quarta-feira, 6 de novembro de 2013

epilepsia

epilepsia

Definições

“CONVULSÃO”: É um termo leigo, que caracteriza episódio de contração muscular excessiva ou anormal, usualmente bilateral, que pode ser sustentada ou interrompida;

“AURA”: Este termo (que em Grego significa brisa) designa a sensação que ocorre no início da crise, e não um fenômeno distinto;


Diagnosticando a epilepsia
_ É de grande importância identificar na história clínica:
_ Tipo (s) de crise (s);
_ Idade de início;
_ As circunstâncias do aparecimento das crises (fatores precipitantes);
_ Horário e duração das crises;
_ Área (s) do corpo afetada;
_ Os sintomas prodrômicos ou iniciais (AURA ou crise parcial);
_ Os sintomas pós ictais;
_ Caracterização semiológica dos eventos epilépticos;
Tipos de Epilepsia
Sintomáticas: quando existe uma causa conhecida ou
fortemente inferida;
Criptogênicas: quando não existe uma causa conhecida ou
presumível;
Idiopáticas: quando a causa é genética,familiar;


Classificação das principais crises epilépticas
(Liga Internacional contra a Epilepsia)

Crises parciais ou focais (crises que têm origem
localizada) :
• Simples (sem prejuízo da consciência);
• Complexas (com alteração da consciência);
• Parciais secundariamente generalizadas;


Crises generalizadas: se caracterizam pelo envolvimento de todo
o córtex desde o início do quadro. Há perda da consciência desde o início e não
apresenta “AURA”.
• Ausências: (Típica / Atípica);
• CTCG (Crise tônico-clônica generalizada);
• Crises mioclônicas;
• Crises atônicas ou acinéticas;
• Crises clônicas;
• Crises tônicas;

Crises Parciais
_ É o tipo mais comum de epilepsia / 65% dos casos;
_ Mais comum em adultos;
_ É raramente de origem genética;
_ Com frequência: neoplasias; áreas focais de gliose; MAV etc...;
_ Originam-se no lobos Temporal / Frontal / Occipital e Parietal em ordem
decrescente de frequência;
_ Com frequência são precedidas por “AURA” que ajudam na localização da
origem neuroanatômica da crise:


Características Aspectos da “AURA”
L. Temporal Psíquico (dejà vu; jamais vu; medos)
Sensação gástrica crescente
Alucinações olfativas / gustativas
Autonômicas: palpitações; piloereção; alt.gastroint.

L. Frontal Atividade clônica unilateral; postura tônica;
flexão de um membro; clonus da cabeça e giro do
pescoço

L. Parietal Parestesias contralaterais

L. Occipital Alucinações visuais




Crises Parciais
(É o tipo mais comum de epilepsia (65%) / têm origem localizada)
Crises parciais simples (CPS):
_ Início súbito com duração breve com preservação da consciência,
associadas ou não a sintomas (motores, sensitivos, autonômicos e psíquicos);
_ Foco de origem localizado, geralmente indicando a presença de lesão
estrutural;
_ As (CPS) também podem provocar alucinações auditivas, olfatórias ou visuais;

_ Podem generalizar-se, e são geralmente precedidas por “AURA”;
_ O (EEG) revela descargas epileptiformes focais contralaterais;
_ As manifestações dependem do local da área cortical acometida,
compreendendo:
distúrbios motores (tônico-clônicos) em qualquer parte do corpo (Bravais-
Jacksoniana);
pode ser seguida de fraqueza transitória (Paralisia de Todd),
distúrbios autonômicos;
experiências sensoriais ou psíquicas;

Crises parciais complexas (CPC):
_ É um dos tipos mais freqüentes, sendo chamadas de “crises
psicomotoras” ou do “lobo temporal”;
_ Sempre se acompanha de alteração da consciência (perda do contato
com o ambiente);
_ Podem ter início como uma (CPS) e progredir; outras vezes há alteração
da consciência desde o início;

_ É comum que ocorra sob a forma de comportamento “alterado” ou
“automático” : com movimentos mastigatórios;
mexer os dedos nervosamente;
esfregar uma mão na outra, fazer caretas;
rasgar roupas, ou despir-se;
pegar e soltar de maneira repetitiva um objeto;
agir de modo sem sentido;
_ Geralmente o período pós ictal é acompanhado por confusão mental e amnésia;
_ Podem evoluir para uma forma secundariamente generalizada;
_ O EEG revela descargas epileptiformes focais unilaterais ou bilaterais geralmente assíncronas;

Crises parciais 2ªria generalizadas:
_ São crises parciais simples ou complexas, nas quais a descarga
epiléptica estende-se para ambos os hemisférios cerebrais
desencadeando uma crise tônico-clônica generalizada, podendo
ou não haver “AURA”;
_ EEG revela descargas focais uni ou bilaterais geralmente assíncronas;

Crises generalizadas
Se caracterizam pelo envolvimento simultâneo de todo o córtex desde o início
do quadro. O indivíduo tem perda da consciência desde o início e não
apresenta “AURA”.
Crises de Ausência:
_ Simples: Típicas / Atípicas
_ Complexas:


Crise de Ausência simples Típica
_ Também chamada de “Pequeno Mal”;
_ Ocorrem quase que exclusivamente em crianças e adolescentes, os quais
apresentam vários episódios repetidos de perda da consciência durante o
dia, de curta duração (5 a 15 seg), retomando as atividades normalmente;
_ Subitamente perdem a consciência, ficam lívidas e paradas, com o olhar
vago (desviado para cima), sem responder às solicitações e sem reagir aos estímulos;

_ Ocasionalmente pode ocorrer movimento palpebral (piscamentos),
contrações perilabiais, pequenas oscilações rítmicas da cabeça
e movimentos mastigatórios com mímica e riso no final;
_ Podem ser desencadeadas pela foto estimulação e pela
hiperventilação voluntária;
_ O E.E.G das crises de “Ausência típica” é característico,
revelando um padrão de descarga generalizada de complexos ponta-onda (3 a 4 Hz);

Crise de Ausência simples Atípica
_ Também chamadas de variante do “Pequeno Mal”;
_ Diferenciam-se das Ausências Típicas, clínica e EEG;
_ Não se desencadeiam pela hiperventilação e tampouco pela
fotoestimulação;
_ Em geral acometem crianças com graves alterações neurológicas;
_ São mais resistentes às drogas (DAE);

_ Há 2 tipos:
crises com alteração breve e discreta da consciência, com mínimas contrações musculares difusas, e algumas vezes, com elevação do ombro e braços;
crises semelhantes com menor comprometimento da consciência, associado a ligeira confusão mental e menos brusca que a anterior;



Crise de ausência complexa
Ocorre comprometimento da consciência;
São acompanhadas de fenômenos vegetativos ou motores;
Ausência mioclônica são crises de perda da consciência,
associado a mioclonias difuas (com predomínio da musculatura flexora),
elevações sucessivas dos braços e flexão da cabeça sobre o tronco,
podendo ocorrer queda ao solo, assumindo a posição de opistótono;
Ausência com aumento do Tono Postural são crises de hipertonia simétrica, com projeção do corpo para frente ou para trás, e às vezes com movimentos giratórios sobre o eixo corporal;
Ausência com diminuição do Tono Postural são crises de perda súbita da consciência, provocando queda do paciente ao solo;

Ausência com automatismos são crises com alteração da
consciência, associada a atividades gestuais e deambulação;
Ausência com fenômenos vegetativos são crises associadas
a manifestações vasomotoras:
_ rubor facial, cianose;
_ gastrointestinais (náuseas, vômitos, diarréias);
_ pupilares (midríase, miose);
_ hipersecreção glandular (lacrimejamento, perspiração);
_ alterações cardíacas (taquicardia, bradicardia, arritmias);
_ alterações da temperatura (hipertermia);


Crise tônico clônica generalizada
_ São as mais comuns, sendo chamadas de “Grande Mal”;
_ Não existe “aura”;
_ Caracteriza-se por perda súbita da consciência e queda ao solo;
_ Surge espasmo muscular generalizado com “trismo” da musculatura mastigatória
provocando mordedura da língua (Fase Tônica);
_ Posteriormente há um relaxamento muscular surgindo os abalos clônicos
generalizados, rítmicos e de grande amplitude, com duração em torno de 3 minutos
podendo ocorrer liberação esfincteriana;
_ Após cessar os abalos, há recuperação gradativa da consciência, geralmente
associado a cefaléia, confusão mental, sonolência, vômitos e sensação de fadiga;
_ O EEG geralmente revela descargas generalizadas e bilaterais de pontas-ondas lentas difusas.

Crises mioclônicas:
_ Caracterizam-se por breves abalos, musculares, abruptos, rápidos e
repetitivos, simétricos nas extremidades (MMSS) deixando cair objetos das
mãos;
_ Geralmente ocorrem pela manhã ao despertar, sendo ativadas pela privação
do sono, uso de álcool, tensão emocional e estímulos luminosos;
_ Não há perda da consciência e o indivíduo descreve perfeitamente a crisecomo “surtos” ou “choques elétricos”;
_ E.E.G revela surtos bilaterais e difusos do complexo poliponta-onda, pontaonda ou onda aguda-onda lenta.




Crises atônicas ou acinéticas:
_ Estas são mais raras;
_ Geralmente manifestam-se durante o curso de algumas
formas graves de epilepsia;
_ Caracterizam-se por perda súbita do tônus dos músculos
posturais. O paciente abruptamente cai ao solo, com rápida
recuperação, sem abalos convulsivos e sem sintomas póscríticos
“drop attaks”;
_ O E.E.G revela polipontas e ondas lentas;


Crises Clônicas:
_ Caracterizam-se por várias contrações musculares do corpo ou membros com duração de poucos segundos ou minutos;
EEG interictal revela descargas do tipo espículas-onda;
Crises Tônicas:
_ Caracterizam-se por contrações musculares mantidas do corpo ou membros com duração de poucos segundos ou minutos;
_ EEG interictal revela descargas mais ou menos rítmicas de onda aguda-onda lenta, algumas vezes assimétricas;

Síndrome de West (Espasmos Infantis):
_ Início em torno do 6º mês de vida (entre 3 - 9 meses) e de mau prognóstico;
Caracterizada por uma tríade:
Atraso no DNPM;
Vários “Espasmos em flexão ou extensão”, em salvas;
E.E.G característico: “Hipsarrítmico”;




Síndrome de Lennox-Gastaut:
_ Caracteriza-se por crises de múltiplos tipos, incluindo crises atônicas;
ausências complexas; crises tônico-clônicas e mioclônicas.
_ Geralmente há história pregressa de Sd. de West;

Caracteriza por uma tríade:
Atraso no DNPM;
Crises com características variadas, sendo mais típicas as crises tônicas, as
ausências atípicas e atônicas;
E.E.G revela complexo lento de onda aguda-onda lenta (< 2,5c/s) e durante o sono surtos de ritmo rápido (10 a 12 Hz);


Tratamento:
_ Confirmação do diagnóstico e do tipo de crise;
_ Probabilidade de recorrência de crises, pois, há controvérsia quanto ao início
do tratamento logo após o 1º episódio convulsivo;
_ Observar se a crise foi precipitada por estímulos (ingestão de álcool,
privação do sono, fotoestimulação);
_ Enfatizar a necessidade da tomada regular da medicação, e alertar quanto
ao risco da suspensão brusca;
_ Deixar claro quanto a necessidade da continuidade do tratamento mesmo na ausência das crises.

Medidas a serem tomadas ao se presenciar
uma crise convulsiva:
_ Manter a calma;
_ Colocar o indivíduo em posição confortável;
_ Vire suavemente a cabeça para o lado, de maneira que a saliva escorra e não
impeça a respiração;
_ Proteja a cabeça com algo suave sob a mesma;
_ Não tente introduzir nenhum objeto na boca;
_ Não lhe dê nada para beber;
_ Não tente despertá-la;
_ Permaneça ao lado do indivíduo até terminar a crise.

Tratamento emergencial da crise convulsiva:
_ Facilitar a aeração pulmonar: (Desobstruções das vias aéreas retificação com lateralização da
cabeça; cânula de Guedell para evitar mordedura da língua; O2 sob cateter ou máscara e entubação
orotraqueal nos casos mais prolongados e graves);
_ Manter acesso venoso adequado;
_ Antitérmicos por via venosa ou retal nos casos de febre;
_ Correção imediata dos distúrbios metabólicos associados (hipoglicemia,
hiponatremia);
_ Tratamento do edema cerebral quando presente (TCE, Tumores do SNC);
_ Em casos de sinais meníngeos considerar punção lombar;
_ Na presença de sinais focais, antes da punção lombar, considerar a realização da tomografia computadorizada.

Tratamento Medicamentoso
(Usado durante a crise convulsiva):
_ 1º- Benzodiazepínicos (Diazepam): devem ser usados durante o
momento da crise, por ter rápido início de ação e de eliminação;
Dose: 0,3mg/kg/dose (podendo ser repetida em 15 min, se necessário, até dose
total de 10mg E.V, lentamente, sem diluição);
_ 2º- Difenil-hidantoína: por via (EV) diluída em soro fisiológico,
lentamente, pois apresenta um mínimo efeito sobre o nível de consciência;
Ds. de At: RN: 20mg/Kg/dose; Lactente/Escolar: 10 a 15mg/Kg/ds;
Ds. de Manut.: 5 a 8mg/Kg/dia (início 12h após a dose de ataque);


Tratamento Medicamentoso
(Usado durante a crise convulsiva):
_ 3º- Fenobarbital: por via (IM);
Ds. de At.: RN: 20mg/Kg/dose; Lactente/Escolar: 10 a 15mg/Kg/dose
Ds. de Manut.: 3 a 5mg/Kg/dia (início 12h após a dose de ataque);

4º- Midazolam: RN: 0,05 a 0,2g/Kg (EV ou IM);
              Lact./Esc: 0,1 a 0,4mg/Kg/h;
             Dripping: 0,05 a 0,2mg/Kg/h;



Tratamento Medicamentoso
(Usado durante a crise convulsiva):
5º- Tiopental: usado nos casos de E.M.E, após refratariedade às
medidas anteriores, devendo a criança ser assistida em ambiente de CTI
(devido ao quadro de depressão respiratória).
Esquema utilizado:
Dose inicial: (5 a 10mg/Kg) seguida de infusão contínua (em bomba de infusão) de 3
a 5mg/Kg/h (EV), mantida por um período de 6h,12h ou 24h, dependendo da necessidade do caso.
Após esse período, iniciar redução na proporção de 1mg/Kg/h até a suspensão total.

Observações importantes:
_ 50% a 100% das doses de ataque de (DFH e FB) podem ser repetidas antes do
uso do Tiopental, na tentativa de debelar as crises, devendo ser mantidas durante
a infusão do mesmo;
_ Diazepam em “dripping” ou o uso de Diazepínicos de eliminação mais lenta
(Lorazepam, Clonazepam, Midazolam) podem ser úteis nas crises refratárias,
precedendo ou sucedendo ao uso do Tiopental.
_ A administração de Diazepam, dose inicial 0,5mg/Kg (no máximo 20mg) por via
retal pode ser utilizada com eficácia se o acesso vascular não estiver disponível.
_ Usa-se também o Ac. Valpróico xp. 250mg/ml diluído em água em 1:1, e 20 a
30mg/Kg em forma de enema, com a desvantagem da absorção lenta e seu início
de ação é de 2 a 4h;
_ A monitorização do hemograma completo, hepatograma e do nível sérico dosanticonvulsivantes deve sempre ser feita nos casos de esquemas com associação
de drogas, e eletivamente no acompanhamento ambulatorial;
_ É importante estar sempre atento às “iatrogenias” causadas pelos efeitos
colaterais dos anticonvulsivantes, por exemplo: alterações cutâneas (eritema leve;
Síndrome de Stevens-Johnson; mielotoxicidade; insuficiência hepática).

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