas com antiandrogênio puro, medidas
cosméticas,
associações
estroprogestínicas
ou
associações
estrogênios
–
antiandrogênios.
Hirsutismo com excesso de androgênios adrenais
O tratamento do hiperandrogenismo adrenal é bem sucedido com a introdução regular
do corticosteróide. Pela alta competência em suprimir o ACTH dá-se preferência à
administração noturna de dexametasona, na dose diária de 0,25mg a 0,5mg. A
monitoração do defeito da 21 – hidroxilase á mais precisa com dosagens da testosterona
e androstenediona do que da 17-hidroxiprogesterona. Lembrar que os androgênios C –
19 são mais sensíveis à supressão do que os C – 21.
Hirsutismo com excesso de androgênios ovarianos
Ciclos substitutivos com combinados estroprogestínicos, excluindo-se os casos onde a
gravidez é desejada, atendem à maioria dos pacientes. Na eventualidade de tumor
ovariano produtor de androgênio sua extirpação resgata a normalidade funcional do eixo
hipotalâmico e da unidade pilossebácea.
Hirsutismo com irregularidade menstrual
Independente da constatação bioquímica do hiperandrogenismo pelas dosagens
hormonais usuais ou de precisa identificação da fonte androgênica, a irregularidade
menstrual é resultante de folículogênese anormal, insuficiência lútea ou, mesmo,
anovulação. Na associação hirsutismo – ciclo menstrual anormal, dar preferência à
associação estroprogestínica ou associação estrogênio – antiandrogênio. Nestes casos os
efeitos benéficos do estrogênio ou antiandrogênio sobre o hirsutismo são somados à
correção da irregularidade menstrual. Hiperandrogenismo adrenal, embora menos
freqüentemente associado com alteração menstrual, deve ser descartado.
Hirsutismo com esterilidade
O efeito dos androgênios sobre tubas, endométrio, cervix, qualidade do ovócito e
eficiência do corpo lúteo deve ser considerado. A esterilidade pode ser conseqüência de
foliculogênese anormal, insuficiência lútea, oócito de pobre qualidade, anovulação,
folículo não roto luteinizado, anormalidade da motilidade tubária na apreensão do óvulo
e transporte do ovo, alteração da atividade miometrial, leito de implantação inadequado
ou mesmo alterações da função cervical, impedindo a ascensão do espermatozóide. Para
resgatar e assegurar a fertilidade pode–se utilizar a dexametasona isolada ou associada
aos indutores de ovulação quando o hiperandrogenismo for de fonte adrenal ou misto. O
citrato de clomifeno, inibidores da aromatase e gonadotrofinas estão indicados na
disfunção ovulatória do hiperandrogenismo ovariano.
Hirsutismo com obesidade
Neste grupo de pacientes a diminuição do tecido adiposo é a principal meta.
Recomenda-se dietoterapia hipocalórica e atividade física regular. A redução do pêso
diminui também os níveis de androstenediona e testosterona, a conversão de
androstenediona a estrona e normaliza o sistema de retroalimentação hipotálamo-
hipofisário. No tratamento, dar preferência à espironolactona, particularmente se o
hirsutismo for acompanhado por elevação dos níveis pressóricos . A corticoterapia em
pequenas doses, estará indicada na necessidade de bloqueio da suprarenal.
Hirsutismo com hipotireodismo
No hipotireodismo há diminuição da SHBG, elevação da testosterona livre, aumento da
16-hidroxilação
do
estradiol
em
estriol.
Estas
modificações
resultam
em
retroalimentação anormal do sistema GnRH, elevação do LH e aumento da prolactina
por depleção dopaminérgica hipotalâmica. Deve-se introduzir a reposição dos
hormônios tireoidianos como medida essencial e medidas cosméticas e antiandrogênios
como ações complementares.
Hirsutismo com hiperprolactinemia
A associação hirsutismo e hiperprolactinemia pode existir. O aumento da prolactina
resulta na diminuição de SHBG e elevação de T livre e DHEAS. Além das medidas
cosméticas, as duas condições são revertidas com os agonistas da dopamina.
Hirsutismo com hiperinsulinismo
Clínica e laboratorialmente estes pacientes podem ser identificados pela presença de
acanthosis nígricans, relação LH: FSH menor que 3, baixos níveis de DHA e DHAS,
níveis normais de androstenediona, níveis elevados de testosterona e diminuição da
SHBG. A redução do peso corporal por dieta hipocalórica é a principal estratégia para
melhorar a resistência à insulina. Sensibilizadores da ação da insulina, como metformin,
devem ser utilizados. A associação acetato de ciproterona e estrogênio, nas doses
habitualmente empregadas, não influencia a tolerância à glicose e pode ser utilizada no
tratamento.
Quadro 1. Fluxograma proposto para Investigação do Hirsutismo
História + Exame Físico
14
Sinais de
virilização
Hirsutismo
Sem
virilização
DHEAS, testosterona
total, 17OHP, cortisol
DHEAS, Testosterona total,
17OHP, cortisol, SHBG, TSH,
PRL
Testosterona
Tumor adrenal
ou ovariano
Funcional
< 700 ug/dl
Hiperfunção
adrenal
DHEAS
> 700 ug/dl
Tu adrenal
? Explorar
17OHP
< 200ng/dl
> 200ng/dl
Cirurgia
Bloquear
Fonte
Produtora
200ng/dl
200ng/dl
Hiperfunção
adrenal
Teste
cortrosina
Anovulação
Tu ovário ?
Explorar
< 1000ng/dl, 60 min
Heterozigoto, Carrier
deficiência 21-hidroxilase
> 1000ng/dl, 60 min
HAC, início tardio
AMENORRÉIA
CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO
Amenorréia significa ausência da menstruação. Pode ser primária ou secundária.
A. Amenorréia Primária
Conceitua-se com amenorréia primária a paciente que nunca menstruou espontaneamente.
As pacientes com amenorréia primária, em função dos achados na anamnese e avaliação
das condições dos caracteres sexuais secundários, deverão ser classificadas em três grupos:
1A. Com caracteres sexuais secundários femininos:
Sem pêlos
•
Com pêlos
•
•
Agenesia uterovaginal;
Outras causas, como ovários policísticos e tuberculose genital.
Testículo feminizante ( insensibilidade androgênica );
1B. Sem caracteres sexuais secundários femininos:
Hipogonadismo hipergonadotrófico
•
•
Disgenesia gonadal;
Ovários resistentes.
Hipogonadismo hipogonadotrófico
•
•
•
•
•
Síndrome de Kallman;
Tumores;
Traumatismos;
Doenças granulomatosas;
Hipotireoidismo com hiperprolactinemia.
1C. Com caracteres sexuais secundários ambíguos
•
Hermafroditismo masculino;
16
•
•
•
Hermafroditismo feminino;
Hermafroditismo verdadeiro;
Tumores produtores de androgênios.
Conduta na amenorréia primária
• Quando a paciente apresentar pêlos e caracteres sexuais secundários femininos, com
normalidade do canal genital, a investigação da causa pode ser protelada para além
dos 16 anos. Basta avaliação clínica e orientação da paciente e de seus familiares.
No caso de não aparecimento de caracteres sexuais secundários até a idade dos 14
anos, a avaliação deve ser iniciada a partir dessa época.
•
Em pacientes com agenesia útero-vaginal deve ser solicitada ecografia e/ou
urografia excretora para investigação de malformação do aparelho urinário, que
comumente ocorre.
•
Em pacientes com insensibilidade androgênica os testículos podem ser encontrados
no canal inguinal ou na região crural ou, raramente, retroperitonial. A vagina é
normal e o útero ausente. Cromatina sexual e cariótipo são suficientes para
completar a investigação. As gônadas devem ser retiradas após a puberdade.
•
A disgenesia gônado-somática difere da disgenesia gonadal pura por apresentar
baixa estatura, estigmas somáticos e alteração de número ou forma de
cromossomos. A disgenesia gonadal pura apresenta cariótipo normal (46,XX ou
46,XY).
•
Quando houver suspeita de hipogonadismo hipogonadotrófico é fundamental dosar
FSH, LH e prolactina. Em alguns casos é necessária avaliação neurológica
completa.
Os casos de intersexo que determinam amenorréia primária são mais raros e serão
vistos no capítulo correspondente e o tratamento hormonal das causas de amenorréia
primária será visto no capítulo de hormonioterapia.
17
B. Amenorréia secundária
Considerar como amenorréia secundária a não ocorrência de menstruação por um período
correspondente a três ciclos.
Considerando a etiologia, as causas mais comuns são:
1B. Hipotalâmica
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Lesão tumoral ou infiltrativa;
Anorexia nervosa;
Pseudociese;
Pós-pílula;
Hiperprolactinemia funcional;
Após exercício físico intenso por longos períodos
Após acentuada perda de peso.
Prolactinoma;
Necrose (Síndrome de Sheehan).
Ovários policísticos;
Falência ovariana precoce.
Síndrome de Ashermann;
Endometrite tuberculosa.
Hipo e hipertireoidismo;
Hiperplasia adrenal congênita de aparecimento tardio.
Hepatopatias;
Cardiopatias;
Desnutrição.
Gravidez deve ser sempre excluída.
2B. Hipofisária
3B. Ovariana
4B. Uterina
5B. Outras causas endócrinas
6B. Causas gerais
Conduta na amenorréia secundária
18
•
Havendo pela história e/ou pelo exame físico suspeita de uma das causas
relacionadas acima, a investigação deve ser dirigida para essa respectiva patologia.
A maior parte dos casos pode ser esclarecido dessa forma.
•
Naqueles casos em que não há suspeita etiológica, deve ser solicitado dosagem de
FSH, LH e prolactina, ecografia. Prolactina aumentada pode ter origem funcional ou
tumoral (prolactinoma).
•
Em casos com prolactina normal deve-se realizar o teste com progesterona - 10 mg
de acetato de medroxiprogesterona (Provera ou Farlutal), por cinco dias. Não
havendo menstruação, fazer teste com estrogênio associado a um progestogênio
(Cicloprimogyna, Postoval ou Climene).
Forma de análise do teste:
1. Casos que respondem ao teste com progesterona são considerados normogonadais
e têm origem em distúrbios da ovulação (como em casos de ovário policístico que
podem apresentar relação de LH/FSH de 3:1 e ecografia mostrando microcistos na
córtex ovariana e hiperecogenicidade do estroma).
2. Casos que não respondem ao teste com progesterona são hipogonadais e podem ter
dupla natureza:
Hipergonadotrófico: FSH elevado e ecografia com ovários pequenos
•
Falência ovariana precoce
Hipogonadotrófico: FSH e LH baixos com ecografia normal
•
•
Disfunção hipotalâmica: pós-pílula, hiperprolactinemia
Hipofisárias: síndrome de Sheehan
3. Casos que não respondem nem ao teste com estrogênio ou estrogênio e
progestogênio devem ser considerados de causa uterina.
CONDUTA NAS AMENORRÉIAS DO PONTO DE VISTA REPRODUTIVO
•
Na agenesia uterina ou agenesia útero-vaginal há impossibilidade reprodutora em
futuro.Há que orientar a paciente desta impossibilidade, lembrando que poderá ser
“ofertado” a utilização de “útero de aluguel”, utilizando-se previamente a colheita dos
gametas do casal que fertilizados poderão ser inseridos em útero alugado.
19
•
Na insensibilidade androgênica (Síndrome de Morris) cujos pacientes são
geneticamente masculinas, os testículos serão mantidos até o total da ocorrência e
desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários e após isto serão submetidos à
ooforectomia bilateral. Na seqüência necessitarão de reposição hormonal com
estrogênios e progestogênios ou associação estroandrogênica (em pequenas doses).
•
Nas disgenesias gonadais ou falência ovariana precoce indica–se a terapêutica
hormonal substitutiva para o pleno desenvolvimento dos caracteres sexuais e sistema
genital. Quanto às possibilidades reprodutoras, deverão ser definidas com estudo
anatomo-patológico das gônadas, com o intuito de constatar ou não da presença de
folículos ovarianos. Inexistindo estes folículos e sem oócitos, a reprodução fica
limitada à doação de oócitos. Idêntica atuação ocorre em pacientes com falência
ovariana prematura que dependendo da sua idade poderão requisitar informações acerca
das suas possibilidades reprodutoras. A conduta, nesta eventualidade, é a terapêutica
hormonal substitutiva com estrogênios e progestogênios, bem como a biópsia do(s)
ovário(s).
•
A manifestação clínica de hipomenorréia e amenorréia sugerem o diagnóstico de
sinéquias uterinas e cervicais, e o estudo radiológico com a histerosalpingografia e a
histeroscopia são essenciais. O estudo histeroscópico permitirá conceituar e definir o
grau destas sinéquias pela sua fibrose e conseqüente definição das possibilidades
reprodutivas após serem debridadas.
20
Fluxograma para Investigação de Amenorréia Primária
SEM CSS
COM CSS
FSH baixo
FSH alto
Com pêlos
Sem pêlos
Síndrome
Kalmman
Disngenesias
Gonadais
Malformações
mullerianas
Síndrome
Morris
21
Fluxograma para Investigação de Amenorréia Secundária
Amenorréia Secundária
⎟
Anamnese/Exame Ginecológico
⏐
FSH/LH/PRL
Teste Progesterona
Negativo
Positivo
Teste com E+P
PRL alta
(funciomal ou TU)
PRL nl ou baixa
(anovulação crônica)
Negativo
(causa canalicular)
Positivo
FSH/LH baixos: disfunção
hipotálamo-hipofisária (fazer
teste do GnRH)
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HIPERPROLACTINEMIA
Conceito
Significa elevação dos níveis plasmáticos de prolactina, com disfunção gonadal,
amenorréia, anovulação, irregularidade menstrual, insuficiência lútea, infertilidade,
galactorréia e diminuição da libido. Pode, também, ser assintomática.
Etiologia
•
•
Fisiológicas: gravidez, lactação, estresse, exercício físico, ingestão de alimento,
relação sexual e sono.
Farmacológicas:
inibidores
•
Patológicas
Doença hipofisária: prolactinomas (25% – 35%), adenomas mistos, tumores
compressivos da haste hipofisária, (meningeoma, glioma)
Doença hipotalâmica ou da haste hipofisária: doenças granulosas (sarcoidose,
tuberculose), irradiação, síndrome da sela vazia
Outras: Hipotireoidismo primário, insuficiência renal crônica, cirrose, trauma da
parede torácica, secreção ectópica de prolactina,idiopática.
Diagnóstico
Diagnosticada a hiperprolactinemia laboratorialmente e afastadas as causas fisiológicas e
farmacológicas, é importante identificar a etiologia. Após a exclusão do hipotireoidismo
com a dosagem de TSH, deve-se investigar hipotálamo e hipófise.
da
neurolepticos
recaptação
da
(fenotiazinas,
serotonina),
sulpiride,
antagonistas
haloperidol),
H2,
anti-
hipertensivos (metildopa, reserpina), psicotrópicos (anti-depressivos tricíclicos e
anti-eméticos
(metoclopramida e domperidona)
Considerações no diagnóstico
•
A hiperprolactinemia deve ser investigada nas pacientes com amenorréia,
anovulação, irregularidade menstrual, insuficiência lútea, infertilidade, galactorréia
e diminuição da libido.
23
•
•
•
•
O sangue deve ser colhido em jejum, pela manhã, pelo menos duas horas após o
despertar, evitando-se a atividade física prévia.
Os resultados devem levar em conta situações fisiológicas ou farmacológicas com
possível aumento da prolactina.
Níveis elevados da prolactina, especialmente quando leves e moderados, exigem a
confirmação com a repetição do exame.
Pela natureza pulsátil da secreção de prolactina e o efeito do estresse, níveis pouco
elevados podem ser encontrados com alguma freqüência mesmo em pacientes
normais.
•
A hiperprolactinemia caracteriza-se pela presença de níveis do hormônio acima dos
valores de normalidade utilizados pelo laboratório. Na maioria dos casos variam
entre 20 e 25 ng/ml ou 400 a 500 mU/L .
•
Nem sempre há correlação entre os níveis de prolactina e o grau de supressão do
eixo hipotálamo – hipófise - ovariano (H-H-O). Nesta eventualidade, considerar
possíveis formas diferentes de prolactina, com menor bioatividade (pequena, macro,
glicada, etc...).
•
Testes dinâmicos com hipoglicemia induzida pela insulina, levodopa e hormônio
liberador de TSH (TRH), têm o objetivo de discriminar hiperprolactinemia
funcional e tumoral. Não são relevantes na prática diária.
Diagnóstico por imagem
O melhor exame de imagem para o diagnóstico das lesões hipotalâmicas e hipofisárias é a
ressonância nuclear magnética. A tomografia computadorizada, menos sensível para lesões
pequenas e para a delimitação de lesões grandes isodensas com as estruturas vizinhas, é
mais eficaz na identificação de lesões ósseas. Há discussão sobre quando indicar a
ressonância magnética ou a tomografia computadorizada. A maioria justifica a indicação
pela ocorrência de tumores comprimindo a haste hipofisária (adenomas não funcionantes,
craniofaringiomas e gliomas) em pacientes com hiperprolactinemias leves ou moderadas.
Alguns questionam a relação custo/benefício destes exames, sugerindo seu uso apenas
quando houver suspeita de macroprolactinoma, pelos níveis muito elevados de prolactina
(acima de 100 ng/ml) ou pela presença de sintomas centrais. Havendo tumor, a lesão é
24
classificada como microadenoma se tiver menos de 10mm de diâmetro e macroadenoma se
igual ou maior que 10 mm. Em geral, os níveis de prolactina acompanham o tamanho do
tumor. Os macroadenomas estão associados com níveis hormonais acima de 250 ng/ml.
Níveis moderados de hiperprolactinemia (abaixo de 100ng/ml) na presença de
macroadenomas podem ocorrer pelo efeito de compressão da haste hipofisária ou de
artefato no imunoensaio. Lembrar que a diluição das amostras previne a ocorrência do
efeito – gancho. O exame neuro-oftalmológico está indicado na presença de sintomas
ligados ao SNC e/ou macroadenoma.
Tratamento
Identificada a causa da hiperprolactinemia, avalia-se a necessidade de tratamento e como
fazê-lo. Dá-se preferência ao tratamento clínico, sendo restrito o tratamento cirúrgico.
As indicações do tratamento visam a correção da infertilidade anovulatória, amenorréia,
outros distúrbios menstruais, galactorréia, diminuição da libido ou mesmo dos sintomas e
conseqüências da compressão de estruturas centrais pelos macroadenomas ou outros
tumores. A meta seria a normalização dos níveis de prolactina, a restauração do
funcionamento adequado do eixo hipotálamo – hipófise – ovariano e a supressão da
galactorréia. Nos macroadenomas, o tratamento também visa a redução do volume e alívio
da compressão.
As opções terapêuticas são: observação, tratamento clínico, cirurgia e radioterapia. As
decisões em relação ao tratamento dependem da presença ou ausência de disfunção
gonadal, desejo de gravidez e tamanho do tumor.
Observação
Indicada para pacientes com hiperprolactinemia idiopática ou microadenoma e função
ovariana preservada, com ciclos regulares, sem outra indicação para tratamento. Podem ser
acompanhadas com dosagens de prolactina periódicas e eventuais exames de imagem, caso
surjam sinais de comprometimento neuro-oftalmológico.
25
Tratamento clínico
O tratamento medicamentoso deve ser a terapia primária para todos os prolactinomas e/
envolve agonistas da dopamina. São eficazes na redução dos níveis hormonais, retorno da
ovulação, no tratamento da infertilidade e galactorréia e na redução do tamanho do tumor.
Bromocriptina. Derivado semi-sintético do ergot. A dose habitual necessária para restaurar
a menstruação e normalizar a prolactina é de 2,5 mg a 7,5 mg, dividida em duas tomadas
diárias. Os efeitos colaterais mais comuns são náuseas, vômitos, hipotensão ortostática,
cefaléia e depressão. Podem ser minimizados pelo início do tratamento com doses mais
baixas, tomar à noite e com alimento. O uso de via vaginal também pode ser tentado para
diminuir os efeitos gastrointestinais. Havendo desejo de gravidez, as pacientes devem ser
instruídas a usar um método de barreira até a regularização do ciclo. A partir de então,
quando houver atraso menstrual, a medicação deve ser interrompida e a gravidez
investigada. Usado desta forma, não tem sido relatado aumento de abortamento
malformação congênita.
Cabergolina. Tem meia vida longa e a dose habitual é de 0,5 mg a 1,0 mg por semana,
dividida em duas tomadas. A experiência com a exposição à gravidez inicial é menor e
deve ser evitada.
Havendo intolerância ou resistência ao tratamento com as medicações acima, pode-se ainda
empregar o lisurida (0,2 mg a 0,3 mg/dia), quinagolida (75ug a 150ug / dia), ou pergolida (
0,25 mg / dia).
Considerações sobre o tratamento clínico:
•
O
tratamento
com
agonistas
dopaminérgicos
não
necessita
prosseguir
indefinidamente. Algumas pacientes se mantêm normoprolactinêmicas com a
suspensão do tratamento. Mesmo naquelas em que há recorrência da
hiperprolactinemia, muitas se mantêm assintomáticas. Parece ser razoável
considerar a redução da dose e a retirada da medicação após 2 a 3 anos de
tratamento.
ou
26
•
Pacientes portadoras de hiperprolactinemia idiopática ou microadenoma que não
desejam engravidar podem utilizar anticoncepcional oral ou mesmo terapia
hormonal com estrogênio e progestogênio, para controle dos distúrbios menstruais e
prevenção da perda óssea. Na maioria dos casos não há aumento dos
microadenomas nem dos níveis de prolactina. Em casos individuais pode haver
aumento do tumor.
•
O risco de aumento dos sintomas de um microadenoma pela gravidez é de 1,3%.
Não há necessidade de investigação especial, a não ser que existam sintomas neuro
– oftalmológicos. No macroadenoma o crescimento do tumor pode ocorrer em até
23% dos casos.
Tratamento cirúrgico
A cirurgia transesfenoidal, considerada terapia de eleição para os prolactinomas na década
de 70, vem perdendo espaço para o tratamento clinico, estando hoje reservada para
pacientes que não toleram ou não respondem ao tratamento medicamentoso. Além de não
garantir a cura da hiperprolactinemia, como se pensava, o tratamento cirúrgico está
associado a morbidades como diabetes insípido, panhipopituitarismo e fístulas liquóricas.
Radioterapia
Reservado para casos especiais, aonde não houve resposta aos tratamentos descritos
anteriormente.
27
SANGRAMENTO UTERINO DISFUNCIONAL
Conceito
Sangramento uterino disfuncional (SUD) é síndrome caracterizada por aumento do fluxo
menstrual (sangramento excessivo, prolongado ou freqüente) devido a alterações dos
mecanismos neuroendócrinos que controlam o ciclo menstrual. Este conceito só é atendido
após excluir complicações da gravidez, causas iatrogênicas e doenças orgânicas sistêmicas
ou genitais.
Fisiopatologia
A menstruação normal ocorre a intervalos regulares de 26 a 34 dias, inicia-se abruptamente
e prolonga-se entre 2 a 7 dias, com perda de sangue de aproximadamente 40ml. Quando um
ou mais dos processos fisiológicos responsáveis que controlam, regulam e limitam a
menstruação (Quadro 1) for alterado à extensão em que a função normal possa ser
prejudicada, ocorrerá o sangramento uterino disfuncional excessivo. Considera-se
excessivo qualquer alteração em qualquer um dos parâmetros, seja intervalo, duração ou
volume. As alterações do intervalo sugerem, de inicio, disfunção do eixo neuroendócrino,
manifestada clinicamente por perturbação do desenvolvimento folicular ou disfunção lútea
nos ciclos ovulatórios quando comprometimento do eixo for menos severo ou, mesmo,
anovulação nos quadros de disfunções com maior severidade.
Classificação
Com o objetivo de facilitar a identificação das possíveis causas e racionalizar a conduta
pode-se classificar o SUD segundo:
•
•
•
Período de evolução genital: puberdade, anos reprodutivos, pré – menopausa
Função ovariana: ovulatória, anovulatória
Etiologia: hipotalâmica, hipofisária, ovariana.
Causas
•
Disfunções da córtex cerebral, sistema límbico e hipotálamo
28
Imaturidade persistente do sistema GnRH
Estresse psíquico, físico e nutricional
Tumores, infecções, irradiação, cirurgia
•
Disfunções hipofisárias
Diminuição na secreção FSH e LH
Secreção de moléculas atípicas de FSH, LH
Tumor secretor FSH
Irradiação, infarto
•
Disfunções ovarianas
Alteração atividades das enzimas 17α-hidroxilase e 12 – 20 liase
Expressão clínica do SUD
Em ciclos ovulatórios com desenvolvimento folicular insuficiente, o retardo no processo de
reepitelização dá origem ao prolongamento do sangramento menstrual sem aumento do
volume
(hipermenorréia)
ou
prolongamento
associado
ao
aumento
do
fluxo
(hipermenorragia). Havendo foliculogênese acelerada o intervalo do ciclo pode ser mais
curto em uma (ciclos entre 20 – 26 dias, proiomenorréia) ou duas semanas (ciclos a cada 15
dias, polimenorréia). Caso haja foliculogênese prolongada haverá ovulação tardia e ciclos
com variação entre 35 – 45 dias (opsomenorréia) ou entre 45 – 90 dias (espaniomenorréia).
Na ocorrência de fase lútea insuficiente, pode-se observar ciclos com intervalo normal e
manchas antes do fluxo, prolongando sua duração (hipermenorréia) ou ciclos com
intervalos curtos (proiomenorréia). No comprometimento mais severo do eixo hipotálamo –
hipófise – ovariano com anovulação, os intervalos são imprevisíveis. As manifestações
clínicas marcantes são a polimenorréia e os ciclos longos, com duração variável e fluxo
prolongado. Lembrar que na polimenorréia por anovulação não há modificação nas
características do fluxo e que este fato permite diferenciá-la dos ciclos ovulatórios com
manchas no meio do ciclo. Lembrar que os ciclos longos, oligomenorréia na literatura
inglesa é opso ou espaniomenorréia na alemã, podem não caracterizar alterações com
excesso de sangramento.
Diagnóstico
29
Avaliação minuciosa é essencial para exclusão das causas orgânicas e essencial para que o
diagnóstico de sangramento disfuncional seja assumido. (Diretrizes são mostradas no
Quadro 2).
Considerar pontos relevantes na anamnese:
•
•
•
•
•
Estilo de vida, atividade física, estresse excessivo (físico, psíquico, nutricional), perda
de peso excessivo, vômitos.
Sinais alteração hipotalâmica: sono, sede, apetite, olfato, regulação térmica, cefaléia,
convulsões, mudanças comportamentais
Sinais de alteração hipofisária: Galactorréia, campo visual
Sintomas de hipoestrogenismo ou mudanças bruscas nos níveis de estrogênio: fogachos,
sudorese noturna
Outros: crescimento de pêlos em excesso, adinamia, edema, pele sêca, intolerância ao
frio, obstipação
Considerar pontos relevantes no exame físico
•
•
•
Conformação corporal: altura, peso, envergadura, razão cintura – quadril, índice de
massa corporal
Pulso: rápido (hipertiroidismo) ou lento (hipotireoidismo, stress físico ou nutricional)
Pele: coloração (amarelada no hipotiroidismo e anorexia nervosa), sinais de
hiperandrogenismo (acne, hirsutismo), sinais de resistência à insulina (acanthosis
nigricans, acrocórdones)
•
•
Mamas: galactorréia
Genitais: trofismo, pilificação, tamanho clitóris
Aspectos relevantes na investigação complementar
•
•
•
Excluir uso de medicamentos anticoagulantes e hormônios que possam causar
sangramento iatrogênico
Excluir complicações de gravidez com dosagem de βhCG e ultrassonografia.
Na identificação de doenças sistêmicas considerar testes para identificar disfunções da
tireóide, insuficiência renal, insuficiência hepática, hiperprolactinemia, diabetes
30
mellitus, doença de von Willebrand (fator VIII, antígeno von Willebrand, teste de
agregação plaquetaria).
•
•
•
•
Rigor na comprovação da normalidade dos órgãos pélvicos: ultrassonografia,
histeroscopia, biopsia endométrio, laparoscopia.
Exaustiva investigação da função reprodutiva hipotalâmica: FSH, LH, se necessário
teste com GnRH, ressonância magnética.
Exaustiva investigação da função hipofisária: FSH, LH, PRL, teste com GnRH.
Examinar a duração e função da fase folicular: incremento do estradiol,
acompanhamento do crescimento folicular e sua ruptura com ultra – sonografia seriada
e modificações endometriais. A dinâmica do aumento dos níveis de estradiol em
dosagens seriadas não está, ainda, padronizada.
•
Examinar a duração da função lútea: identificação ecográfica do dia da ovulação,
vascularização do corpo lúteo, curva da progesterona, biopsia do endométrio e
características do inicio do fluxo menstrual (presença ou ausência de manchas antes do
aumento do fluxo).
Tratamento do sangramento uterino disfuncional
Diferenciar o tratamento segundo a (s):
•
•
•
•
Etiologia
Forma de apresentação clínica
Histologia endometrial
Metas da paciente
Considerando estes aspectos, poderá caracterizar ou não uma urgência médica, ser clínico
ou cirúrgico, conservador ou radical.
A. Na urgência:
•
•
Corrigir hipovolemia e manter hemodinâmica
Parar o sangramento
Iniciar com estrogênios: estrogênios conjugados, 25 mg EV a cada 4 – 6 horas. Não
se recomenda a associação estrogênio – progestogênio no primeiro momento.
Curetagem: pode ser considerada em mulheres acima de 40 anos, uso prévio
prolongado ou irregular de estrogênio ou falha do estrogênio na parada do
sangramento
31
B. Não urgência:
•
•
•
•
Seguir protocolo diagnóstico para identificar a causa
Individualizar, segundo a causa e as metas das pacientes
Considerar a histologia do endométrio, se disponível
Ciclos ovulatórios anormais ou anovulatórios, sem desejo de gravidez
Estabelecer ciclos artificiais, estendidos ou não, com anticoncepcional hormonal
combinado (oral, vaginal, transdérmico)
•
Ciclos anovulatórios ou ovulatórios anormais, com desejo de gravidez
Assegurar foliculogênese, ovulação e fase lútea normais com indutores da ovulação
(citrato de clomifeno, inibidores da aromatase) e/ou gonadotrofinas (FSH, LH).
B2. Cirúrgico:
•
Independente do método (histerectomia, ablasão, endométrio) considerá-lo apenas na
mulher com prole completa e falha do tratamento clínico.
Lembrar que as falhas no tratamento clínico são comuns no erro diagnóstico para
exclusão de causa orgânica.
B1. Clínico:
32
Quadro 1 – Mecanismos responsáveis pelo início e término de fluxo menstrual
Início:
• Diminuição de estradiol e progesterona
• Ruptura dos lisossomas célula endometrial
• Liberação de fosfolipase A
• Utilização de ácidos araquidônico e eicosanotrienóico
• Síntese de prostaglandinas, vasodilatação e vasoconstrição rítmicas
• Contração vascular intermitente
• Ruptura vascular, diapedese, extravasamento de sangue
• Ruptura da superfície epitelial do endométrio
Término:
• Foliculogênese normal com produção estrogênios
• Reepitelização do endométrio
• Integridade miometrial
• Área endometrial
• Espessura endometrial
• Grau de vascularização e edema mio – endometrial
• Equilíbrio entre prostaglandinas vasoconstritoras e vasodilatadoras
• Eficácia do sistema coagulação
33
Quadro 2 – Objetivos para o diagnóstico de sangramento uterino disfuncional
•
•
•
•
•
•
Proceder anamnese e exame físico detalhado
Rastrear possível uso de medicamentos
Excluir possíveis complicações de gravidez
Identificar eventual doença sistêmica
Comprovar a normalidade estrutural dos órgãos pélvicos
Verificar a função do eixo hipotálamo – hipófise – ovariano.
34
DISFUNÇÃO DA FASE LÚTEA
Conceito e Prevalência
É distúrbio da função ovariana, envolvendo produção hormonal anormal na fase pós –
ovulatória com desenvolvimento inadequado do endométrio para a implantação normal e
segura do embrião. Insuficiência lútea significa tanto menor secreção de progesterona como
produção adequada de progesterona durante tempo anormalmente curto ou, ainda, uma
resposta endometrial inadequada a níveis normais de progesterona. Sua prevalência é
imprecisa devido ao uso de diferentes critérios diagnósticos. Estima-se que ocorra em 6 %–
10% das mulheres férteis, em 3% – 20% das inférteis e entre 23% – 60% daquelas com
história de abortamento recorrente. É mais freqüente nos extremos da vida reprodutiva, nas
pacientes com oligoovulação, atletas, hirsutas, usuárias de indutores da ovulação e
pacientes com esterilidade ou abortamentos de repetição.
Estrutura e função do corpo lúteo
Na sua estrutura o corpo lúteo compõe-se de células esteroidogênicas (tecais, granulosas,
pequenas e grandes) e não esteroidogênicas (células endoteliais, plaquetas, fibroblastos,
linfócitos, macrófagos e neutrófilos). A função lútea espelha o resultado da interação
funcional destes tipos celulares, envolvendo mecanismos endócrinos, parácrinos e
intrácrinos. As células tecais, mais numerosas, contêm maior número de receptores para LH
/ hCG, sintetizam androgênios, estradiol e progesterona em pulsos sincrônicos com os
pulsos de LH. As células granulosas centrais têm poucos receptores LH / hCG e mostram
resposta pequena ao estímulo com LH. As células não esteroidogênicas secretam
prostaglandinas, citocinas e fatores de crescimento, modulando a angiogênese, a síntese de
progesterona e a luteólise.
Causas de disfunção lútea
•
Defeitos do eixo hipotálamo – hipofisário na síntese e pulsatilidade do hormônio
liberador de gonadotrofinas (GnRH) e / ou secreção das gonadotrofinas. São freqüentes:
35
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
Níveis subótimos de FSH na fase folicular precoce
Ausência do pico de FSH no meio do ciclo
Ausência do pico pré – ovulatório de LH
Alteração na secreção tônica e pulsátil de LH
Proporção inadequada de FSH:LH
Moléculas de FSH / LH estruturalmente anormais
Níveis de prolactina < 5ng/ml ou > 20 – 40ng/ml
Disfunções da tireóide e suprarenal
Alterações locais parácrinas, intrácrinas no corpo lúteo
•
•
•
Laqueadura ou eletrocoagulação tubária
Tetralogia de Fallot
Medicamentos: citrato de clomifeno, danazol, GnRH, prostaglandinas.
Diagnóstico
Tem-se como objetivos:
•
•
Quantificar os níveis de progesterona circulantes
Verificar os efeitos de progesterona nos efetores (endométrio)
Devido às numerosas possíveis causas e ausência de método único para o diagnóstico,
recomenda-se associação de vários critérios. Manifestações clínicas (Quadro 1) e
instrumentos diagnósticos (Quadro 2) são propostos na construção de diagnóstico
preciso.
Considerações no diagnóstico
•
Ciclos sem elevação térmica (monofásicos) não provam ausência de ovulação; em cerca
de 75% dos gráficos monofásicos pode ter ocorrido ovulação com pobre resposta
termogênica.
•
•
•
Pacientes com níveis subnormais de progesterona podem ser hipersensíveis ao efeito
termogênico da progesterona com temperatura bifasica normal
Ciclos com luteinização sem ovulação podem ter gráficos bifásicos
Não há definição da concentração mínima de progesterona indicativa de insuficiência
lútea, resultados inconsistentes com sobreposição de níveis entre pacientes com fase
lútea normal e insuficiente têm sido observados
36
•
•
Os métodos atuais mais sensíveis para a quantificação da progesterona ainda não foram
validados em pacientes com e sem insuficiência lútea
A acurácia da biópsia de endométrio depende da identificação precisa do dia da
ovulação. Além de refletir a resposta do endométrio aos fatores indutores produzidos
pelo corpo lúteo, fornece informações adicionais (fibrose, endometrite, tuberculose
endometrial) e possibilita a análise de receptores, enzimas e outros marcadores
bioquímicos da função endometrial.
•
•
•
A precisão da datação endometrial depende da percepção do observador, local da
biópsia, identificação precisa da ovulação e dia da fase de obtenção da amostra.
O uso de marcadores bioquímicos na avaliação da função endometrial em endométrios
de ciclos normais ou com insuficiência lútea não está sistematizado
Há necessidade de documentar a insuficiência lútea em mais de um ciclo
Tratamento
O tratamento da insuficiência lútea por alterações intrísecas da fisiologia intralútea não está
estabelecido; deve fundamentar-se então na garantia de estimulo normal dos fatores
luteotróficos e bloqueio da luteólise prematura. Logo, até que se tenha a compreensão exata
dos mecanismos envolvidos na insuficiência lútea, o tratamento atual está fundamentado
em:
•
Corrigir hiperprolactinemia e disfunções da adrenal ou tireóide, se presentes.
1. Citrato de clomifeno, 50 – 200mg/dia, 5 dias, iniciando-o entre o 2º e o
5º dia do ciclo.
2. FSH ou HMG, 37,5 a 75UI/dia, a partir do 3º dia do ciclo
3. Associação do citrato de clomifeno com FSH ou FSH e LH em
dias alternados, a partir do 3º ou 4º dia do ciclo, total de quatro doses
4. Inibidores da aromatase (letrozole) 2,5 – 5,0mg/dia, 5 dias, 3º ao 7º
dia do ciclo.
• Manter a função lútea com LH ou hCG.
1. HCG, 500 – 1500 UI intramuscular, cada 3 dias, após documentação da
ovulação ou do pico de LH
• Assegurar foliculogênese normal
37
2. LH, 75 UI/dia, subcutâneo, a cada um ou dois dias
• Substituir a função lútea pela adição de progesterona.
1. Progesterona micronizada, 50 – 400mg/dia, vaginal
2. Progesterona micronizada, 100 – 400mg/dia, oral
3. Progesterona gel, 4% – 8%, 45 – 90mg/dia, endovaginal
4. Progesterona oleosa, 12,5 – 50 mg/dia, intramuscular
38
Quadro 1 – Diagnóstico da disfunção da fase lútea
Indicadores clínicos
•
•
•
•
•
•
•
•
Esterilidade conjugal
Abortamentos de repetição
Encurtamento dos ciclos menstruais (< 25 dias)
Ciclos menstruais longos (> 35 dias)
Sangramento escasso, borraceo, precedendo o aumento do fluxo
Prolongamento do fluxo menstrual
Galactorréia
Hirsutismo
39
Quadro 2 – Diagnóstico da disfunção lútea
Métodos auxiliares
•
•
Registro da temperatura corporal basal
Aumento térmico de 0,3 a 0,5º C, por tempo inferior a 11 dias
Dosagem de progesterona, seriada ou não.
Concentração mínima normal, na fase lútea, entre 3 – 10ng/ml, dosagem única.
Soma ≥ 15ng/ml, 3 dosagens entre o 4º e o 11º dia da fase lútea
•
Biopsia e datação do endométrio
Efetuada 12 a 13 dias após a avulação
Padrão no diagnóstico: critérios de Noyes
Anormal quando a defasagem em relação à ovulação for > 2 dias
•
Dosagem de FSH, LH, PRL e androgênios
Diminuição da razão FSH:LH na fase folicular precoce
Elevação da PRL e androgênios na fase folicular
•
Ultra – sonografia do folículo, corpo lúteo e endométrio
Análise da duração da foliculogênese e identificação da ovulação
Avaliação da espessura, características e regularidade do endométrio
•
Dopplervelocimetria do corpo lúteo e endométrio
Aumento do fluxo entre 3 e 7 vezes na fase lútea normal
Índices de resistência maiores na insuficiência lútea
Avalia a qualidade da perfusão no endométrio
•
Marcadores bioquímicos endometriais
Proteínas de adesão celular (integrinas, lamininas)
Fatores de crescimento
Citocinas, enzimas, peptídeos, hormônios, receptores.
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