segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Hipertensao Arterial


Hipertensao Arterial


O limiar para a Hipertensão Arterial deve ser considerado flexível, sendo mais ou
menos elevado, dependendo do perfil de risco cardiovascular global de cada
indivíduo.
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Classificação dos Grupos Tensionais
CATEGORIA TENSÃO
ARTERIAL
SISTÓLICA
TAS mmHg
TENSÃO
ARTERIAL
DIASTÓLICA
TAD mmHg
Normal 120 - 129 e 80 - 84
Normal alto 130 - 139 ou 85 - 89
Hipertensão
Estádio 1
140 - 159 ou 90 - 99
Hipertensão
Estádio 2
>= 160 ou >=100
A detecção precoce da HTA, particularmente nos indivíduos com risco
cardiovascular acrescido, a correcta orientação terapêutica (farmacológica e não
farmacológica) e a prossecução dos objectivos de controlo tensional ao longo dos
anos, são prioridades de intervenção dos serviços prestadores de cuidados de saúde,
sendo desejável que, sempre que possível, sejam efectuadas campanhas de rastreio,
devidamente enquadradas no planeamento e realidades regionais e locais, bem como
campanhas de sensibilização da população.
Avaliação da Tensão Arterial
Nas avaliações da Tensão Arterial:
· devem ser utilizados aparelhos aferidos;
· deve ser utilizada uma braçadeira adequada, em que a bolsa insuflável ocupe pelo
menos metade do braço;
· deve ser avaliada com o indivíduo sentado, em ambiente homeotérmico e sem
agressão por poluição so nora ou luminosa.
As determinações em decúbito e em pé são, por vezes, importantes, particularmente
nas pessoas idosas.
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Medição e registo da Tensão Arterial
MÉTODO Limites (mm Hg)
para definição de
Hipertensão
COMENTÁRIOS
TA de consultório TAS = 140 e/ ou
TAD = 90 mm Hg
Dois registos, doente sentado,
intervalo de 5 minutos. Confirmar
TA no braço contralateral.
Monitorização
Ambulatória da Tensão
Arterial de 24 horas
TAS 24h = 125 e/ ou
TAD 24h = 80 mm Hg
Indicada na avaliação da
"Hipertensão da bata branca".
Descida da TA nocturna < 10%
pode indicar maior risco
cardiovascular (CV)
Automedição da TA TAS>=135 e/ou
TAD= 85 mm Hg
Informa sobre resposta à
terapêutica. Pode contribuir para
aumentar aderência à terapêutica e
para o diagnóstico da "Hipertensão
da bata branca"
Avaliação clínica inicial
· Identificação dos factores de risco;
· Pesquisa de causas identificáveis de Hipertensão Arterial;
· Avaliação de lesão dos órgãos-alvo;
· Colheita de história clínica e realização de exame físico;
· Testes laboratoriais: urina tipo II, glicemia, hematócrito, perfil lipídico, potássio
sérico, creatininémia, calcémia. (Opcional: relação albumina/creatinina na 1ª
urina matinal);
· Electrocardiograma.
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Identificação de factores de risco major cardiovasculares (CV)
o Hipertensão o Sedentarismo
o Obesidade
(Índice massa corporal ³ 30Kg/m2)
(Perímetro abdominal ³ 102cm H,
³ 88cmM)
o Diabetes mellitus
o Dislipidémia
o Idade (>55anos H, > 65anos M)
o Taxa de Filtração Glomerular
(TFG) estimada < 60 ml/min
o História familiar de doença CV
prematura (<55anos H,
<65anos M)
o Microalbuminúria
o Hábitos tabágicos
o Proteína C reactiva > 1mg/dl
Causas identificáveis de hipertensão
o Apneia do sono o Síndrome de Cushing ou
terapêutica esteróide
o Induzida por fármacos o Feocromocitoma
o Doença renal crónica o Coartação da aorta
o Hiperaldosteronismo primário o Doença tiroideia e
paratiroideia
o Hipertensão renovascular
Princípios e objectivos do tratamento anti-hipertensor
· Reduzir a TA para valores < 140/90 mm Hg.
· Reduzir a TA para valores < 130/80 mm Hg em doentes com diabetes, doença
renal crónica ou com TA na categoria normal - alta e três ou mais factores de
risco major, lesão dos órgãos alvo ou doença/eventos CV.
· A maioria dos doentes necessitará de associações com dois ou mais fármacos.
Objectivos do tratamento
O principal objectivo do tratamento do doente hipertenso é obter a longo prazo a
máxima redução da morbilidade e mortalidade cardiovascular e renal. Tal poderá ser
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conseguido pela redução dos valores elevados da TA e pelo tratamento dos factores
de risco modificáveis e de doenças associadas.
Na população hipertensa em geral, o objectivo será a redução da TA para valores
inferiores a 140/90 mm Hg.
Nos doentes hipertensos diabéticos ou com doença renal, o objectivo será a redução
da TA para valores < 130/80 mm Hg. Em doentes com insuficiência renal e
proteinúria > 1 g/dia o objectivo será a redução da TA para valores < 125/75 mm
Hg.
Dever-se-á ter em conta que a exequibilidade de se alcançarem estes valores
desejáveis, deverá ser adaptada a cada caso individual e que a redução da TAS < 140
mm Hg pode ser difícil de obter em alguns casos, particularmente em pessoas
idosas.
Modificação dos estilos de vida
A adopção de estilos de vida saudáveis constitui um componente indispensável da
terapêutica de todas as pessoas com Hipertensão Arterial, podendo inclusivamente
contribuir, em indivíduos susceptíveis, para a prevenção da sua ocorrência.
Estas medidas, se suficientemente duradouras, poderão permitir, consoante os
indivíduos, reduções da TA de 5 a 20 mm Hg e redução do risco cardiovascular
global e incluem:
· Redução do peso em indivíduos obesos ou com excesso ponderal, idealmente
para valores de IMC de 18.5 a 24.9 Kg/m2;
· Adopção de dieta rica em frutos, vegetais e com baixo teor de gorduras saturadas;
· Redução da ingestão de sal;
· Actividade física, como, por exemplo, exercício aeróbio, como caminhar 30
min/dia, 5-7 dias/semana;
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· Consumo moderado de álcool com um máximo 30 ml etanol/dia nos homens e
15 ml/dia para as mulheres;
· Cessação do hábito de fumar, que é, sobretudo, importante numa perspectiva de
redução global do risco cardiovascular.
Quando iniciar tratamento farmacológico
A decisão de iniciar o tratamento anti-hipertensor baseia-se em dois critérios:
· Valor da Tensão Arterial sistólica e diastólica.
· Risco cardiovascular global.
Indivíduos com TA normal-alta (TAS 130-139 mm Hg ou TAD 85-89 mm Hg)
Existe evidência científica do benefício da redução da TA neste grupo, mas limitada
a doentes com AVC prévio, doença coronária e diabetes. Assim, nos indivíduos
com TA normal-alta, somente se deverá aplicar a recomendação de iniciar a
terapêutica anti-hipertensora nas situações de risco global elevado e muito elevado.
Nos restantes indivíduos com risco moderado ou baixo, recomendam-se a adopção
de atitudes e estilos de vida saudáveis, a monitorização periódica da TA e a
correcção de outros factores de risco.
Doentes com HTA Estádio 1 (TAS 140-159 mm Hg ou TAD 90-99 mm Hg)
Impõe-se a confirmação dos valores da TA em pelo menos 2 registos em tempos
diferentes e ao longo de um período máximo de 3 meses e a introdução imediata de
atitudes e comportamentos de vida saudável. Uma vez confirmada a HTA, a
terapêutica deverá ser iniciada, de preferência, em regime de monoterapia com doses
baixas de qualquer dos fármacos das 5 principais classes terapêuticas e,
eventualmente, em regime de associação, em dose fixa ou não, neste caso incluindo,
preferencialmente, um diurético em doses baixas.
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Doentes com HTA Estádio 2 (TAS >= 160 mm Hg ou TAD >= 100 mm Hg).
Uma vez confirmada a TA em, pelo menos, 2 registos, num intervalo de 1 semana a
1 mês, a terapêutica deverá ser iniciada com associação de 2 fármacos, em dose fixa
ou não, incluindo, preferencialmente, um diurético em doses baixas e,
simultaneamente, a adopção de atitudes e estilos de vida saudáveis. A identificação
de outros factores de risco, lesão de órgãos alvo ou de doença associada, poderá
processar-se após a introdução da terapêutica farmacológica.
Terapêutica farmacológica
O principal objectivo da terapêutica farmacológica antihipertensora é a prevenção
da ocorrência de eventos cardiovasculares e renais e do seu agravamento ou
recorrência. O seu objectivo operacional é a redução persistente da TA para valores
considerados normais, com o mínimo de reacções adversas, conservando o melhor
possível a qualidade de vida.
Prova de benefício em estudos aleatórios
Vários estudos aleatórios e controlados (com duração média de 4-5 anos),
demonstraram inequivocamente que a redução da TA com diversas classes de
fármacos (diuréticos, sobretudo tiazidas; inibidores da enzima conversora da
angiotensina; bloqueadores dos adrenoreceptores beta; antagonistas do cálcio e
antagonistas dos receptores da angiotensina), utilizados na maioria das vezes em
associação, reduz as complicações da Hipertensão Arterial, a mortalidade global e
cardiovascular e os AVC e acidentes coronários fatais e não fatais. Estes estudos
mostram, ainda, que a redução da TA é condição necessária à obtenção daqueles
benefícios, independentemente dos fármacos utilizados.
Em algumas entidades nosológicas e co-morbilidades associadas à Hipertensão
Arterial, designadas como “indicações preferenciais de grupos terapêuticos”, há
evidência científica das vantagens de determinadas classes de antihipertensores
relativamente a outras. Para além destas situações, e apesar de alguns estudos
sugerirem superioridade de algumas classes de antihipertensores relativamente a
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outras, quer em determinadas subgrupos populacionais (idosos, grupos étnicos, etc)
e em doentes com lesão dos órgãos alvo (hipertrofia ventricular esquerda, rigidez
arterial e manifestações ateroscleróticas, disfunção renal e albuminúria), salienta-se
que para idêntica redução da TA não há prova de diferença significativa de benefício
sobre a mortalidade global entre as diferentes classes de antihipertensores. Não está
ainda claramente definido se determinadas alterações metabólicas suscitadas
especificamente por algumas classes de antihipertensores (alteração do perfil
lipídico, redução da caliémia, agravamento dos parâmetros analíticos da síndrome
metabólica e da diabetes) se irão ou não repercutir a longo prazo num aumento da
incidência de eventos cardiovasculares.
Algoritmo de tratamento da HTA e escolha do primeiro fármaco
A maioria dos doentes hipertensos irá necessitar da associação de dois ou mais
antihipertensores para se obter o desejável controlo da TA. A associação de um
segundo fármaco de diferente classe terapêutica deverá ser empreendida perante a
incapacidade de se obter o desejável controlo da TA com as doses adequadas de um
único fármaco.
Quando a TA se encontra 20/10 mm Hg acima do valor desejável da TA, o
tratamento inicial deverá incluir a associação de dois antihipertensores de diferentes
classes terapêuticas, um dos quais deverá ser preferencialmente do grupo dos
diuréticos, quer em formulações separadas, quer associados em dose fixa, sendo,
neste caso, nas doses mais baixas existentes no mercado.
A utilização de associações de antihipertensores, embora aumente a probabilidade
de se obter o desejável controlo da TA, deve ser rodeada de determinadas
precauções, sobretudo em doentes com disfunção autonómica, diabetes ou pessoas
idosas, com propensão para hipotensão ortostática.
No sentido de facilitar a aderência dos doentes à terapêutica e de obter um controlo
equilibrado da TA ao longo das 24 horas, é preferível optar, sempre que possível,
por formulações que, em toma única diária, assegurem uma duração de acção
superior a 24 horas.
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(*) = 3 factores de risco major, lesão dos órgãos alvo ou doença/eventos CV
Embora existam outros modelos propostos para a sequência de opções terapêuticas,
o modelo seguinte baseia-se na progressão por passos, perante ausência de obtenção
do controlo desejável da TA:
Sem indicações
preferenciais
Com indicações
preferenciais
Atitudes e estilos de vida saudáveis
Tensão Arterial =140 e/ou 90 mm Hg ou
= 130 e/ou 80 mm Hg em doentes com diabetes ou doença renal crónica
Ausência de controlo da TA
Optimização das dosagens ou adição de outros fármacos até
se obter controlo adequado da TA
Considerar a necessidade de referenciar a consulta
diferenciada de hipertensão
Ter em atenção as estratégias para melhorar a aderência à terapêutica
Terapêutica farmacológica inicial
Hipertensão Estádio 1
e TA normal-alta (*)
Monoterapia com diuréticos
tiazídicos (sempre que
possível) ou IECAs, ARAs,
ANTCA, BB, ou associações
(em dose fixa ou não)
Hipertensão Estádio 2
(TA = 160 e/ou = 100 mm Hg)
Associação de 2 fármacos
(em dose fixa ou não) de
diuréticos tiazídicos (sempre que
possível) e IECAs ou ARAs, ou
BB ou ANTCA)
Fármaco(s) apropriado(s)
às indicações preferenciais
(ver Indicações Preferenciais de
Grupos Terapêuticos)
Associados em geral a outros
fármacos (diuréticos, IECAs,
ARAs, BB, ANTCA e outros),
consoante o caso
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Indivíduos com TA normal-alta, com três ou mais factores de risco major, lesão dos órgãos alvo ou
doença/eventos CV e doentes com HTA Estádio 1, ou seja, com TAS 140-159 mm Hg ou
TAD 90-99 mm Hg:
1. Monoterapia doses baixas;
2. Substituição por outro fármaco em monoterapia em doses baixas;
3. Associação de dois fármacos em doses baixas;
4. Associação de dois fármacos em doses máximas;
5. Adição de terceiro fármaco;
6. Adição de quarto fármaco.
Doentes com HTA Estádio 2, ou seja, TAS >= 160 mm Hg ou TAD >= 100 mm Hg.
1. Associação de dois fármacos em doses baixas;
2. Associação de dois fármacos em doses máximas;
3. Adição de terceiro fármaco;
4. Adição de quarto fármaco.
Seguimento dos doentes
Uma vez iniciada a terapêutica antihipertensora, os doentes deverão ser reavaliados,
pelo menos mensalmente, até se obter o desejável controlo da TA. Poderão ser
necessárias consultas mais frequentes em doentes com hipertensão Estádio 2 ou
com doenças associadas e co-morbilidades.
A creatininémia e a caliémia e, eventualmente, outros parâmetros analíticos, deverão
ser avaliadas, pelo menos, 1-2 vezes por ano.
Após estabilização da TA nos níveis desejáveis, a periodicidade das consultas deverá
processar-se com intervalos de 3-6 meses.
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A coexistência de doenças associadas, como insuficiência cardíaca, diabetes, doença
renal, ou alterações analíticas relevantes, poderá exigir consultas mais frequentes.
Devem ser implementadas atitudes e comportamentos com o objectivo de controlo
dos outros factores de risco cardiovascular.
A administração de antiagregantes plaquetários, como a aspirina, só deverá ser
empreendida em doentes com controlo adequado da Tensão Arterial, face ao risco
aumentado de hemorragia cerebral em doentes com Hipertensão Arterial não
controlada.
Hipertensão resistente
Define-se hipertensão resistente, quando não é possível obter o controlo desejável
da TA em doentes comprovadamente aderentes a esquemas terapêuticos,
constituídos por doses máximas de, pelo menos, 3 fármacos, incluindo
obrigatoriamente um diurético (da ansa, se houver insuficiência renal). Nestes casos,
impõem-se atitudes dirigidas à eventual detecção de causas identificáveis de
hipertensão e a referência a consultas especializadas.
As causas de Hipertensão resistente são, nomeadamente:
· Medição incorrecta da TA;
· Má aderência ao tratamento;
· Excesso de ingestão de sal e /ou de álcool;
· Medicação diurética inadequada;
· Doses inadequadas, interacções farmacológicas (ex. anti-inflamatórios não
esteróides, alguns estimulantes centrais e inibidores do apetite,
simpaticomiméticos, contraceptivos orais, ciclosporina, etc.);
· Alguns medicamentos de venda livre e suplementos de origem vegetal;
· Hipertensão da “bata branca”
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Situações particulares
Os doentes com Hipertensão Arterial e determinadas co-morbilidades, necessitarão
de abordagem específica nas opções terapêuticas e do seguimento, que é
fundamentada em ensaios clínicos controlados.
Indicações preferenciais de grupos terapêuticos
A tabela seguinte, resume as indicações preferenciais de determinados grupos
terapêuticos em doentes de risco elevado. Na maioria das situações, será necessário
recorrer a associações de medicamentos. Estas e outras opções, poderão ser ditadas
por utilização prévia de determinados fármacos, tolerabilidade e objectivos
terapêuticos específicos.
INDICAÇÕES PREFERENCIAIS OPÇÕES TERAPÊUTICAS
INICIAIS
Insuficiência cardíaca DIUR, BB, IECAs, ARAs, ANT ALD
Após enfarte do miocárdio BB, IECAs, ANTALD
Risco CV elevado DIUR, BB, IECAs, ARAs, ANTCA
Diabetes DIUR, BB, IECAs, ARAs, ANTCA
Doença renal crónica DIUR, IECAs, ARAs
Prevenção recorrência de AVC DIUR, IECAs
Hipertrofia ventricular esquerda IECAs, ARAs, ANTCA, DIUR
Microalbuminúria IECAs, ARAs
Doença coronária
Em doentes com HTA e angina estável, os bloqueadores dos receptores
adrenérgicos beta (BB), serão os fármacos de primeira escolha. Em determinados
casos, os antagonistas do cálcio (ANTCA) de longa duração de acção, poderão ser
utilizados.
Em doentes com síndromes coronárias agudas, angina instável ou enfarte do
miocárdio, a HTA poderá ser tratada inicialmente com BBs e inibidores da enzima
conversora da angiotensina 2 (IECAs), adicionados a outros fármacos.
No pós-enfarte do miocárdio, os IECAs, BBs e antagonistas da aldosterona
provaram ser benéficos. Está, igualmente, indicada a utilização de antiagregantes
plaquetários e hipolipemiantes.
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Insuficência cardiaca
Em doentes com insuficiência cardíaca, com disfunção sistólica e diastólica, os
IECAs, BBs, antagonistas dos receptores da angiotensina (ARAS) e antagonistas da
aldosterona, provaram ser benéficos, associados quase sempre a diuréticos,
frequentemente da ansa.
Em doentes com disfunção ventricular assintomática, recomenda-se o uso de
IECAs e BBs.
Diabetes e hipertensão
Na maioria dos casos, é necessário utilizar associações de dois ou mais fármacos
para obter o desejável controlo da TA, para valores < 130/80 mm Hg. Há provas de
que os diuréticos (DIUR), BBs, IECAs, ARAs e ANTCA, reduzem a incidência de
eventos cardíacos e de Acidente Vascular Cerebral (AVC), em doentes diabéticos.
Há provas de que regimes terapêuticos, que incluem IECAs ou ARAS, atrasam a
progressão da nefropatia diabética e reduzem a albuminúria; regimes incluindo
ARAS, provaram reduzir a progressão para macroalbuminúria.
Insuficiência renal crónica
Nos doentes com insuficiência renal crónica, definida quer por valores da taxa de
filtração glomerular < 60 ml/min por 1.73 m2, correspondendo aproximadamente a
creatininémia >= 1.5 mg/dl no homem e 1.4 mg/dl na mulher, quer pela presença
de macroalbuminúria (> 300 mg/24h), os objectivos terapêuticos visam atrasar a
progressão da disfunção renal e prevenir eventos cardiovasculares.
Estes doentes são frequentemente hipertensos e necessitam de tratamento agressivo,
geralmente com associação de 2 ou mais fármacos, para obter a descida da TA para
valores < 130/80 mm Hg.
Há evidência de que os IECAs e ARAs afectam favoravelmente a progressão da
doença renal, em diabéticos e não diabéticos. Em geral, os doentes com HTA e
insuficiência renal crónica necessitam da utilização de diuréticos da ansa associados
a outros fármacos.
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Doença cerebrovascular concomitante
Estão ainda mal definidas as vantagens e inconvenientes da redução da TA na fase
aguda do AVC. A associação de diuréticos e IECAs mostrou-se capaz de reduzir a
recorrência de AVC.
Outras situações particulares
· Grupos étnicos
Existem dados que sugerem que a prevalência e gravidade da HTA poderá ser mais
elevada em indivíduos de raça negra, comparativamente aos caucasianos. A HTA
sensível à ingestão de sal, parece ser mais frequente nos doentes de raça negra e há
dados que sugerem que, nestes doentes, a eficácia antihipertensora dos diuréticos e
ANTCA é superior à dos BBs, IECAs e ARAs. Estes doentes exibem um risco
aumentado de angioedema atribuído aos IECAs.
· Obesidade e síndrome CV metabólica
A presença de obesidade, IMC >= 30 Kg/m2, associa-se a aumento da prevalência
de HTA e de doença cardiovascular.
A síndrome cardiovascular metabólica pode ser definida pela presença de 3 ou mais
dos seguintes critérios:
a) obesidade abdominal (perímetro abdominal >=102 cm no homem e >=88 cm na
mulher);
b) intolerância à glicose (glicemia em jejum >=110 mg/dl);
c) TA >= 130/80 mm Hg;
d) Hipertrigliceridemia > = 150 mg/dl, ou redução das HDL< 40 mg/dl no
homem e < 50 mg/dl na mulher.
Impõe-se a adopção de atitudes de vida saudável e a adequada terapêutica
farmacológica dos diferentes componentes da síndrome.
· Hipertrofia ventricular esquerda
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A hipertrofia ventricular esquerda (HVE) constitui um factor de risco independente
de doença cardiovascular. A regressão da HVE mostrou estar associada a menor
ocorrência de eventos cardiovasculares. A regressão da HVE pode ser obtida com
redução da TA, redução do peso, restrição da ingestão salina e terapêutica com as
várias classes de antihipertensores, com excepção dos vasodilatadores directos
(hidralazina e minoxidil). Alguns estudos isolados e meta-análises parecem sugerir
que os ARAS, IECAs e ANTCA de longa duração de acção poderão ser mais
eficazes na regressão da HVE que os BBs.
· Pessoas Idosas
Cerca de 2/3 dos indivíduos com idade superior a 65 anos são hipertensos, sendo o
grupo em que a hipertensão sistólica isolada é mais frequente.
As recomendações gerais do tratamento da HTA aplicam-se à população idosa.
Particularmente neste grupo, é necessário registar a TA na posição de pé. A redução
da TA sistólica > 10 mm Hg, associada a sintomas de hipoperfusão cerebral, é mais
frequente neste grupo etário, sobretudo se houver depleção de volume, uso de
diuréticos, venodilatadores e alguns psicotrópicos. Em alguns indivíduos mais
susceptíveis aos sintomas de hipotensão postural, poderá ser necessário iniciar a
terapêutica com doses mais baixas. Por estes motivos, reconhece-se que, neste
grupo, nem sempre é possível reduzir a TA para valores da TA sistólica < 140 mm
Hg.
Há provas de que os doentes hipertensos apresentam risco aumentado de
deterioração cognitiva e de demência e que o controlo da TA se acompanha de
redução significativa desse risco.
· Mulher
Em algumas mulheres, o uso de contraceptivos orais associa-se a aumento da tensão
arterial, pelo que se impõe o seu controlo periódico. No caso de suspensão do
método contraceptivo usado, deve, o mesmo, ser substituído por outro igualmente
eficaz.
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No entanto, não há provas de que a utilização de terapêutica hormonal de
substituição se associe, por si só, a elevação da tensão arterial.
· Gravidez
A presença de HTA (TAS >= 140 ou TAD >= 90 mmHg) durante a gravidez,
requer vigilância cuidada, face aos riscos acrescidos sobre a mãe e feto e pode
ocorrer sob diversas formas incluindo:
1. hipertensão pré-existente (TAS >= 140 ou TAD >= 90 mmHg observada antes da 20ª
semana de gravidez);
2. hipertensão gestacional (TAS >= 140 ou TAD>= 90 mmHg observada somente após
da 20ª semana de gravidez), sem proteínuria ou com proteinúria > 500 mg/24h
(preeclampsia);
3. hipertensão pré-existente com hipertensão gestacional sobreposta com proteinúria.
Constituem indicadores de mau prognóstico, valores elevados da TA, albuminúria e
a presença de hemoconcentração, hiperuricémia, alterações enzimáticas e da
coagulação. Nestes casos e, sobretudo, se a TAS >= 160 ou TAD >= 100 mmHg,
poder-se-á iniciar a terapêutica com metildopa, labetalol, antagonistas do cálcio ou
eventualmente BB.
Em algumas doentes, podem desenvolver-se situações de urgência ou emergência
hipertensiva, necessitando hospitalização, monitorização intensiva, aceleração do
parto e terapêutica parenteral e anticonvulsivante. Se TAS >= 170 ou TAD >= 110
mmHg, impõe-se o internamento hospitalar e tratamento adequado.
Uma mulher hipertensa, que engravida, ou a detecção de uma hipertensão
gestacional, obriga à referenciação para Consulta de Alto Risco Obstétrico.
O tratamento da HTA numa mulher em idade fértil, obriga à ponderação sobre
eventuais efeitos teratogénicos da terapêutica a instituir e ao uso adequado de
contracepção eficaz.
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· Crianças e adolescentes
Em crianças e adolescentes, a HTA é definida pelo valor confirmado da TA em
vários registos (Fases I e V de Korotkoff), ao nível ou acima do 95º percentil
ajustado para a idade, peso, estatura e sexo.
Frequentemente justifica-se a procura de causas identificáveis de HTA (i.e. doença
renal, coartação da aorta).
Recomenda-se o início precoce de atitudes e estilos de vida saudáveis e a introdução
de terapêutica farmacológica perante a falência destas.
· Fibrilhação auricular
A prevalência e incidência de fibrilhação auricular aumenta na população hipertensa.
O recurso a BB e a ANTCA não dihidropiridínicos, pode justificar-se para reduzir a
frequência ventricular. Alguns ARAs parecem ser úteis na preservação do ritmo
sinusal em doentes com fibrilhação auricular, previamente submetidos a
cardioversão. A opção por anticoagulação crónica é adequada sobretudo em doentes
com HTA devidamente controlada.
· Urgências e emergências hipertensivas
Os doentes com elevação súbita da TA para valores elevados e que apresentam
lesão aguda dos órgãos alvo (encefalopatia, enfarte do miocárdio, angina instável,
edema pulmonar, eclampsia, AVC, traumatismo craniano, grave hemorragia arterial
ou dissecção aórtica) exigem hospitalização e terapêuticas parentéricas.
Os doentes com elevação súbita da TA para valores elevados e que não apresentam
lesão aguda dos órgãos alvo, geralmente não necessitam de hospitalização e, na
maioria dos casos, a introdução de terapêutica oral é adequada. Nestes, é necessária
a avaliação da repercussão cardíaca e renal e deverão encetar-se atitudes dirigidas à
eventual detecção de causas identificáveis de HTA.
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Vantagens e desvantagens adicionais das diferentes classes terapêuticas
Vantagens potenciais:
Os diuréticos tiazídicos podem atrasar a desmineralização óssea na osteoporose.
Os BB podem ser úteis no tratamento de algumas taquiarritmias, enxaqueca,
tirotoxicose, tremor essencial e hipertensão perioperatória.
Os ANTCA podem ser úteis na síndrome de Raynaud e em algumas taquiarritmias.
Desvantagens potenciais:
Os diuréticos devem ser usados com precaução em doentes com gota e alterações
electrolíticas.
Os BB devem ser evitados perante o risco de broncospasmo e quando existem
bloqueios de 2º ou 3º graus.
Os IECA e ARAs estão contraindicados na gravidez e em doentes com estenose
bilateral da artéria renal. Os IECAs devem evitar-se em doentes com história de
angioedema.
Estratégias para melhorar a aderência à terapêutica
·Deve ser considerado o risco potencial de reacções adversas da medicação e as
características étnicas, socioeconómicas e/ou culturais dos doentes na escolha da
terapêutica.
·Optar sempre que possível por formulações que, em toma única diária, asseguram
uma duração de acção superior a 24 horas.
·A boa empatia dos profissionais de saúde aumenta a confiança, motivação e
aderência dos doentes à terapêutica.
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Notas adicionais
·A avaliação e a terapêutica do doente hipertenso devem ser empreendidas numa
perspectiva de risco cardiovascular global.
· Na maioria dos doentes o controlo da TA só é possível com associação de
medicamentos.
· A utilização de diuréticos em monoterapia ou em associação deve ser estimulada.
· O diagnóstico de hipertensão resistente pressupõe ausência de controlo da TA
com a associação de, pelo menos, 3 fármacos, usados em doses máximas, sendo
um dos quais, obrigatoriamente, um diurético.
· O doente com hipertensão da bata branca (TA consultório > 140 e/ou 90 mm
Hg após várias visitas e TA de 24 horas < 125/80 mm Hg) e sem lesão dos
órgãos alvo, necessita de vigilância mas pode dispensar terapêutica farmacológica.
· O diagnóstico e tratamento da HTA em indivíduos com idade inferior a dezoito
anos e em mulheres grávidas, devem regular-se por recomendações específicas.
· A utilização de antiagregantes plaquetários, como a aspirina, só deve ser
empreendida em doentes com HTA controlada.
II - FUNDAMENTAÇÃO
A Hipertensão Arterial é um reconhecido factor de risco da doença cérebro e
cardiovascular. Esta patologia constitui a maior causa de mortalidade e de
morbilidade com grave impacto social em Portugal.
A Direcção-Geral da Saúde, considerando da maior importância a revisão dos
normativos técnicos em vigor, referentes à abordagem da Hipertensão Arterial,
destinados aos serviços prestadores de cuidados de saúde, constituiu, para o efeito,
um grupo de peritos, coordenado cientificamente pela Associação Portuguesa de
Hipertensão.
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A presente Norma, destinada a ser aplicada nos serviços prestadores de cuidados de
saúde, baseia-se em consensos da comunidade científica, internacional e nacional,
nomeadamente da Organização Mundial de Saúde, Sociedade Internacional de
Hipertensão, Sociedades Europeias de Hipertensão e de Cardiologia e Sociedade
Portuguesa de Cardiologia.
Salienta-se a importância de privilegiar uma intervenção integrada, multidisciplinar e
intersectorial, sobre atitudes e estilos de vida de risco, bem como acções de
prevenção e de reabilitação global, considerando os múltiplos vectores
intervenientes.

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