Hipertensao
Arterial
O
limiar para a Hipertensão Arterial deve ser considerado flexível, sendo mais ou
menos
elevado, dependendo do perfil de risco cardiovascular global de cada
indivíduo.
2
Classificação
dos Grupos Tensionais
CATEGORIA TENSÃO
ARTERIAL
SISTÓLICA
TAS mmHg
TENSÃO
ARTERIAL
DIASTÓLICA
TAD mmHg
Normal
120 - 129 e 80
- 84
Normal
alto 130 - 139 ou 85
- 89
Hipertensão
Estádio
1
140
- 159 ou 90
- 99
Hipertensão
Estádio
2
>=
160 ou >=100
A
detecção precoce da HTA, particularmente nos indivíduos com risco
cardiovascular
acrescido, a correcta orientação terapêutica (farmacológica e não
farmacológica)
e a prossecução dos objectivos de controlo tensional ao longo dos
anos,
são prioridades de intervenção dos serviços prestadores de cuidados de saúde,
sendo
desejável que, sempre que possível, sejam efectuadas campanhas de rastreio,
devidamente
enquadradas no planeamento e realidades regionais e locais, bem como
campanhas
de sensibilização da população.
Avaliação
da Tensão Arterial
Nas
avaliações da Tensão Arterial:
· devem ser utilizados aparelhos aferidos;
· deve ser utilizada uma braçadeira adequada, em que a
bolsa insuflável ocupe pelo
menos
metade do braço;
· deve ser avaliada com o indivíduo sentado, em ambiente
homeotérmico e sem
agressão
por poluição so nora ou luminosa.
As
determinações em decúbito e em pé são, por vezes, importantes, particularmente
nas
pessoas idosas.
3
Medição
e registo da Tensão Arterial
MÉTODO Limites (mm Hg)
para definição de
Hipertensão
COMENTÁRIOS
TA
de consultório TAS = 140 e/ ou
TAD
= 90 mm Hg
Dois
registos, doente sentado,
intervalo
de 5 minutos. Confirmar
TA
no braço contralateral.
Monitorização
Ambulatória
da Tensão
Arterial
de 24 horas
TAS
24h = 125 e/ ou
TAD
24h = 80 mm Hg
Indicada
na avaliação da
"Hipertensão
da bata branca".
Descida
da TA nocturna < 10%
pode
indicar maior risco
cardiovascular
(CV)
Automedição
da TA TAS>=135 e/ou
TAD=
85 mm Hg
Informa
sobre resposta à
terapêutica.
Pode contribuir para
aumentar
aderência à terapêutica e
para
o diagnóstico da "Hipertensão
da
bata branca"
Avaliação
clínica inicial
· Identificação dos factores de risco;
· Pesquisa de causas identificáveis de Hipertensão
Arterial;
· Avaliação de lesão dos órgãos-alvo;
· Colheita de história clínica e realização de exame
físico;
· Testes laboratoriais: urina tipo II, glicemia,
hematócrito, perfil lipídico, potássio
sérico,
creatininémia, calcémia. (Opcional: relação albumina/creatinina na 1ª
urina
matinal);
· Electrocardiograma.
4
Identificação
de factores de risco major cardiovasculares (CV)
o Hipertensão
o Sedentarismo
o Obesidade
(Índice
massa corporal ³ 30Kg/m2)
(Perímetro
abdominal ³ 102cm H,
³ 88cmM)
o Diabetes
mellitus
o Dislipidémia
o Idade
(>55anos H, > 65anos M)
o Taxa
de Filtração Glomerular
(TFG)
estimada < 60 ml/min
o História
familiar de doença CV
prematura
(<55anos H,
<65anos
M)
o Microalbuminúria
o Hábitos
tabágicos
o Proteína
C reactiva > 1mg/dl
Causas
identificáveis de hipertensão
o Apneia
do sono o Síndrome de Cushing ou
terapêutica
esteróide
o Induzida
por fármacos o Feocromocitoma
o Doença
renal crónica o Coartação da aorta
o Hiperaldosteronismo
primário o Doença tiroideia e
paratiroideia
o Hipertensão
renovascular
Princípios
e objectivos do tratamento anti-hipertensor
· Reduzir a TA para valores < 140/90 mm Hg.
· Reduzir a TA para valores < 130/80 mm Hg em doentes
com diabetes, doença
renal
crónica ou com TA na categoria normal - alta e três ou mais factores de
risco
major, lesão dos órgãos alvo ou doença/eventos CV.
· A maioria dos doentes necessitará de associações com dois
ou mais fármacos.
Objectivos
do tratamento
O
principal objectivo do tratamento do doente hipertenso é obter a longo prazo a
máxima
redução da morbilidade e mortalidade cardiovascular e renal. Tal poderá ser
5
conseguido
pela redução dos valores elevados da TA e pelo tratamento dos factores
de
risco modificáveis e de doenças associadas.
Na
população hipertensa em geral, o objectivo será a redução da TA para valores
inferiores
a 140/90 mm Hg.
Nos
doentes hipertensos diabéticos ou com doença renal, o objectivo será a redução
da
TA para valores < 130/80 mm Hg. Em doentes com insuficiência renal e
proteinúria
> 1 g/dia o objectivo será a redução da TA para valores < 125/75 mm
Hg.
Dever-se-á
ter em conta que a exequibilidade de se alcançarem estes valores
desejáveis,
deverá ser adaptada a cada caso individual e que a redução da TAS < 140
mm
Hg pode ser difícil de obter em alguns casos, particularmente em pessoas
idosas.
Modificação
dos estilos de vida
A
adopção de estilos de vida saudáveis constitui um componente indispensável da
terapêutica
de todas as pessoas com Hipertensão Arterial, podendo inclusivamente
contribuir,
em indivíduos susceptíveis, para a prevenção da sua ocorrência.
Estas
medidas, se suficientemente duradouras, poderão permitir, consoante os
indivíduos,
reduções da TA de 5 a 20 mm Hg e redução do risco cardiovascular
global
e incluem:
· Redução do peso em indivíduos obesos ou com excesso
ponderal, idealmente
para
valores de IMC de 18.5 a 24.9 Kg/m2;
· Adopção de dieta rica em frutos, vegetais e com baixo
teor de gorduras saturadas;
· Redução da ingestão de sal;
· Actividade física, como, por exemplo, exercício aeróbio,
como caminhar 30
min/dia,
5-7 dias/semana;
6
· Consumo moderado de álcool com um máximo 30 ml etanol/dia
nos homens e
15
ml/dia para as mulheres;
· Cessação do hábito de fumar, que é, sobretudo, importante
numa perspectiva de
redução
global do risco cardiovascular.
Quando
iniciar tratamento farmacológico
A
decisão de iniciar o tratamento anti-hipertensor baseia-se em dois critérios:
· Valor da Tensão Arterial sistólica e diastólica.
· Risco cardiovascular global.
Indivíduos com TA normal-alta (TAS 130-139 mm Hg ou TAD
85-89 mm Hg)
Existe
evidência científica do benefício da redução da TA neste grupo, mas limitada
a
doentes com AVC prévio, doença coronária e diabetes. Assim, nos indivíduos
com
TA normal-alta, somente se deverá aplicar a recomendação de iniciar a
terapêutica
anti-hipertensora nas situações de risco global elevado e muito elevado.
Nos
restantes indivíduos com risco moderado ou baixo, recomendam-se a adopção
de
atitudes e estilos de vida saudáveis, a monitorização periódica da TA e a
correcção
de outros factores de risco.
Doentes com HTA Estádio 1 (TAS 140-159 mm Hg ou TAD 90-99
mm Hg)
Impõe-se
a confirmação dos valores da TA em pelo menos 2 registos em tempos
diferentes
e ao longo de um período máximo de 3 meses e a introdução imediata de
atitudes
e comportamentos de vida saudável. Uma vez confirmada a HTA, a
terapêutica
deverá ser iniciada, de preferência, em regime de monoterapia com doses
baixas
de qualquer dos fármacos das 5 principais classes terapêuticas e,
eventualmente,
em regime de associação, em dose fixa ou não, neste caso incluindo,
preferencialmente,
um diurético em doses baixas.
7
Doentes com HTA Estádio 2 (TAS >= 160 mm Hg ou TAD
>= 100 mm Hg).
Uma
vez confirmada a TA em, pelo menos, 2 registos, num intervalo de 1 semana a
1
mês, a terapêutica deverá ser iniciada com associação de 2 fármacos, em dose
fixa
ou
não, incluindo, preferencialmente, um diurético em doses baixas e,
simultaneamente,
a adopção de atitudes e estilos de vida saudáveis. A identificação
de
outros factores de risco, lesão de órgãos alvo ou de doença associada, poderá
processar-se
após a introdução da terapêutica farmacológica.
Terapêutica
farmacológica
O
principal objectivo da terapêutica farmacológica antihipertensora é a prevenção
da
ocorrência de eventos cardiovasculares e renais e do seu agravamento ou
recorrência.
O seu objectivo operacional é a redução persistente da TA para valores
considerados
normais, com o mínimo de reacções adversas, conservando o melhor
possível
a qualidade de vida.
Prova
de benefício em estudos aleatórios
Vários
estudos aleatórios e controlados (com duração média de 4-5 anos),
demonstraram
inequivocamente que a redução da TA com diversas classes de
fármacos
(diuréticos, sobretudo tiazidas; inibidores da enzima conversora da
angiotensina;
bloqueadores dos adrenoreceptores beta; antagonistas do cálcio e
antagonistas
dos receptores da angiotensina), utilizados na maioria das vezes em
associação,
reduz as complicações da Hipertensão Arterial, a mortalidade global e
cardiovascular
e os AVC e acidentes coronários fatais e não fatais. Estes estudos
mostram,
ainda, que a redução da TA é condição necessária à obtenção daqueles
benefícios,
independentemente dos fármacos utilizados.
Em
algumas entidades nosológicas e co-morbilidades associadas à Hipertensão
Arterial,
designadas como “indicações preferenciais de grupos terapêuticos”, há
evidência
científica das vantagens de determinadas classes de antihipertensores
relativamente
a outras. Para além destas situações, e apesar de alguns estudos
sugerirem
superioridade de algumas classes de antihipertensores relativamente a
8
outras,
quer em determinadas subgrupos populacionais (idosos, grupos étnicos, etc)
e
em doentes com lesão dos órgãos alvo (hipertrofia ventricular esquerda, rigidez
arterial
e manifestações ateroscleróticas, disfunção renal e albuminúria), salienta-se
que
para idêntica redução da TA não há prova de diferença significativa de
benefício
sobre
a mortalidade global entre as diferentes classes de antihipertensores. Não está
ainda
claramente definido se determinadas alterações metabólicas suscitadas
especificamente
por algumas classes de antihipertensores (alteração do perfil
lipídico,
redução da caliémia, agravamento dos parâmetros analíticos da síndrome
metabólica
e da diabetes) se irão ou não repercutir a longo prazo num aumento da
incidência
de eventos cardiovasculares.
Algoritmo
de tratamento da HTA e escolha do primeiro fármaco
A
maioria dos doentes hipertensos irá necessitar da associação de dois ou mais
antihipertensores
para se obter o desejável controlo da TA. A associação de um
segundo
fármaco de diferente classe terapêutica deverá ser empreendida perante a
incapacidade
de se obter o desejável controlo da TA com as doses adequadas de um
único
fármaco.
Quando
a TA se encontra 20/10 mm Hg acima do valor desejável da TA, o
tratamento
inicial deverá incluir a associação de dois antihipertensores de diferentes
classes
terapêuticas, um dos quais deverá ser preferencialmente do grupo dos
diuréticos,
quer em formulações separadas, quer associados em dose fixa, sendo,
neste
caso, nas doses mais baixas existentes no mercado.
A
utilização de associações de antihipertensores, embora aumente a probabilidade
de
se obter o desejável controlo da TA, deve ser rodeada de determinadas
precauções,
sobretudo em doentes com disfunção autonómica, diabetes ou pessoas
idosas,
com propensão para hipotensão ortostática.
No
sentido de facilitar a aderência dos doentes à terapêutica e de obter um
controlo
equilibrado
da TA ao longo das 24 horas, é preferível optar, sempre que possível,
por
formulações que, em toma única diária, assegurem uma duração de acção
superior
a 24 horas.
9
(*)
= 3 factores de risco major, lesão dos órgãos alvo ou doença/eventos CV
Embora
existam outros modelos propostos para a sequência de opções terapêuticas,
o
modelo seguinte baseia-se na progressão por passos, perante ausência de
obtenção
do
controlo desejável da TA:
Sem
indicações
preferenciais
Com
indicações
preferenciais
Atitudes
e estilos de vida saudáveis
Tensão
Arterial =140 e/ou 90 mm Hg ou
=
130 e/ou 80 mm Hg em doentes com diabetes ou doença renal crónica
Ausência
de controlo da TA
Optimização
das dosagens ou adição de outros fármacos até
se
obter controlo adequado da TA
Considerar
a necessidade de referenciar a consulta
diferenciada
de hipertensão
Ter
em atenção as estratégias para melhorar a aderência à terapêutica
Terapêutica
farmacológica inicial
Hipertensão Estádio 1
e TA normal-alta (*)
Monoterapia
com diuréticos
tiazídicos
(sempre que
possível)
ou IECAs, ARAs,
ANTCA,
BB, ou associações
(em
dose fixa ou não)
Hipertensão Estádio 2
(TA = 160 e/ou = 100 mm Hg)
Associação
de 2 fármacos
(em
dose fixa ou não) de
diuréticos
tiazídicos (sempre que
possível)
e IECAs ou ARAs, ou
BB
ou ANTCA)
Fármaco(s) apropriado(s)
às indicações preferenciais
(ver
Indicações Preferenciais de
Grupos
Terapêuticos)
Associados
em geral a outros
fármacos
(diuréticos, IECAs,
ARAs,
BB, ANTCA e outros),
consoante
o caso
10
Indivíduos com TA normal-alta, com três ou mais factores
de risco major, lesão dos órgãos alvo ou
doença/eventos CV e doentes com HTA Estádio 1, ou seja,
com TAS 140-159 mm Hg ou
TAD 90-99 mm Hg:
1.
Monoterapia doses baixas;
2.
Substituição por outro fármaco em monoterapia em doses baixas;
3.
Associação de dois fármacos em doses baixas;
4.
Associação de dois fármacos em doses máximas;
5.
Adição de terceiro fármaco;
6.
Adição de quarto fármaco.
Doentes com HTA Estádio 2, ou seja, TAS >= 160 mm Hg
ou TAD >= 100 mm Hg.
1.
Associação de dois fármacos em doses baixas;
2.
Associação de dois fármacos em doses máximas;
3.
Adição de terceiro fármaco;
4.
Adição de quarto fármaco.
Seguimento
dos doentes
Uma
vez iniciada a terapêutica antihipertensora, os doentes deverão ser
reavaliados,
pelo
menos mensalmente, até se obter o desejável controlo da TA. Poderão ser
necessárias
consultas mais frequentes em doentes com hipertensão Estádio 2 ou
com
doenças associadas e co-morbilidades.
A
creatininémia e a caliémia e, eventualmente, outros parâmetros analíticos,
deverão
ser
avaliadas, pelo menos, 1-2 vezes por ano.
Após
estabilização da TA nos níveis desejáveis, a periodicidade das consultas deverá
processar-se
com intervalos de 3-6 meses.
11
A
coexistência de doenças associadas, como insuficiência cardíaca, diabetes,
doença
renal,
ou alterações analíticas relevantes, poderá exigir consultas mais frequentes.
Devem
ser implementadas atitudes e comportamentos com o objectivo de controlo
dos
outros factores de risco cardiovascular.
A
administração de antiagregantes plaquetários, como a aspirina, só deverá ser
empreendida
em doentes com controlo adequado da Tensão Arterial, face ao risco
aumentado
de hemorragia cerebral em doentes com Hipertensão Arterial não
controlada.
Hipertensão
resistente
Define-se
hipertensão resistente, quando não é possível obter o controlo desejável
da
TA em doentes comprovadamente aderentes a esquemas terapêuticos,
constituídos
por doses máximas de, pelo menos, 3 fármacos, incluindo
obrigatoriamente
um diurético (da ansa, se houver insuficiência renal). Nestes casos,
impõem-se
atitudes dirigidas à eventual detecção de causas identificáveis de
hipertensão
e a referência a consultas especializadas.
As
causas de Hipertensão resistente são, nomeadamente:
· Medição incorrecta da TA;
· Má aderência ao tratamento;
· Excesso de ingestão de sal e /ou de álcool;
· Medicação diurética inadequada;
· Doses inadequadas, interacções farmacológicas (ex.
anti-inflamatórios não
esteróides,
alguns estimulantes centrais e inibidores do apetite,
simpaticomiméticos,
contraceptivos orais, ciclosporina, etc.);
· Alguns medicamentos de venda livre e suplementos de
origem vegetal;
· Hipertensão da “bata branca”
12
Situações
particulares
Os
doentes com Hipertensão Arterial e determinadas co-morbilidades, necessitarão
de
abordagem específica nas opções terapêuticas e do seguimento, que é
fundamentada
em ensaios clínicos controlados.
Indicações
preferenciais de grupos terapêuticos
A
tabela seguinte, resume as indicações preferenciais de determinados grupos
terapêuticos
em doentes de risco elevado. Na maioria das situações, será necessário
recorrer
a associações de medicamentos. Estas e outras opções, poderão ser ditadas
por
utilização prévia de determinados fármacos, tolerabilidade e objectivos
terapêuticos
específicos.
INDICAÇÕES PREFERENCIAIS OPÇÕES TERAPÊUTICAS
INICIAIS
Insuficiência
cardíaca DIUR, BB, IECAs, ARAs, ANT ALD
Após
enfarte do miocárdio BB, IECAs, ANTALD
Risco
CV elevado DIUR, BB, IECAs, ARAs, ANTCA
Diabetes
DIUR, BB, IECAs, ARAs, ANTCA
Doença
renal crónica DIUR, IECAs, ARAs
Prevenção
recorrência de AVC DIUR, IECAs
Hipertrofia
ventricular esquerda IECAs, ARAs, ANTCA, DIUR
Microalbuminúria
IECAs, ARAs
Doença
coronária
Em
doentes com HTA e angina estável, os bloqueadores dos receptores
adrenérgicos
beta (BB), serão os fármacos de primeira escolha. Em determinados
casos,
os antagonistas do cálcio (ANTCA) de longa duração de acção, poderão ser
utilizados.
Em
doentes com síndromes coronárias agudas, angina instável ou enfarte do
miocárdio,
a HTA poderá ser tratada inicialmente com BBs e inibidores da enzima
conversora
da angiotensina 2 (IECAs), adicionados a outros fármacos.
No
pós-enfarte do miocárdio, os IECAs, BBs e antagonistas da aldosterona
provaram
ser benéficos. Está, igualmente, indicada a utilização de antiagregantes
plaquetários
e hipolipemiantes.
13
Insuficência
cardiaca
Em
doentes com insuficiência cardíaca, com disfunção sistólica e diastólica, os
IECAs,
BBs, antagonistas dos receptores da angiotensina (ARAS) e antagonistas da
aldosterona,
provaram ser benéficos, associados quase sempre a diuréticos,
frequentemente
da ansa.
Em
doentes com disfunção ventricular assintomática, recomenda-se o uso de
IECAs
e BBs.
Diabetes
e hipertensão
Na
maioria dos casos, é necessário utilizar associações de dois ou mais fármacos
para
obter o desejável controlo da TA, para valores < 130/80 mm Hg. Há provas de
que
os diuréticos (DIUR), BBs, IECAs, ARAs e ANTCA, reduzem a incidência de
eventos
cardíacos e de Acidente Vascular Cerebral (AVC), em doentes diabéticos.
Há
provas de que regimes terapêuticos, que incluem IECAs ou ARAS, atrasam a
progressão
da nefropatia diabética e reduzem a albuminúria; regimes incluindo
ARAS,
provaram reduzir a progressão para macroalbuminúria.
Insuficiência
renal crónica
Nos
doentes com insuficiência renal crónica, definida quer por valores da taxa de
filtração
glomerular < 60 ml/min por 1.73 m2, correspondendo aproximadamente a
creatininémia
>= 1.5 mg/dl no homem e 1.4 mg/dl na mulher, quer pela presença
de
macroalbuminúria (> 300 mg/24h), os objectivos terapêuticos visam atrasar a
progressão
da disfunção renal e prevenir eventos cardiovasculares.
Estes
doentes são frequentemente hipertensos e necessitam de tratamento agressivo,
geralmente
com associação de 2 ou mais fármacos, para obter a descida da TA para
valores
< 130/80 mm Hg.
Há
evidência de que os IECAs e ARAs afectam favoravelmente a progressão da
doença
renal, em diabéticos e não diabéticos. Em geral, os doentes com HTA e
insuficiência
renal crónica necessitam da utilização de diuréticos da ansa associados
a
outros fármacos.
14
Doença
cerebrovascular concomitante
Estão
ainda mal definidas as vantagens e inconvenientes da redução da TA na fase
aguda
do AVC. A associação de diuréticos e IECAs mostrou-se capaz de reduzir a
recorrência
de AVC.
Outras
situações particulares
· Grupos étnicos
Existem
dados que sugerem que a prevalência e gravidade da HTA poderá ser mais
elevada
em indivíduos de raça negra, comparativamente aos caucasianos. A HTA
sensível
à ingestão de sal, parece ser mais frequente nos doentes de raça negra e há
dados
que sugerem que, nestes doentes, a eficácia antihipertensora dos diuréticos e
ANTCA
é superior à dos BBs, IECAs e ARAs. Estes doentes exibem um risco
aumentado
de angioedema atribuído aos IECAs.
· Obesidade e síndrome CV metabólica
A
presença de obesidade, IMC >= 30 Kg/m2, associa-se a aumento da prevalência
de
HTA e de doença cardiovascular.
A
síndrome cardiovascular metabólica pode ser definida pela presença de 3 ou mais
dos
seguintes critérios:
a)
obesidade abdominal (perímetro abdominal >=102 cm no
homem e >=88 cm na
mulher);
b)
intolerância à glicose (glicemia em jejum >=110
mg/dl);
c)
TA >= 130/80 mm Hg;
d)
Hipertrigliceridemia > = 150 mg/dl, ou redução das
HDL< 40 mg/dl no
homem
e < 50 mg/dl na mulher.
Impõe-se
a adopção de atitudes de vida saudável e a adequada terapêutica
farmacológica
dos diferentes componentes da síndrome.
· Hipertrofia ventricular esquerda
15
A
hipertrofia ventricular esquerda (HVE) constitui um factor de risco
independente
de
doença cardiovascular. A regressão da HVE mostrou estar associada a menor
ocorrência
de eventos cardiovasculares. A regressão da HVE pode ser obtida com
redução
da TA, redução do peso, restrição da ingestão salina e terapêutica com as
várias
classes de antihipertensores, com excepção dos vasodilatadores directos
(hidralazina
e minoxidil). Alguns estudos isolados e meta-análises parecem sugerir
que
os ARAS, IECAs e ANTCA de longa duração de acção poderão ser mais
eficazes
na regressão da HVE que os BBs.
· Pessoas Idosas
Cerca
de 2/3 dos indivíduos com idade superior a 65 anos são hipertensos, sendo o
grupo
em que a hipertensão sistólica isolada é mais frequente.
As
recomendações gerais do tratamento da HTA aplicam-se à população idosa.
Particularmente
neste grupo, é necessário registar a TA na posição de pé. A redução
da
TA sistólica > 10 mm Hg, associada a sintomas de hipoperfusão cerebral, é
mais
frequente
neste grupo etário, sobretudo se houver depleção de volume, uso de
diuréticos,
venodilatadores e alguns psicotrópicos. Em alguns indivíduos mais
susceptíveis
aos sintomas de hipotensão postural, poderá ser necessário iniciar a
terapêutica
com doses mais baixas. Por estes motivos, reconhece-se que, neste
grupo,
nem sempre é possível reduzir a TA para valores da TA sistólica < 140 mm
Hg.
Há
provas de que os doentes hipertensos apresentam risco aumentado de
deterioração
cognitiva e de demência e que o controlo da TA se acompanha de
redução
significativa desse risco.
· Mulher
Em
algumas mulheres, o uso de contraceptivos orais associa-se a aumento da tensão
arterial,
pelo que se impõe o seu controlo periódico. No caso de suspensão do
método
contraceptivo usado, deve, o mesmo, ser substituído por outro igualmente
eficaz.
16
No
entanto, não há provas de que a utilização de terapêutica hormonal de
substituição
se associe, por si só, a elevação da tensão arterial.
· Gravidez
A
presença de HTA (TAS >= 140 ou TAD >= 90 mmHg) durante a gravidez,
requer
vigilância cuidada, face aos riscos acrescidos sobre a mãe e feto e pode
ocorrer
sob diversas formas incluindo:
1.
hipertensão pré-existente (TAS >= 140 ou TAD >= 90 mmHg observada
antes da 20ª
semana
de gravidez);
2.
hipertensão gestacional (TAS >= 140 ou TAD>= 90 mmHg observada
somente após
da
20ª semana de gravidez), sem proteínuria ou com proteinúria > 500 mg/24h
(preeclampsia);
3.
hipertensão pré-existente com hipertensão gestacional sobreposta com
proteinúria.
Constituem
indicadores de mau prognóstico, valores elevados da TA, albuminúria e
a
presença de hemoconcentração, hiperuricémia, alterações enzimáticas e da
coagulação.
Nestes casos e, sobretudo, se a TAS >= 160 ou TAD >= 100 mmHg,
poder-se-á
iniciar a terapêutica com metildopa, labetalol, antagonistas do cálcio ou
eventualmente
BB.
Em
algumas doentes, podem desenvolver-se situações de urgência ou emergência
hipertensiva,
necessitando hospitalização, monitorização intensiva, aceleração do
parto
e terapêutica parenteral e anticonvulsivante. Se TAS >= 170 ou TAD >= 110
mmHg,
impõe-se o internamento hospitalar e tratamento adequado.
Uma
mulher hipertensa, que engravida, ou a detecção de uma hipertensão
gestacional,
obriga à referenciação para Consulta de Alto Risco Obstétrico.
O
tratamento da HTA numa mulher em idade fértil, obriga à ponderação sobre
eventuais
efeitos teratogénicos da terapêutica a instituir e ao uso adequado de
contracepção
eficaz.
17
· Crianças e adolescentes
Em
crianças e adolescentes, a HTA é definida pelo valor confirmado da TA em
vários
registos (Fases I e V de Korotkoff), ao nível ou acima do 95º percentil
ajustado
para a idade, peso, estatura e sexo.
Frequentemente
justifica-se a procura de causas identificáveis de HTA (i.e. doença
renal,
coartação da aorta).
Recomenda-se
o início precoce de atitudes e estilos de vida saudáveis e a introdução
de
terapêutica farmacológica perante a falência destas.
· Fibrilhação auricular
A
prevalência e incidência de fibrilhação auricular aumenta na população
hipertensa.
O
recurso a BB e a ANTCA não dihidropiridínicos, pode justificar-se para reduzir
a
frequência
ventricular. Alguns ARAs parecem ser úteis na preservação do ritmo
sinusal
em doentes com fibrilhação auricular, previamente submetidos a
cardioversão.
A opção por anticoagulação crónica é adequada sobretudo em doentes
com
HTA devidamente controlada.
· Urgências e emergências hipertensivas
Os
doentes com elevação súbita da TA para valores elevados e que apresentam
lesão
aguda dos órgãos alvo (encefalopatia, enfarte do miocárdio, angina instável,
edema
pulmonar, eclampsia, AVC, traumatismo craniano, grave hemorragia arterial
ou
dissecção aórtica) exigem hospitalização e terapêuticas parentéricas.
Os
doentes com elevação súbita da TA para valores elevados e que não apresentam
lesão
aguda dos órgãos alvo, geralmente não necessitam de hospitalização e, na
maioria
dos casos, a introdução de terapêutica oral é adequada. Nestes, é necessária
a
avaliação da repercussão cardíaca e renal e deverão encetar-se atitudes
dirigidas à
eventual
detecção de causas identificáveis de HTA.
18
Vantagens
e desvantagens adicionais das diferentes classes terapêuticas
Vantagens potenciais:
Os
diuréticos tiazídicos podem atrasar a desmineralização óssea na osteoporose.
Os
BB podem ser úteis no tratamento de algumas taquiarritmias, enxaqueca,
tirotoxicose,
tremor essencial e hipertensão perioperatória.
Os
ANTCA podem ser úteis na síndrome de Raynaud e em algumas taquiarritmias.
Desvantagens potenciais:
Os
diuréticos devem ser usados com precaução em doentes com gota e alterações
electrolíticas.
Os
BB devem ser evitados perante o risco de broncospasmo e quando existem
bloqueios
de 2º ou 3º graus.
Os
IECA e ARAs estão contraindicados na gravidez e em doentes com estenose
bilateral
da artéria renal. Os IECAs devem evitar-se em doentes com história de
angioedema.
Estratégias
para melhorar a aderência à terapêutica
·Deve ser considerado o risco potencial de reacções
adversas da medicação e as
características
étnicas, socioeconómicas e/ou culturais dos doentes na escolha da
terapêutica.
·Optar sempre que possível por formulações que, em toma
única diária, asseguram
uma
duração de acção superior a 24 horas.
·A boa empatia dos profissionais de saúde aumenta a
confiança, motivação e
aderência
dos doentes à terapêutica.
19
Notas
adicionais
·A avaliação e a terapêutica do doente hipertenso devem
ser empreendidas numa
perspectiva
de risco cardiovascular global.
· Na maioria dos doentes o controlo da TA só é possível com
associação de
medicamentos.
· A utilização de diuréticos em monoterapia ou em
associação deve ser estimulada.
· O diagnóstico de hipertensão resistente pressupõe
ausência de controlo da TA
com
a associação de, pelo menos, 3 fármacos, usados em doses máximas, sendo
um
dos quais, obrigatoriamente, um diurético.
· O doente com hipertensão da bata branca (TA consultório
> 140 e/ou 90 mm
Hg
após várias visitas e TA de 24 horas < 125/80 mm Hg) e sem lesão dos
órgãos
alvo, necessita de vigilância mas pode dispensar terapêutica farmacológica.
· O diagnóstico e tratamento da HTA em indivíduos com idade
inferior a dezoito
anos
e em mulheres grávidas, devem regular-se por recomendações específicas.
· A utilização de antiagregantes plaquetários, como a
aspirina, só deve ser
empreendida
em doentes com HTA controlada.
II - FUNDAMENTAÇÃO
A
Hipertensão Arterial é um reconhecido factor de risco da doença cérebro e
cardiovascular.
Esta patologia constitui a maior causa de mortalidade e de
morbilidade
com grave impacto social em Portugal.
A
Direcção-Geral da Saúde, considerando da maior importância a revisão dos
normativos
técnicos em vigor, referentes à abordagem da Hipertensão Arterial,
destinados
aos serviços prestadores de cuidados de saúde, constituiu, para o efeito,
um
grupo de peritos, coordenado cientificamente pela Associação Portuguesa de
Hipertensão.
20
A
presente Norma, destinada a ser aplicada nos serviços prestadores de cuidados
de
saúde,
baseia-se em consensos da comunidade científica, internacional e nacional,
nomeadamente
da Organização Mundial de Saúde, Sociedade Internacional de
Hipertensão,
Sociedades Europeias de Hipertensão e de Cardiologia e Sociedade
Portuguesa
de Cardiologia.
Salienta-se
a importância de privilegiar uma intervenção integrada, multidisciplinar e
intersectorial,
sobre atitudes e estilos de vida de risco, bem como acções de
prevenção
e de reabilitação global, considerando os múltiplos vectores
intervenientes.
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