INTRODUÇÃO
Icterícia provém do
grego ikteros, termo usado no tempo de Hipócrates para designar a coloração
amarelada da pele e das mucosas causada pela deposição de pigmento biliar.
A Icterícia é um sintoma de grande
importância para o médico e o paciente, pois é a manifestação visível de uma
doença, seja ela do fígado ou não, quando os níveis de bilirrubina no sangue ultrapassam
2 mg/dL.
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
A detecção
de Icterícia tem importante valor semiológico e deve ser sempre valorizada. Ela
reflete perturbações na produção e/ou em passos do metabolismo/excreção da
bilirrubina e pode ser manifestação clínica de numerosas doenças hepáticas e
não hepáticas. A Icterícia pode ser a primeira ou mesmo a única manifestação de
uma doença hepática.
A principal
fonte de bilirrubina é a hemoglobina proveniente da quebra de eritrócitos
maduros, a qual contribui com cerca de 80 a 85% da produção total. Em adultos,
são quebrados diariamente cerca de 35 g de hemoglobina, resultando na produção
de 300 mg de bilirrubina.
Em condições fisiológicas, a maioria dos eritrócitos normais é sequestrada da circulação após 120 dias de vida pelas células retículo-endoteliais do baço, do fígado e da medula óssea, onde a hemoglobina é degradada em biliverdina, que é convertida em bilirrubina não conjugada, a qual é lipossolúvel.
A
bilirrubina não conjugada ou indireta liga-se reversivelmente à albumina, forma
pela qual é transportada no plasma. É encontrada em fluidos corpóreos de acordo
com seu conteúdo de proteínas, o que explica sua maior concentração em
exsudatos que em transudatos.
O fígado ocupa papel central no metabolismo da bilirrubina, sendo responsável por sua captação, conjugação e excreção. A bilirrubina não conjugada é convertida em bilirrubina conjugada ou direta, um composto solúvel em água passível de rápido transporte através da membrana canalicular para a bile. Este processo requer energia, sendo um dos passos mais suscetíveis de comprometimento quando a célula hepática é lesada.
A bilirrubina conjugada não é absorvida pelo intestino delgado. Uma vez no íleo terminal e no cólon, é hidrolisada por enzimas bacterianas (betaglicuronidases) formando o urobilinogênio, que é absorvido no cólon em pequena parcela. Em condições normais, essa parcela é reexcretada pelo fígado na bile (90% do total) e pelos rins (10% do total). Em situação de disfunção hepática, a reexcreção biliar de urobilinogênio pode diminuir, aumentando a parcela eliminada na urina.
As fezes normais de indivíduo adulto contêm uma mistura de urobilinogênio e seu produto de oxidação correspondente, de cor laranja, a urobilina. A diminuição ou a ausência de excreção de bilirrubina na luz intestinal provoca alterações na cor das fezes, tornando-as mais claras (hipocolia fecal) ou esbranquiçadas (acolia fecal).
A bilirrubina conjugada penetra mais facilmente em fluidos corpóreos e é capaz de provocar graus mais acentuados de Icterícia que a bilirrubina não conjugada. A pele pode tornar-se esverdeada, nos casos de hiperbilirrubinemia conjugada prolongada, possivelmente pelo aumento da biliverdina.
A concentração plasmática de bilirrubina reflete o balanço entre a taxa de produção e o clareamento hepático. Assim, se sua produção estiver aumentada, se houver prejuízo em um ou mais passos do processo de metabolização ou excreção hepática, como anormalidades na captação e no transporte da bilirrubina do plasma para o hepatócito, déficit na sua conjugação com o ácido glicurônico ou na sua excreção para o canalículo biliar ou ainda se houver obstáculo ao fluxo de bile na árvore biliar no seu trajeto até o duodeno, poderá haver elevação dos níveis séricos de bilirrubina.
Dependendo da causa de hiperbilirrubinemia, podemos observar predomínio de uma das duas frações da bilirrubina, da não conjugada ou da conjugada.
Tabela 1. Classificação fisiopatológica da Icterícia
Aumento da produção de bilirrubina
|
Hemólise
|
Eritropoiese ineficaz
|
|
Diminuição da captação hepática/transporte de bilirrubina
|
Drogas
|
Sepse
|
|
Distúrbio da conjugação da bilirrubina (atividade diminuída da enzima
glicuronosil-transferase)
|
Deficiência hereditária: síndrome de Gilbert; síndrome de Crigler-Najjar
tipo II; síndrome de Crigler-Najjar tipo I.
|
Deficiência adquirida: drogas; doença hepatocelular; sepse.
|
|
Defeitos na excreção da bilirrubina (defeitos intra-hepáticos)
|
Doenças hereditárias ou familiares: síndrome de Dubin-Johnson; síndrome
de Rotor.
|
Distúrbios adquiridos: doença hepatocelular; drogas; sepse.
|
|
Obstrução biliar extra-hepática
|
Obstrução
mecânica das vias biliares extra-hepáticas por cálculo, estenoses e tumores
(câncer das vias biliares, câncer da cabeça do pâncreas, câncer de papila ou
do duodeno, linfomas).
|
Multifatorial (defeito em mais de uma fase do metabolismo da bilirrubina)
|
Doença hepatocelular; hiperbilirrubinemia conjugada; sepse; Icterícia
neonatal.
|
ACHADOS CLÍNICOS
A anamnese e o exame físico, associados a testes laboratoriais simples de triagem, possibilitam o diagnóstico da doença de base em aproximadamente 85% dos pacientes.
História Clínica
Idade: a idade de início do quadro pode auxiliar na determinação da etiologia. Exemplo: hepatite A em crianças e adolescentes e câncer de vias biliares em pacientes idosos.
Profissão: exposição a infecções virais (hepatites B e C e HIV), como ocorre com médicos, enfermeiros, dentistas, técnicos de laboratório e estudantes da área de saúde, ou a tóxicos.
Procedência/viagens: o paciente pode proceder, ter residido ou viajado para regiões endêmicas de esquistossomose, hepatites, febre amarela, leptospirose e outras doenças que cursam com Icterícia.
Raça: negros apresentam maior incidência de anemia falciforme.
Idade: a idade de início do quadro pode auxiliar na determinação da etiologia. Exemplo: hepatite A em crianças e adolescentes e câncer de vias biliares em pacientes idosos.
Profissão: exposição a infecções virais (hepatites B e C e HIV), como ocorre com médicos, enfermeiros, dentistas, técnicos de laboratório e estudantes da área de saúde, ou a tóxicos.
Procedência/viagens: o paciente pode proceder, ter residido ou viajado para regiões endêmicas de esquistossomose, hepatites, febre amarela, leptospirose e outras doenças que cursam com Icterícia.
Raça: negros apresentam maior incidência de anemia falciforme.
Hábitos: uso de bebida alcoólica (quantidade, tipo de bebida, tempo de uso, história de abuso recente). As hepatites B e C são frequentes em usuários de drogas injetáveis e em homossexuais masculinos.
Antecedentes: transfusões de sangue ou derivados,
contacto com ictéricos, história familiar de hepatite, Icterícia ou anemia,
antecedente de cirurgias, particularmente em vias biliares, antecedente de
tumores, tatuagens, tratamento dentário, entre outros.
Pródromos de hepatite: queixas de náusea, anorexia e
aversão ao cigarro, precedendo o aparecimento de Icterícia, sugerem hepatite
viral.
Uso de medicamentos e exposição a tóxicos: uso ou
exposição crônica, recente ou esporádica. Lembrar de chás ou medicamentos
feitos a partir de plantas ou ervas, pois podem produzir lesão hepatocelular ou
hemólise.
Para a detecção da Icterícia, é fundamental que o paciente seja examinado
em ambiente com luz natural adequada, uma vez que, com pouca claridade ou com
iluminação artificial, sua percepção pode ser prejudicada. Os locais onde a
Icterícia é mais frequentemente percebida são a conjuntiva ocular (em casos
mais discretos, sobrretudo na periferia), a mucosa oral e a pele. Essa
distribuição é consequência da afinidade da bilirrubina por tecido elástico, o
que pode explicar ainda a discrepância entre a intensidade da Icterícia e os
níveis séricos de bilirrubina em fases de recuperação de doenças que se
acompanham de Icterícia.
Exame Físico
Febre: febre baixa, sem calafrios, que pode ocorrer na hepatite aguda viral e na hepatite alcoólica; já a febre alta com calafrios sugere contaminação bacteriana da bile (colangite) e pode acompanhar-se de hepatomegalia dolorosa. Em cirróticos, sugere bacteriemia. A febre pode fazer parte de um quadro infeccioso de qualquer natureza e a Icterícia pode ter a sepse como causa.
Colúria: presença de pigmento biliar na urina indica
hiperbilirrubinemia conjugada.
Acolia/hipocolia fecal: deficiência ou obstrução à
excreção de bilirrubina para o intestino sugere obstrução biliar
extra-hepática.
Dor abdominal:
cólica biliar: dor em cólica no hipocôndrio direito ou
no quadrante superior direito do abdome sugere cálculo biliar;
Dor ou
desconforto no hipocôndrio direito: ocorre em casos de aumento rápido do volume
do fígado como nas hepatites agudas, nos tumores e na congestão hepática, ou no
abscesso hepático;
Dor pancreática:
dor em faixa no andar superior do abdome, acompanhada de vômitos; ocorre em
casos de pancreatites, tumores pancreáticos ou obstrução das vias biliares por
cálculo.
Prurido cutâneo: secundário à retenção de sais
biliares, pode ser a primeira manifestação de cirrose biliar primária.
Perda de peso: é comum em doenças hepáticas,
principalmente na fase final da doença e nas neoplasias.
Vesícula biliar palpável: sugere obstrução biliar
extra-hepática, neoplasia justa-ampolar ou coledocolitíase.
Manifestações de hipertensão portal: circulação
colateral portossistêmica, esplenomegalia e ascite.
Manifestações de doença hepática crônica: aranhas
vasculares, eritema palmar, diminuição dos pelos, atrofia testicular,
ginecomastia, distúrbios da coagulação (sangramentos), hálito hepático,
encefalopatia hepática.
Exame do fígado:
.hepatomegalia
dolorosa em hepatites agudas, colangites, tumores, congestão hepática, abscesso
hepático;
.fígado
nodular em tumores e cirrose;
.fígado
diminuído em casos de hepatite grave e de cirrose.
Esplenomegalia: pode ser manifestação da síndrome de
hipertensão portal, fazer parte do quadro de hemólise ou acompanhar infecções.
Ascite: pode ser manifestação de hipertensão portal e
de carcinomatose peritoneal.
Edema periférico: pode ser manifestação de
hipoalbuminemia que acompanha as hepatopatias graves; nesses casos, o edema é
frio, depressível e indolor.
Esteatorreia pode estar presente, muitas vezes associada à perda de peso e à má absorção de cálcio e vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K); sugere obstrução de vias biliares.
Três achados físicos indicam ingestão de quantidades
excessivas de álcool: aumento da parótida, ginecomastia e contratura de
Dupuytren; a ausência destes achados não exclui o diagnóstico.
Manifestações de colestase crônica: a bilirrubina também pode impregnar a urina, o suor, o sêmen e o leite; em casos de Icterícia intensa, o fluido ocular pode determinar queixas de xantopsia (visão amarelada dos objetos). Xantomas, xantelasmas, hiperqueratose e baqueteamento dos dedos podem estar presentes.
Alguns achados sugerem doenças hepáticas especificas:
hiperpigmentação (doença biliar crônica ou hemocromatose); xantomas (encontrado
na cirrose biliar primária) e anéis de Kaiser-Fleischer (doença de Wilson).
Logo, por meio da história e do exame físico, o médico já pode ter uma boa
ideia da etiologia da Icterícia, tentando responder principalmente as seguintes
questões:
A Icterícia é secundária a uma obstrução biliar?
Existem evidências de doença hepática crônica?
A Icterícia é possivelmente induzida por drogas,
álcool ou agentes infecciosos?
Existe alguma evidência de hemólise?
Tabela 2. Manifestações clínicas na hiperbilirrubinemia indireta e direta
Hiperbilirrubinemia não conjugada
(indireta)
|
Hiperbilirrubinemia conjugada
(direta):
|
Icterícia
|
Icterícia
|
Colúria
|
|
Hipocolia
ou acolia fecal (pode estar ausente)
|
Tabela 3. Tipos de Icterícia
Colestática
(direta)
|
Não
colestática (indireta)
|
|
Início
|
Neonatos: hereditárias (Dubin-Johnson e Rotor); atresia de vias biliares.
Idosos: neoplasia.
|
Crianças: esferocitose, anemia falciforme, talassemias.
Adultos: anemia hemolítica
autoimune, hemólises intravasculares.
|
Urina
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Colúrica
|
Normal
|
Fezes
|
Acolia
|
Normal
|
Prurido cutâneo
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Presente ou não
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Ausente
|
Intensidade
|
Leve ou intensa
|
Leve
|
Mucosas
|
Avermelhadas e ictéricas
|
Pálidas
|
Pele
|
Icterícia
|
Palidez
|
Anomalias ósseas genéticas
|
Ausentes
|
Podem estar presentes
|
EXAMES COMPLEMENTARES
A investigação dos quadros de Icterícia inclui exames laboratoriais e de
imagem.
Bilirrubinas Totais e Frações
São os primeiros exames a serem solicitados. Facilitam o diagnóstico por
dividir as possíveis causas em dois grandes grupos: hiperbilirrubinemia direta
ou indireta.
AST, ALT, TP, TTPA
Alteração nestes exames sugere hepatopatia. A relação entre AST e ALT é um
marcador diferencial entre a esteato-hepatite não alcoólica e a doença hepática
alcoólica (AST/ALT < 1 = esteato-hepatite não alcoólica; > 2 = doença
hepática alcoólica). Na persistência de níveis elevados, solicitar marcadores
de autoimunidade (antimúsculo liso, antinúcleo, anti-LKM 1), perfil férrico e,
se necessário, pesquisar mutação no gene HFE (suspeita de hemocromatose),
anticorpos antimitocondriais (cirrose biliar primária), ceruloplasmina e cobre
sérico e urinário (doença de Wilson) e alfa-1-antitripsina (deficiência de
alfa-1-antitripsina).
Fosfatase Alcalina e Gama-GT
Sugerem doença canalicular. A elevação da gama-GT colabora para o
diagnóstico de abuso de álcool. As drogas que mais comumente causam elevações
são anti-inflamatórios não hormonais, anticonvulsivantes e drogas
antituberculose.
Sorologias para Hepatites A, B e C
Devem ser solicitadas para todos os pacientes ictéricos.
Urina I – Urobilinogênio
Em condições em que há diminuição da excreção de bilirrubina no intestino
ou diminuição da flora intestinal (uso de antibióticos, por exemplo), pode
haver diminuição da produção de urobilinogênio. Ao contrário, em situações de
aumento da produção da bilirrubina, pode haver aumento da síntese de
urobilinogênio e de seus níveis na urina.
Ultrassonografia Abdominal
É o primeiro exame de imagem a ser solicitado na Icterícia aguda. Ele
confirma ou exclui obstrução (sensibilidade de 55 a 91% e especificidade de 63
a 96%), identifica sinais de hepatopatia crônica e lesões expansivas. É um
exame operador-dependente, de difícil interpretação no obeso e na presença de
gás no intestino.
Tomografia Computadorizada
Permite medidas precisas do calibre da árvore biliar (sensibilidade de 63 a
96% e especificidade de 93 a 100%), detecta lesões expansivas menores que 5 mm,
mas apresenta o risco do contraste endovenoso. Não é tão acurado quanto a
ultrassonografia na detecção de coledocolitíase porque apenas os cálculos calcificados
são visualizados.
Colangiopancreatografia Endoscópica Retrógrada (CPRE)
e Colangiografia Percutânea Trans-hepática (CPT)
Na presença de obstrução biliar, são os procedimentos de escolha. A CPRE permite
a visão direta da árvore biliar e do ducto pancreático (sensibilidade de 89 a
98% e especificidade de 89 a 100%), a realização de biópsias e, na presença de
obstrução biliar, permite manobras de desobstrução (esfincterectomia, extração
do cálculo, dilatação, colocação de stent). Complicações ocorrem em menos de 3%
dos casos (depressão respiratória, aspiração, sangramento, perfuração,
colangite e pancreatite). A CPT possui sensibilidade de 98 a 100% e
especificidade de 89 a 100%) e é recomendada quando procedimentos são
necessários (dilatação, stent), sendo preferível nas obstruções próximas ao
ducto hepático comum e na presença de anomalias anatômicas que dificultem a
CPRE. Necessita da dilatação dos ductos biliares intra-hepáticos para sua
realização e apresenta morbidade 3% e mortalidade 0,2%, semelhantes à CPRE.
Colangiorressonância
Pode ser utilizada em pacientes com contraindicação ou insucesso na CPRE e
CPT, quando intervenções terapêuticas não parecem ser necessárias e como
primeiro exame em pacientes com anastomose biliodigestiva prévia ou Billroth
II.
Biópsia Hepática
Pode ser necessária para confirmar a causa e a severidade da doença
hepática.
Tabela 4. Provas diagnósticas importantes nas enfermidades hepáticas mais frequentes
Hepatite A
|
IgM anti-VHA
|
Hepatite B
Aguda
Crônica
|
IgM antiHBc, HBsAg
HBsAg, HBeAg, DNA-VHB
|
Hepatite C
|
Anti-VHC, RNA-VHC
|
Hepatite D
|
HBsAg, anti-VHD
|
Hepatite E
|
Anti-VHE
|
Hepatite autoimune
|
Auto anticorpos (ANA, SMA,
antiKLM-1), hiperglobulinemia (IgG) e histologia compatível
|
Cirrose biliar primária
|
AMA, aumento de IgM e histologia
compatível
|
Colangite esclerosante primária
|
p-ANCA e colangiografia
|
Hepatite tóxica/fármacos
|
Ingestão de álcool, fármacos e
histologia
|
Esteato-hepatite não alcoólica
|
Esteatose (USG, TC e histologia)
|
Deficiência de alfa-1-antitripsina
|
Diminuição alfa-1-antitripsina,
fenótipo PiZZ ou PiSZ
|
Doença de Wilson
|
Diminuição da ceruloplasmina,
elevação do cobre sérico e urinário
|
Hemocromatose
|
Aumento de IST, aumento de
ferritina, histologia e mutações no gene HFE (H63D, C282Y)
|
Hepatocarcinoma
|
Elevação da alfafetoproteína (>
500), USG e TC
|
AMA: anticorpo antimitocôndria; USG:
ultrassonografia; TC: tomografia computadorizada; IST: índice de saturação da
transferrina; ANA: anticorpo antinúcleo; SMA: antimúsculo liso; anti-LKM1:
antimicrossomo fígado/rim; pANCA: anticorpos citoplasmáticos antineutrofílicos
perinucleares.
Na presença de hiperbilirrubinemia indireta, devem ser investigados sinais
de hemólise:
Hemograma: presença de anemia; quando houver pancitopenia, pesquisar hiperesplenismo
(esferocitose hereditária, talassemia e anemia hemolítica autoimune). Após 7 a
12 dias do início da hemólise, ocorre expansão medular reacional:
reticulocitose (de 10 a 80% das hemácias) e eritroblastose periférica levando a
uma macrocitose; policromatofilia; aumento do número de plaquetas e leucócitos.
Hemólise crônica (longo prazo) – aumento das trabeculações ósseas: osso em
escova na radiografia; fácies de roedor (pronásia, nariz afundado, malar
proeminente); fíbula em sabre. Diminuição da vida média do eritrócitos é sinal
de hemólise mantida (em torno de 30 dias), detectada pelo
di-isopropilfluorfosfato ou cromo radioativo.
Desidrogenase láctica (DHL): é uma enzima abundante dos eritrócitos e está
elevada nos quadros hemolíticos.
Exame de fezes: elevação do estercobilinogênio e do urobilinogênio fecal
sugerem hemólise.
Diminuição da haptoglobina, hemoglobina livre no sangue, hemossiderinúria:
sugere hemólise intravascular.
Eletroforese de hemoglobina: importante exame na suspeita de
hemoglobinopatia (anemia falciforme, talassemia).
Exame de urina: hemoglobinúria, sem sinal de hematúria, é sugestiva de
hemólise intravascular.
Teste de Coombs: é utilizado para detectar anemia hemolítica autoimune.
Pesquisa do esfregaço de sangue – esquizócitos: encontrados na hemólise
intravascular microangiopática (CIVD, púrpura trombocitopênica trombótica
(PTT), síndrome hemolítica-urêmica (SHU), hipertensão maligna, válvula
mecânica, eclâmpsia). Esférócitos: esferocitose e anemia hemolítica autoimune.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
O diagnóstico diferencial dos quadros de Icterícia, tendo em vista o grande
número de patologias que cursam com este achado, deve ser feito considerando as
causas de hiperbilirrubinemia conjugada e não conjugada.
Hiperbilirrubinemia Não Conjugada
Produção Elevada de Bilirrubinas
1. Produção ineficaz na medula (eritropoiese
ineficaz)
Nesta afecção primária rara, ocorre uma produção insuficiente pela medula resultando
na liberação de bilirrubina não conjugada na circulação.
2. Lise aumentada (hemólise)
Principal causa de hiperbilirrubinemia não conjugada, é causada por uma
anomalia intrínseca da hemácia ou devido ao desenvolvimento de um mecanismo
anormal de destruição.
A) Defeitos intrínsecos das hemácias
levando a hemólise elevada
I. Esferocitose congênita: defeito da
membrana das hemácias, tornando-a esférica e mais permeável ao sódio. Os
sintomas surgem na infância com crises cada vez piores de anemia e Icterícia
causada por hemólise decorrente de infecção. Esplenomegalia é comum, assim como
a formação de cálculos biliares.
II. Eliptocitose congênita: distúrbio
autossômico dominante, em geral assintomático; ocasionalmente ocorre anemia
hemolítica compensada e Icterícia é rara.
III. Defeitos enzimáticos: distúrbios hereditários que
cursam com anemia hemolítica sem alteração na eletroforese de hemoglobina e na
fragilidade osmótica.
IV. Hemoglobinopatias:
Anemia falciforme: defeito qualitativo hereditário
recessivo da hemoglobina, acomete mais negros e é caracterizada por Icterícia,
anemia e alterações esqueléticas. O paciente apresenta crises espontâneas de
falcização, produzindo fortes dores. O diagnóstico é feito pela eletroforese de
hemoglobina e pela demonstração in vitro do afoiçamento das células (teste da
célula falciforme).
Doença HBSC: ocorre em indivíduos que apresentam traço
falciforme e outra hemoglobina anormal (HbC), resultando em hemólise e Icterícia,
normalmente com quadros mais leves que a anemia falciforme.
Talassemia: herança homozigótica com produção
defeituosa das cadeias alfa, não é compatível com a vida. A forma
heterozigótica (talassemia alfa ou beta menor) produz uma anomalia moderada que
raramente causa Icterícia. A talassemia beta maior (homozigota) é a única capaz
de, ocasionalmente, causar Icterícia.
V. Hemoglobinúria paroxística noturna
(HPN): afecção rara com episódios de hemólise intravascular acompanhados de
Icterícia, hemoglobinúria e hemossiderinúria. A suspeita diagnóstica é feita
pelo histórico de urina avermelhada após o sono e confirmada com teste de
acidificação do sangue (Ham) e sacarose.
B) Fatores extrínsecos levando a
hemólise
I. Anemia hemolítica autoimune:
destruição extravascular de hemácias mediada por anticorpos. Pode ser detectada
pelo teste de Coombs direto. Os quadros agudos são mais frequentes em crianças
e cursam com baço palpável, Icterícia, anemia e sintomas constitucionais de
febre, vômitos e prostração. Na forma crônica, o início é insidioso,
normalmente em adultos com Icterícia (75%) e baço palpável. Em 50% dos
pacientes, nenhuma causa é encontrada; no restante, ela é secundária a várias
doenças (lúpus eritematoso, doença maligna reticuloendotelial, sarcoidose e
leucemia). Pode associar-se a plaquetopenia por anticorpos antiplaquetas,
configurando a síndrome de Evans.
II. Hemoglobinúria devido a anticorpos
frios: um anticorpo produzido reage com as hemácias em baixas temperaturas.
Pode ocorrer anemia hemolítica leve e contínua, pontuada por períodos de
paroxismos com dor abdominal, Icterícia e calafrios. Frequentemente é
secundária a infecções virais (micoplasma) e doenças malignas, particularmente
linfoma.
III. Drogas e produtos químicos: algumas drogas podem
causar hemólise e Icterícia (Tabela 5).
Tabela 5. Drogas que causam hemólise
Mecanismo
|
Formação
de haptenos
|
Imunocomplexos
|
Anticorpos
|
Local de hemólise
|
Extravascular
|
Intravascular
|
Extravascular
|
Medicações
|
Penicilina, ampicilina,
meticilina, carbenicilina, cefalotina
|
Quinidina, fenacetim,
hidroclorotiazida, rifampicina, sulfonamidas, isoniazida, quinina, insulina,
tetraciclina, melfalam, paracetamol, hidralazina, probenecida, clorpromazina,
estreptomicina, fluorouracil, sulindaco
|
Alfametildopa, ácido mefenâmico,
L-dopa, procainamida, ibuprofeno, diclofenaco de sódio, interferon alfa
|
IV. Deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogenase
(favismo): distúrbio caracterizado por hemólise intravascular e Icterícia que
ocorre em pacientes portadores de deficiência de
glicose-6-fosfato-desidrogenase após a ingestão de certas espécies de feijão,
inalação de pólen ou uso de determinadas drogas.
V. Variadas: hemólise aguda com Icterícia
pode ocorrer em várias infecções, como málaria, gangrena, queimaduras e em
pneumonias virais. Após exercícios excessivos, pós-transfusional e na anemia
hemolítica microangiopática (púrpura trombocitopênica trombótica, hipertensão
maligna, neoplasia disseminada e síndrome hemolítico-urêmica).
VI. Causas intravasculares de hemólise: microangiopáticas
(CIVD, PTT, SHU, eclâmpsia, válvula mecânica, hipertensão maligna), veneno de
cobra, HPN, malária. São caracterizadas por DHL elevado, hemoglobina livre no
sangue, haptoglobina bem baixa ou ausente, hemoglobinúria e hemossiderinúria.
Nas anemias hemolíticas microangiopáticas, encontram-se esquizócitos. Por outro
lado, nas hemoglobinopatias, nos defeitos de síntese de hemoglobina, nos
problemas de membrana, nas anemias hemolíticas autoimunes e nas enzimopatias,
identifica-se hemólise extravascular.
Captação Reduzida de Bilirrubina no Fígado: Doença de
Gilbert
Afecção hereditária presente em 5 a 7% da população, cursa com diminuição
discreta da meia-vida das hemácias, da capacidade hepática de conjugar a
bilirrubina e de transportar a bilirrubina não conjugada para o hepatócito. O
grau de Icterícia varia e geralmente aumenta após exercício, infecção ou jejum.
O diagnóstico é feito pela exclusão de doença hepática.
Conjugação Reduzida de Bilirrubina no Fígado
1. Síndrome de Crigler-Najjar tipo II
Deficiência
familiar parcial da enzima glicuroniltransferase, que conjuga a bilirrubina. O
único sintoma costuma ser a Icterícia. Em neonatos, há risco de kernicterus
(impregnação cerebral).
2. Síndrome de Crigler-Najjar tipo I
Deficiência
familiar total da enzima, é uma rara doença em que o acúmulo de bilirrubina
indireta é tão alto que ocasiona kernicterus; costuma ser fatal.
3. Icterícia neonatal
Acredita-se
que é causada pelo comprometimento da conjugação e da excreção da bilirrubina,
aumento da circulação êntero-hepática e lise acelerada de eritrócitos. Os
níveis de bilirrubina no sangue variam entre 6 e 8 mg/100 mL, com predomínio da
fração não conjugada.
4. Síndrome de Lucey-Driscoll
Causa rara
de Icterícia durante a gravidez por inibição hormonal da conjugação de
bilirrubinas.
Hiperbilirrubinemia Conjugada
Em pacientes adultos com
hiperbilirrubinemia direta, 7 patologias correspondem a 98% dos diagnósticos:
1. Hepatite viral.
2. Doença alcoólica do fígado.
3. Hepatite crônica.
4. Doença hepática induzida por drogas.
5. Cálculos biliares e suas complicações.
6. Cirrose biliar primária.
7. Colangite esclerosante primária.
Dano Hepático Agudo
1. Hepatite viral
Pode ser causada por diversos vírus (rubéola, Coxsackie B, herpes simples,
febre amarela, citomegalovírus); os mais comuns são os das hepatites A, B e C e
mononucleose (consultar capítulo de Hepatites).
2. Infeções não causadas por vírus
I. Febre recorrente: é uma doença
causada por várias cepas da bactéria Borrelia; cursa com Icterícia e febre de
40oC que dura cerca de 4 ou 5 dias e depois cessa. A forma epidêmica
é transmitida por piolhos ou carrapatos.
II.
Leptospirose: síndrome de Weil causada por espiroqueta
transmitida pela urina do rato, ocorre em cerca de 5
a 10% dos pacientes com leptospirose. Apresenta início súbito de mialgia
generalizada (principalmente em panturrilha) associada a febre e cefaleia.
Normalmente, entre o 4º e o 7º dia, estes pacientes apresentam uma Icterícia
rubínica, consequente de vasodilatação cutaneomucosa associada à deposição de
bilirrubina (cor vermelho-alaranjada). A Icterícia é a principal manifestação
desta forma, sendo um parâmetro de gravidade.
III. Sepse: a Icterícia pode estar presente na sepse, independentemente da
localização ou do agente infeccioso. A produção aumentada de citocinas inflamatórias
pelas células de Kuppfer do fígado, associadas à isquemia dos hepatócitos e à
ação de endotoxinas produzidas no intestino, produz colestase e
hiperbilirrubinemia.
a) Induzida por drogas.
b) Venenos: toxinas industriais como
tetracloreto de carbono, dicofano (DDT) e trinitrotolueno (TNT) podem causar
necrose hepática. Amanita (cogumelo selvagem) costuma ser fatal mesmo em
pequenas quantidades.
c) Esteato-hepatite da gravidez:
afecção periparto pouco frequente, de etiologia desconhecida, geralmente fatal.
Tabela 6. Fatores que modificam a suscetibilidade individual a apresentar dano
hepático
Idade
|
Paracetamol, isoniazida e halotano
|
Idosos são mais suscetíveis
|
Ácido acetilsalicílico (AAS) e
ácido valproico
|
Crianças são mais suscetíveis
|
|
Sexo
|
Metildopa, nitrofurantoína,
diclofenaco e isoniazida
|
Mulheres são mais suscetíveis,
principalmente as portadoras de hepatopatia crônica
|
Azitromicina
|
Homens são mais suscetíveis
|
|
Dose
|
Paracetamol e AAS
|
Risco de hepatotoxicidade
proporcional aos níveis plasmáticos
|
Tetraciclina, tacrina e isoniazida
|
Idiossincrasia metabólica
dose-dependente
|
|
Dose total/intervalo
|
Metotrexato e vitamina A
|
Aumento da dose ou da frequência
aumenta a toxicidade
|
Via de administração
|
Tetraviclina EV
|
Via oral é raramente tóxica
|
História prévia de reação a
fármacos
|
Eritromicina (amoxicilina/ácido
clavulânico); halotano (enfurano); diclofenaco (ibuprofeno); amoxicilina
(amoxicilina/ácido clavulânico)
|
Casos isolados de reação cruzada
|
Interação farmacológica
|
Ácido valproico e outros
antiepilépticos
|
Risco de hepatotoxicidade
|
Anticontraceptivos orais e
toleandromicina
|
Risco de colestase
|
|
Paracetamol e isoniazida,
difenil-hidantoína
|
Risco de hepatotoxicidade
|
|
Isoniazida e ripampicina
|
Mais hepatotóxicos que isolados
|
|
Fenobarbital e antidepressivos
|
Risco de hepatotoxicidade
|
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Consumo de álcool
|
Paracetamol
|
Não superar dose de 2 g/dia
|
Metotrexato e isoniazida
|
Risco de hepatotoxicidade
|
|
Fatores genéticos
|
Sulfonamidas, hidralazina
|
Déficit da atividade
N-acetiltransferase 2
|
D-penicilamida, clorpromazina
|
Déficit da sulfoxidação
|
|
Paracetamol
|
Déficit da glutation-sintetase
|
|
Difenil-hidantohína
|
Déficit da atividade da
epóxido-hidrolase
|
|
Modulação imunológica
|
||
Halotano, antidepressivos
tricíclicos
|
HLA A11
|
|
Diclofenaco
|
HLA DR6
|
|
Clorpromazina
|
HLA DR6 e DR2
|
|
Nitrofurantoína
|
HLA DR1 e DRB5
|
|
Amoxicilina/ácido clavulânico
|
DQB1
|
|
Enfermidade adjacente
|
||
Aids
|
Sulfametoxazol-trimetoprim,
dapsona
|
Risco de dano hepático
|
Diabetes e obesidade
|
Metotrexato, clotrimazol
|
Risco de fibrose hepática
|
Piora da função renal
|
Tetraciclinas, alopurinol
|
Risco de dano hepático
|
Transplante de órgãos
|
Azatioprina, bussufam
|
Toxicidade vascular
|
Doença de Still
|
AAS
|
Risco de dano hepático
|
Hipertireoidismo
|
Halotano
|
Risco de hepatite
|
Hepatite viral crônica
|
Antituberculosos, AINH,
antirretrovirais e metotrexato
|
Risco de dano hepático
|
Gravidez
|
Tetraciclina
|
Induz esteatose microvesicular
|
Paracetamol
|
Risco de dano hepático
|
|
Desnutrição
|
Paracetamol
|
Risco de dano hepático
|
Dano Hepatico Crônico
1. Cirrose (consultar capítulo de
cirrose).
2. Tumores: apenas tumores malignos
causam Icterícia.
I. Primários: acompanham a cirrose; o
câncer hepatocelular é comum em portadores de hepatite B; o diagnóstico é feito
pela dosagem elevada de alfafetoproteína e da biópsia hepática. O sarcoma
primário do fígado e o hemangiossarcoma são extremamente raros.
II. Metastáticos: frequentes no fígado,
cursam com Icterícia branda.
3. Infiltração.
I. Tumores reticuloendoteliais.
II. Amiloidose: raramente causa
Icterícia.
Obstrução Biliar Extra-hepática
1. Causas envolvendo a luz dos ductos
I. Cálculos biliares: são a causa mais
comum de obstrução biliar. O paciente que apresenta coledocolitíase e Icterícia
obstrutiva pode ou não ser colecistectomizado. A Icterícia pode ser flutuante e
desaparecer completamente após a eliminação do cálculo. Alguns pacientes são
assintomáticos e apresentam testes anormais de função hepática. Geralmente, a
vesícula biliar não é palpável. Quando a ultrassonografia não revela dilatação
de vias biliares, a CPRE ou a CPT confirmam o diagnóstico.
II. Parasitas: o Ascaris lumbricoides
ocasionalmente bloqueia o ducto biliar, causando Icterícia.
2. Causa afetando as paredes dos ductos
I. Divisão acidental: geralmente por
seccionamento cirúrgico acidental.
II. Pancreatite aguda: consultar
capítulo específico.
III. Pancreatite crônica: consultar
capítulo específico.
IV. Carcinoma do ducto biliar: tumores epiteliais que
podem surgir em qualquer ponto da árvore biliar. Os pacientes apresentam
Icterícia obstrutiva indolor.
V. Obliteração congênita do ducto
biliar: Icterícia obstrutiva profunda que surge no 3º dia após o nascimento. A
insuficiência hepática ocorre entre os 3 e 6 meses.
3. Compressão extrínseca do ducto biliar ou invasão pelo lado externo
I. Tumores do pâncreas: produzem
Icterícia por invasão do ducto biliar comum ao passar pela cabeça da glândula.
A Icterícia é progressiva, eventualmente flutuante e associada à perda de peso.
Hepatomegalia e vesícula biliar palpável podem estar presentes.
II. Causas raras: adesões peritoneais,
linfonodos portais aumentados, síndrome de Mirizzi, aneurisma da artéria
hepática, cistos hidáticos, cistos retroperitoneais e divertículo duodenal.
Colestase Intra-hepática
1. Síndrome de Dubin-Johnson e síndrome
de Rotor
Afecções familiares
benignas raras com Icterícia por hiperbilirrubinemia direta. Ocorre o
transporte insuficiente da bilirrubina até o canalículo biliar, o que confere,
no primeiro caso, uma pigmentação marrom ao fígado e, na síndrome de Rotor, a
principal diferença é a ausência deste pigmento marrom.
2. Gravidez
Algumas
mulheres desenvolvem colestase no último trimestre da gravidez.
3. Drogas.
Carotenemia
Não é
Icterícia. Consiste na deposição do pigmento betacaroteno na pele,
particularmente nas palmas das mãos, na esclera e nas membranas mucosas.
TRATAMENTO
O tratamento da Icterícia consiste no tratamento da doença de base e depende da doença com a qual o sintoma está associado. Nos casos de hepatite viral aguda, o tratamento geralmente é domiciliar e sintomático. Já se a causa for obstrução da drenagem biliar por cálculo, o tratamento é endoscópico ou cirúrgico. Em casos de tumor, geralmente a intervenção é cirúrgica, com avaliação da extensão e do tipo de câncer diagnosticado. Em alguns casos, há a possibilidade da recidiva da doença, ou seja, todos os sintomas, incluindo a Icterícia, poderão reaparecer.
Em razão das
inúmeras possibilidades, é fundamental identificar os primeiros sinais de
Icterícia e diagnosticar sua causa para adotar o tratamento mais eficaz. Desta
forma, reduz-se o risco do aparecimento de complicações secundárias.
Não se dispõe, até o momento, de terapêutica específica para Icterícia. Medidas como colestiramina, rifampicina, fenobarbital, ácido ursodeoxicólico, S-adenosilmetionina e plasmaférese têm sido empregadas para aliviar o prurido. A causa do prurido ainda é incerta, pois não está diretamente relacionada ao nível sanguíneo de bilirrubina. Mesmo assim, o uso de um quelante de sais biliares, a colestiramina, em uma dose de até 12 g/dia, é a primeira escolha no tratamento. Quando não há resposta, é possível o uso de rifampicina, iniciando-se com 150 mg/dia.
O ácido ursodeoxicólico também pode ser utilizado. É um variante de sais biliares mais hidrofílico (mais solúvel em água) que a maioria dos sais biliares. Quando administrado em doses terapêuticas (13 a 15 mg/kg/dia), passa a constituir cerca de 40% do total de ácidos biliares, que se torna menos detergente e tóxico. Além disso, parece ter efeito na imunidade nos hepatócitos e canais biliares.
Pacientes ictéricos também podem apresentar deficiências vitamínicas por diminuição da absorção de vitaminas lipossolúveis, com sintomatologia própria: vitamina A (cegueira noturna), vitamina D (osteoporose, osteomalácia), vitamina E (alterações neurológicas) e vitamina K (coagulopatia). Como o excesso pode ser tão danoso quanto à deficiência, apenas recomenda-se a reposição após exames laboratoriais comprovatórios.
Xantomas múltiplos podem levar à dor por infiltração dos nervos e podem ser tratados com plasmaférese. A xeroftalmia (olho seco) melhora com colírios que simulam a lágrima, e os fenômenos de Raynaud, com bloqueadores de canais de cálcio.
Deve-se descontinuar o uso de qualquer tipo de droga hepatotóxica e, em casos mais graves, suporte hemodinâmico em unidades de terapia intensiva pode ser necessário.
A administração de N-acetilcisteína pode minimizar a necrose hepática induzida por paracetamol, mas para que esta terapêutica seja eficaz, deve ser introduzida nas primeiras horas, preferencialmente até 8 horas da exposição, com dose inicial de 150 mg/kg, via intravenosa por 15 minutos, seguida de infusão de 50 mg/kg em 500 mL de dextrose a 5% por 4 horas e, a seguir, 100 mg/kg em 1 litro de dextrose a 5% nas próximas 16 horas (totalizando 300 mg/kg em 20 horas).
Pacientes com Icterícia obstrutiva por cálculo com menos de 60 anos de idade são comumente submetidos à desobstrução endoscópica, percutânea ou cirúrgica. A CPRE é o melhor procedimento para os indivíduos idosos com cálculos biliares localizados nas vias biliares e que já foram submetidos à remoção da vesícula biliar. Para esses indivíduos, o índice de sucesso é comparável ao da cirurgia abdominal.
É sempre importante descartar quadro infeccioso grave e a necessidade imediata de antibioticoterapia ou procedimentos de desobstrução.
Os tumores de fígado, vias biliares e pâncreas devem ser descartados em pacientes com Icterícia colestática, pois o prognóstico depende do diagnóstico e de terapêutica precoces.
O transplante hepático é a última alternativa de tratamento para portadores de hepatopatias em estágio avançado. Quando o paciente transplantado continua a consumir álcool de forma abusiva ou quando a causa subjacente não puder ser alterada, o fígado transplantado acabará evoluindo para a cirrose.
Pacientes com Icterícia por hiperbilirrubinemia indireta precisam ser investigados quanto à presença de anemia hemolítica, cujo tratamento também varia de acordo com o fator desencadeante. De maneira geral, orienta-se que:
Transfusões sanguíneas devem ser utilizadas apenas
quando absolutamente necessárias (p.ex., angina e cor anêmico).
Deve-se suspender drogas, descontinuando o uso de
agentes que causam hemólise.
Deve-se administrar ácido fólico porque a hemólise
ativa consome folato e causa megaloblastose.
Corticoides estão indicados anemia hemolítica autoimune.
Imunoglobulina (IgG) pode ser usada em pacientes com anemia hemolítica autoimune, mas apenas alguns pacientes respondem e de forma transitória.
Pode-se repor ferro nos casos de hemólise intravascular severa com hemoglobinúria persistente ocasionando perda substancial de ferro. Entretanto, antes de iniciar a reposição, deve-se avaliar o perfil férrico, principalmente porque o estoque de ferro pode estar elevado em pacientes que requerem terapia transfusional crônica.
Esplenectomia pode ser necessária em alguns tipos de anemia hemolítica, como na esferocitose familiar ou na falência terapêutica das anemias hemolíticas autoimunes.
Nestes casos, a imunização contra agentes capsulados (Haemophilus influenzae e Streptococcus pneumonia) deve ser realizada antes do procedimento e em pacientes com anemia falciforme (autoesplenectomia).
TÓPICOS IMPORTANTES
A Icterícia é um achado frequente na prática médica, que deve sempre ser
valorizado e investigado.
Apresenta diversas etiologias possíveis, muitas delas graves e de conduta
urgente.
O tratamento consiste no tratamento da patologia desencadeante e na
retirada de drogas tóxicas.
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