epilepsia
Definições
“CONVULSÃO”: É um termo leigo, que
caracteriza episódio de contração muscular excessiva ou anormal, usualmente
bilateral, que pode ser sustentada ou interrompida;
“AURA”: Este termo (que em Grego significa brisa) designa a sensação que ocorre no início da crise, e
não um fenômeno distinto;
Diagnosticando a
epilepsia
_ É de grande importância identificar na história
clínica:
_ Tipo (s) de crise (s);
_ Idade de início;
_ As circunstâncias do aparecimento das crises
(fatores precipitantes);
_ Horário e duração das crises;
_ Área (s) do corpo afetada;
_ Os sintomas prodrômicos ou iniciais (AURA ou crise
parcial);
_ Os sintomas pós ictais;
_ Caracterização semiológica dos eventos epilépticos;
Tipos de Epilepsia
Sintomáticas: quando existe uma causa conhecida ou
fortemente inferida;
Criptogênicas: quando não existe uma causa conhecida ou
presumível;
Idiopáticas: quando a causa é genética,familiar;
Classificação das
principais crises epilépticas
(Liga Internacional
contra a Epilepsia)
Crises parciais ou focais (crises que têm origem
localizada) :
• Simples (sem prejuízo da consciência);
• Complexas (com alteração da consciência);
• Parciais
secundariamente generalizadas;
Crises generalizadas: se caracterizam pelo
envolvimento de todo
o córtex desde o início
do quadro. Há perda da consciência desde o início e não
apresenta “AURA”.
• Ausências: (Típica / Atípica);
• CTCG (Crise tônico-clônica
generalizada);
• Crises mioclônicas;
• Crises atônicas ou acinéticas;
• Crises clônicas;
• Crises tônicas;
Crises Parciais
_ É o tipo mais comum de epilepsia / 65% dos casos;
_ Mais comum em adultos;
_ É raramente de origem genética;
_ Com frequência: neoplasias; áreas focais de gliose;
MAV etc...;
_ Originam-se no lobos Temporal / Frontal / Occipital
e Parietal em ordem
decrescente de frequência;
_ Com frequência são precedidas por “AURA” que ajudam
na localização da
origem neuroanatômica
da crise:
Características Aspectos da “AURA”
L. Temporal Psíquico (dejà vu; jamais vu; medos)
Sensação gástrica crescente
Alucinações olfativas / gustativas
Autonômicas: palpitações; piloereção; alt.gastroint.
L. Frontal Atividade clônica unilateral; postura tônica;
flexão de um membro; clonus da cabeça e giro do
pescoço
L. Parietal Parestesias contralaterais
L. Occipital Alucinações visuais
Crises Parciais
(É o tipo mais comum de epilepsia (65%) / têm
origem localizada)
Crises parciais simples
(CPS):
_ Início súbito com duração breve com preservação da
consciência,
associadas ou não a sintomas (motores, sensitivos, autonômicos e psíquicos);
_ Foco de origem localizado, geralmente indicando a
presença de lesão
estrutural;
_ As (CPS) também podem provocar alucinações
auditivas, olfatórias ou visuais;
_ Podem generalizar-se, e são geralmente precedidas
por “AURA”;
_ O (EEG) revela descargas epileptiformes focais
contralaterais;
_ As manifestações dependem do local da área cortical
acometida,
compreendendo:
• distúrbios
motores (tônico-clônicos) em qualquer parte do corpo (Bravais-
Jacksoniana);
• pode
ser seguida de fraqueza transitória (Paralisia de Todd),
• distúrbios
autonômicos;
• experiências sensoriais ou psíquicas;
Crises parciais
complexas (CPC):
_ É um dos tipos mais freqüentes, sendo chamadas de “crises
psicomotoras” ou do “lobo temporal”;
_ Sempre se acompanha de alteração da consciência
(perda do contato
com o ambiente);
_ Podem ter início como uma (CPS) e progredir; outras
vezes há alteração
da consciência desde o
início;
_ É comum que ocorra sob a forma de comportamento “alterado”
ou
“automático” : com movimentos mastigatórios;
mexer os dedos nervosamente;
esfregar uma mão na outra, fazer caretas;
rasgar roupas, ou despir-se;
pegar e soltar de maneira repetitiva um objeto;
agir de modo sem sentido;
_ Geralmente o período pós ictal é acompanhado por
confusão mental e amnésia;
_ Podem evoluir para uma forma secundariamente
generalizada;
_ O EEG revela descargas epileptiformes focais
unilaterais ou bilaterais geralmente assíncronas;
Crises parciais 2ªria
generalizadas:
_ São crises parciais simples ou complexas, nas quais
a descarga
epiléptica estende-se para ambos os hemisférios
cerebrais
desencadeando uma crise tônico-clônica
generalizada, podendo
ou não haver “AURA”;
_ EEG revela descargas focais uni ou bilaterais geralmente
assíncronas;
Crises generalizadas
Se caracterizam pelo envolvimento simultâneo de
todo o córtex desde o início
do quadro. O indivíduo tem perda da consciência
desde o início e não
apresenta “AURA”.
Crises de Ausência:
_ Simples: Típicas / Atípicas
_ Complexas:
Crise de Ausência simples Típica
_ Também chamada de “Pequeno Mal”;
_ Ocorrem quase que exclusivamente em crianças e
adolescentes, os quais
apresentam vários episódios repetidos de perda da
consciência durante o
dia, de curta duração (5 a 15 seg), retomando as atividades normalmente;
_ Subitamente perdem a consciência, ficam lívidas e
paradas, com o olhar
vago (desviado para cima), sem responder às
solicitações e sem reagir aos estímulos;
_ Ocasionalmente pode ocorrer movimento palpebral (piscamentos),
contrações perilabiais, pequenas oscilações
rítmicas da cabeça
e movimentos mastigatórios com mímica e riso no
final;
_ Podem ser desencadeadas pela foto estimulação e
pela
hiperventilação voluntária;
_ O E.E.G das crises de “Ausência típica” é
característico,
revelando um padrão de descarga generalizada de
complexos ponta-onda (3 a 4 Hz);
Crise de Ausência simples Atípica
_ Também chamadas de variante do “Pequeno Mal”;
_ Diferenciam-se das Ausências Típicas, clínica e
EEG;
_ Não se desencadeiam pela hiperventilação e tampouco
pela
fotoestimulação;
_ Em geral acometem crianças com graves alterações
neurológicas;
_ São mais resistentes às
drogas (DAE);
_ Há 2 tipos:
• crises
com alteração breve e discreta da consciência, com mínimas contrações musculares
difusas, e algumas vezes, com elevação do ombro e braços;
• crises
semelhantes com menor comprometimento da consciência, associado a ligeira
confusão mental e menos brusca que a anterior;
Crise de ausência complexa
Ocorre comprometimento da consciência;
São acompanhadas de fenômenos vegetativos ou
motores;
• Ausência mioclônica – são
crises de perda da consciência,
associado a mioclonias difuas (com predomínio da musculatura flexora),
elevações sucessivas dos braços e flexão da cabeça
sobre o tronco,
podendo ocorrer queda ao solo, assumindo a posição
de opistótono;
• Ausência com aumento do Tono
Postural – são crises de hipertonia simétrica, com projeção do
corpo para frente ou para trás, e às vezes com movimentos giratórios sobre o
eixo corporal;
• Ausência com diminuição do Tono
Postural – são crises de perda súbita da consciência,
provocando queda do paciente ao solo;
• Ausência com automatismos – são
crises com alteração da
consciência, associada a atividades gestuais e
deambulação;
• Ausência com fenômenos
vegetativos – são crises associadas
a manifestações vasomotoras:
_ rubor facial, cianose;
_ gastrointestinais (náuseas, vômitos, diarréias);
_ pupilares (midríase, miose);
_ hipersecreção glandular (lacrimejamento, perspiração);
_ alterações cardíacas (taquicardia, bradicardia, arritmias);
_ alterações da
temperatura (hipertermia);
Crise tônico clônica generalizada
_ São as mais comuns, sendo chamadas de “Grande Mal”;
_ Não existe “aura”;
_ Caracteriza-se por perda súbita da consciência e
queda ao solo;
_ Surge espasmo muscular generalizado com “trismo” da
musculatura mastigatória
provocando mordedura da língua (Fase Tônica);
_ Posteriormente há um relaxamento muscular surgindo
os abalos clônicos
generalizados, rítmicos e de grande amplitude, com
duração em torno de 3 minutos
podendo ocorrer liberação esfincteriana;
_ Após cessar os abalos, há recuperação gradativa da
consciência, geralmente
associado a cefaléia, confusão mental, sonolência,
vômitos e sensação de fadiga;
_ O EEG geralmente revela descargas generalizadas e
bilaterais de pontas-ondas lentas difusas.
Crises mioclônicas:
_ Caracterizam-se por breves abalos, musculares,
abruptos, rápidos e
repetitivos, simétricos nas extremidades (MMSS)
deixando cair objetos das
mãos;
_ Geralmente ocorrem pela manhã ao despertar, sendo
ativadas pela privação
do sono, uso de álcool, tensão emocional e
estímulos luminosos;
_ Não há perda da consciência e o indivíduo descreve
perfeitamente a crisecomo “surtos” ou “choques elétricos”;
_ E.E.G revela surtos bilaterais e difusos do complexo
poliponta-onda, pontaonda ou onda aguda-onda lenta.
Crises atônicas ou acinéticas:
_ Estas são mais raras;
_ Geralmente manifestam-se durante o curso de algumas
formas graves de epilepsia;
_ Caracterizam-se por perda súbita do tônus dos
músculos
posturais. O paciente abruptamente cai ao solo, com
rápida
recuperação, sem abalos convulsivos e sem sintomas
póscríticos
“drop attaks”;
_ O E.E.G revela polipontas e ondas lentas;
Crises Clônicas:
_ Caracterizam-se por várias contrações musculares do
corpo ou membros com duração de poucos segundos ou minutos;
EEG interictal revela
descargas do tipo espículas-onda;
Crises Tônicas:
_ Caracterizam-se por contrações musculares mantidas
do corpo ou membros com duração de poucos segundos ou minutos;
_ EEG interictal revela descargas mais ou menos
rítmicas de onda aguda-onda lenta, algumas vezes assimétricas;
Síndrome de West (Espasmos Infantis):
_ Início em torno do 6º mês de vida (entre 3 - 9
meses) e de mau prognóstico;
Caracterizada por uma tríade:
• Atraso
no DNPM;
• Vários
“Espasmos em flexão ou
extensão”, em salvas;
• E.E.G característico: “Hipsarrítmico”;
Síndrome de Lennox-Gastaut:
_ Caracteriza-se por crises de múltiplos tipos,
incluindo crises atônicas;
ausências complexas; crises tônico-clônicas e
mioclônicas.
_ Geralmente há história pregressa de Sd. de West;
Caracteriza por uma tríade:
• Atraso
no DNPM;
• Crises
com características variadas, sendo mais típicas as crises tônicas, as
ausências atípicas e atônicas;
• E.E.G
revela complexo lento de onda aguda-onda lenta (< 2,5c/s) e durante o sono
surtos de ritmo rápido (10 a 12 Hz);
Tratamento:
_ Confirmação do diagnóstico e do tipo de crise;
_ Probabilidade de recorrência de crises, pois, há
controvérsia quanto ao início
do tratamento logo após o 1º episódio convulsivo;
_ Observar se a crise foi precipitada por estímulos
(ingestão de álcool,
privação do sono, fotoestimulação);
_ Enfatizar a necessidade da tomada regular da
medicação, e alertar quanto
ao risco da suspensão brusca;
_ Deixar claro quanto a necessidade da continuidade
do tratamento mesmo na ausência das crises.
Medidas a serem tomadas
ao se presenciar
uma crise convulsiva:
_ Manter a calma;
_ Colocar o indivíduo em posição confortável;
_ Vire suavemente a cabeça para o lado, de maneira
que a saliva escorra e não
impeça a respiração;
_ Proteja a cabeça com algo suave sob a mesma;
_ Não tente introduzir nenhum objeto na boca;
_ Não lhe dê nada para beber;
_ Não tente despertá-la;
_ Permaneça ao lado do
indivíduo até terminar a crise.
Tratamento emergencial
da crise convulsiva:
_ Facilitar a aeração pulmonar: (Desobstruções das vias aéreas retificação com
lateralização da
cabeça; cânula de Guedell para evitar mordedura da
língua; O2 sob cateter ou máscara e entubação
orotraqueal nos casos mais prolongados e graves);
_ Manter acesso venoso adequado;
_ Antitérmicos por via venosa ou retal nos casos de
febre;
_ Correção imediata dos distúrbios metabólicos
associados (hipoglicemia,
hiponatremia);
_ Tratamento do edema cerebral quando presente (TCE,
Tumores do SNC);
_ Em casos de sinais meníngeos considerar punção
lombar;
_ Na presença de sinais focais, antes da punção lombar,
considerar a realização da tomografia computadorizada.
Tratamento
Medicamentoso
(Usado durante a crise
convulsiva):
_ 1º- Benzodiazepínicos (Diazepam): devem ser usados durante o
momento da crise, por ter rápido início de ação e
de eliminação;
• Dose:
0,3mg/kg/dose (podendo
ser repetida em 15 min, se necessário, até dose
total de 10mg E.V, lentamente, sem diluição);
_ 2º- Difenil-hidantoína: por
via (EV) diluída em soro fisiológico,
lentamente, pois apresenta um mínimo efeito sobre o
nível de consciência;
• Ds. de At: RN: 20mg/Kg/dose; Lactente/Escolar: 10 a
15mg/Kg/ds;
• Ds. de Manut.: 5 a 8mg/Kg/dia (início 12h após a dose de
ataque);
Tratamento
Medicamentoso
(Usado durante a crise
convulsiva):
_ 3º- Fenobarbital: por via (IM);
Ds. de At.: RN: 20mg/Kg/dose; Lactente/Escolar: 10
a 15mg/Kg/dose
Ds. de Manut.: 3 a 5mg/Kg/dia (início 12h após a
dose de ataque);
4º- Midazolam: RN: 0,05 a 0,2g/Kg (EV ou IM);
Lact./Esc: 0,1 a 0,4mg/Kg/h;
Dripping: 0,05 a 0,2mg/Kg/h;
Tratamento
Medicamentoso
(Usado durante a crise
convulsiva):
5º- Tiopental: usado nos casos de E.M.E,
após refratariedade às
medidas anteriores, devendo a criança ser assistida
em ambiente de CTI
(devido ao quadro de depressão respiratória).
Esquema utilizado:
Dose inicial: (5 a 10mg/Kg) seguida de infusão
contínua (em bomba de infusão) de 3
a 5mg/Kg/h (EV), mantida por um período de 6h,12h
ou 24h, dependendo da necessidade do caso.
Após esse período, iniciar redução na proporção de 1mg/Kg/h até a suspensão
total.
Observações
importantes:
_ 50% a 100% das doses de ataque de (DFH e FB) podem
ser repetidas antes do
uso do Tiopental, na tentativa de debelar as crises,
devendo ser mantidas durante
a infusão do mesmo;
_ Diazepam em “dripping” ou o uso de Diazepínicos de
eliminação mais lenta
(Lorazepam, Clonazepam, Midazolam) podem ser úteis
nas crises refratárias,
precedendo ou sucedendo ao uso do Tiopental.
_ A administração de Diazepam, dose inicial 0,5mg/Kg (no máximo 20mg) por via
retal pode ser utilizada com eficácia se o acesso
vascular não estiver disponível.
_ Usa-se também o Ac. Valpróico xp. 250mg/ml diluído em água em 1:1, e 20 a
30mg/Kg em forma de enema, com a desvantagem da
absorção lenta e seu início
de ação é de 2 a 4h;
_ A monitorização do hemograma completo, hepatograma
e do nível sérico dosanticonvulsivantes deve sempre ser feita nos casos de
esquemas com associação
de drogas, e eletivamente no acompanhamento
ambulatorial;
_ É importante estar sempre atento às “iatrogenias”
causadas pelos efeitos
colaterais dos anticonvulsivantes, por exemplo:
alterações cutâneas (eritema leve;
Síndrome de Stevens-Johnson;
mielotoxicidade; insuficiência hepática).
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